sábado, 23 de agosto de 2008

"FUGIR DE MIM..."







Acho que ainda não é hoje que vos falo dos meus dias de lazer, passados longe daqui. Ou talvez eles, de algum modo, estejam a motivar este meu post de hoje, embora inconscientemente.

Levantei-me tarde, demasiado tarde talvez (acho que este "jet leg" ainda mexe)...
Levantei-me com uma angústia estranha de estranha saturação de tudo, até de mim própria.
Nunca vos aconteceu pensarem: "hoje ninguém me atura, nem eu mesma..."?
Pois bem, estou tal e qual assim.

Fui ao pequeno almoço/almoço desregrado, do que é e não é, ao Escudeiro, claro, e sentia em mim, crescente, uma "fúria" de "fugir", até de mim própria. Constatei que os meus "interiores" estão fartos dos sítios, das pessoas, do "ar"...

Constatei que precisava urgentemente, como um elástico gasto que está à beira do "esfiapar" final, revolucionar a minha vida, de qualquer jeito.
Queria conhecer terras, mundos, gentes. Queria voltar costas, partir, rumar sem destino por aí. Queria iniciar qualquer coisa de novo, não mofada, com o crer e o querer dos vinte anos...
Mas, dos vinte anos que não tive; porque esses que eu tive, cortaram-me as asas de passarinho que nem chegou a sair do ninho, castradores e acomodados aos injustos padrões familiares e sociais de então.
Aos vinte anos eu estava casada, não fazendo mais que cumprir uma trilha que alguém tinha delineado para mim: estudar, casar, ser mãe...ficar no casulo protector de uma vida certinha e prevista...logo eu, uma "rebelde", sonhadora, insatisfeita, "outsider" de alma, nata...

Hoje, numa idade em que parece nada já poder ser feito, quase nem sonhar (o sr. Gonçalves dizia-me há pouco: "a partir dos trinta e cinco não se pode mais nada"), sinto-me como numa cela de penitenciária a cumprir pena de um crime que não fiz.
Sinto demasiado limitado o meu horizonte, sinto o sol que me aquece, pouco demais para o sol que eu preciso...sinto curta e insignificante a estrada que vislumbro à minha frente, face ao percurso que a minha alma sonha...sinto a claustrofobia das paredes de um quarto, face ao Mundo que eu queria para quarto...sinto penalizante e angustiante o cordel que me amarraram às pernas, face ao impulso com que esbracejo p'ra frente...tal e qual como quando damos braçadas num mar, cuja corrente adversa não nos deixa sair do sítio...

Conheço alguém, ou se calhar muita gente que diria, ao ler-me: "infantilidade, utopia, imaturidade, falta de crescimento, perda da noção das realidades, "filosofices" baratas...enfim...pura "palermada"...
É possível, é mesmo possível...se calhar, é mesmo certo.
Apenas, eu estou "morta de sede" à "porta" de um deserto de que já vejo o início mas nunca o fim e cujas areias me não apetece percorrer...

E faço o quê?

Sento-me e espero que me passe esta "doença" de luta com o sonho?
Sento-me e espero que a "biologia da vida" se encarregue de me tirar a frescura da clarividência de desejos, que por mais loucos, são legítimos?
Sento-me e procuro reenquadrar-me no "figurino" de senhora consentânea com a vida "politicamente correcta" que a sociedade tradicional me destina?
Espero ficar "caquética", tontinha, adormecida, face a uma parede branca onde desfilem as imagens do arquivo dos sonhos e memórias?
Espero pacificamente aquela "casa aconchegante" de repouso abençoado, "merecido e generoso", que um dia, por aí, já está algures a aguardar-me e onde me "espreita" um Alzheimer (esse sim generoso, se conseguir "sacar-me" da memória tudo o que me faça sofrer, se conseguir "deletar" e transformar em écran branco o que a alma e o coração teimarem ir buscar à tal arca das recordações??...

Bom...não vos maço mais com tanto negativismo (ou realismo?) hoje.
Não quero azedar espíritos com a acidez do meu...agora.
Não quero "apertar" a alma de quem consiga rever-se por estas linhas...apertadinha que está a minha, nesta vontade louca com que acordei, tarde e más horas, de "fugir até de mim"...

Anamar

5 comentários:

Anónimo disse...

very cool.

O QUATORZE disse...

Boa Tarde
Parei aqui e não pude deixar de reparar que no íntimo dessa fase negativa, existe uma pessoa inteligente, que depressa começará a acordar com um lindo raiar de sol feliz, a deitar-se com uma Lua prateada cheia com bons sonhos para lhe dar.
Comprimentos
Luís

anamar disse...

Olá Luís
Obrigada...óptimos vaticínios os seus!
Desejo e retribuo votos de que efectivamente possam cumprir-se.
Um abraço
Anamar

Anónimo disse...

Oh!!!!!
eu sei.
eu vivo isso.
O Stau Monteiro no seu "Angústia pró jantar" (ou ao jantar?Já não me lembro)descreveu bem este sentir.
É um sentir de clima tropical: pegajoso, quente e húmido. Muito gravoso se conjugado com asma, o que felizmente nem sempre acontece.
Querida Anamar, não me leve a sério, ainda não fui a banhos...
beijinhos
Lenadoespaçocool

anamar disse...

Lenaspace
Bons mergulhos que isso passa!
Se não passar, fazemos a "trouxa" e...fugimos mesmo...até de nós!
Beijinho
Anamar