terça-feira, 29 de setembro de 2009

"SUN IN MY MORNING"



E de repente aquela particular "curtição" que foi aquela época...
Aqueles anos dourados, de dourados mesmo, e de uma dourada despreocupação de vida. Uma rebeldia natural, porque espontânea, não agressiva, contestatária mas não ofensiva, porque o acreditar era mesmo na paz e no amor, ainda que não tivéssemos vivido Woodstock.

Os Bee Gees revestiam o nosso imaginário de leveza, doce e calma expectativa num futuro que só poderia ser bom.
As mesas da faculdade, de ociosas tardes de tertúlias sem hora, o cigarro saboreado, soltando nos anéis de fumo aquele "frisson" de uma liberdade à revelia de pais, de pressões, de ansiedades...eram elos tecidos e criados ali mesmo, numa certeza que iria ser p'ra toda a vida.

Éramos amigos sem cores, sem slogans, sem rótulos. Éramos amigas, na partilha das confidências ingénuas, de quem pensa que já alcançou um grande lugar no mundo.
Era uma linguagem tão nossa, tão cúmplice, que piamente juraríamos nunca quebrar as teias.
Era aquela exaltação de quem partilha um trilho atapetado de flores amarelas. Era um céu por cima das nossas cabeças, sem borrasca que o atormentasse; eram corações magnânimos, porque não sabíamos ser de outra forma...eram os anos sessenta, eu era jovem, crédula, se calhar tontamente crédula...

Hoje, o sol povoou a minha manhã.
Tenho dias assim. Por nada, de nada...
Dias em que as libélulas passarinham por entre os junquilhos ou os miosótis...por nada, de nada...

São dias em que ninguém me entende e devem achar que sou louca. Dias em que trauteio os Bee Gees, julgo que estou lá atrás, vou apanhando as braçadas de narcisos, só porque são amarelos e lembram o meu sol dos anos sessenta...mas ninguém fala mais a minha linguagem!...

Que coisa!
Onde estão todos? Onde ficaram?
Será que ainda estão no bar da faculdade a resolver aquele maldito integral que não encaixava nos nossos afectos?!
Será que o cinzeiro pejado de beatas, consumiu em si todos os nossos sonhos?!

A Teresa...o Bento...a Olívia...a Lina...o Américo...o Manel...
Todos pais, mães, avós, sozinhos alguns, soltos por aí...muitos!

Tantas cicatrizes a esmo...
Tantas feridas ainda escancaradas!
Os fios prateados traem os rostos que os espelhos já esqueceram de reflectir...
Afinal, os cordelinhos eram ténues e frágeis. Apenas povoavam os corações que eram tontos...como o meu...

Saudade...saudade adocicada, que dói devagarinho, existe mesmo... acabei de descobrir...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Ana:

Tarde como sempre.O que hei-de dizer? Que gosto? Ou não gosto?
A tua escolha é perfeita.
Lembro-me de ver um filme no cinema Avis no bairro mde Alavalade(Luanda) que tinha a musica "Melanie" do album Odessa dos BG..Tinha talvez 13 anos e oscilava entre coisas que hoje não oscilo.Mas lembro-me.E tu fizeste lembrar-me coisas bonitas.

Fernando

anamar disse...

Olá Fernando
Também hoje me senti oscilar entre duas coisas...o silêncio e o comentário com que me presenteias quase sempre.
E engraçado, porque senti um pouco como se tivesse histórias para te ir contando, como se a tua leitura desse lado fosse estimulante ou tornasse a minha escrita dependente de me leres. Não sei se me expliquei direito, mas é como se o "encontro" marcado aqui, fosse aquela nesgazinha de sol que às vezes espreita por entre as nuvens lá em cima.
Obrigada por me comentares...
Ainda bem que te recordei Luanda, treze anos e coisas bonitas...
Um beijinho
Anamar