sexta-feira, 12 de março de 2010

"E DE REPENTE...A PAZ..."


"A tradição já não é o que era"....impingem-nos num anúncio televisivo....sim, não, talvez....
Como não há regra sem excepção, e como desde os meus seis aninhos me ensinaram....a Primavera está aí a despontar (oficialmente a 21 deste mês), e para 21 já falta tão pouco, que o sol veio só lembrar os desmemoriados e fazer acreditar os cépticos, que quer o homem acredite ou não...aí temos a renovação a operar-se bem frente aos nossos olhos, aos nossos narizes....às nossas mãos....

O sol irrompeu, não muito forte, como convinha, num céu todo ele azul límpido, a luz tornou as cores menos esbatidas, os olhos analisam a primeira promessa de borbotos em explosão.... e até os braços se preparam para carregar os primeiros ramos de giestas, de alecrim, de alfazema, de junquilhos, narcisos, ou mesmo de singela macela salpicada de onde em onde de papoilas envergonhadas...
Nos campos já se ouve o cuco, o melro de bico amarelo e a pôpa já carrega gravetos para o futuro ninho...

Ainda ontem houve cataclismos horrorosos cujo ónus muitos choram até hoje, e assim, como que num milagre, tudo acalmou, em tudo se fez paz, e a promessa de que sempre será assim, aí está...feita pela Natureza....que desta forma mostra a insignificância do ser humano face à sua pujança, face à sua real determinação...

Estou a escrever inundada deste sol meio envergonhado da tarde, a minha gaivota emigrou para o seu habitat natural, as areias que recebem o rendilhado da espuma mansa.
Imagino que o mar estará igualmente em paz consigo próprio, imagino os areais pejados de gaivotas recepcionando os barcos recém chegados da faina, e uma espécie de acalmia no coração vai tomando conta, de mansinho, de todo o nosso universo, e se calhar promessas nunca feitas, flutuam pelos ares fora, como dizendo ao ser humano que se pacifique porque inevitavelmente, cada dia é simplesmente uma conta do rosário que nos cabe desfiar até ao fim....

Não posso dizer que estou feliz, esperançada, ansiosa....Não espero nada em particular na minha vida, em mais uma Primavera que se avizinha....mas não posso negar que estes raios serenos de um sol que experimenta descer mansamente no infinito, de alguma forma apaziguaram o meu coração tão encapelado, a minha mente tão conturbada, o meu espírito que está exangue de sangrar...

Há uma espécie de promessa latente, não sei bem do quê....
O ser humano não a sabe ler...só a adivinha...
Os cheiros adocicados de tudo o que vai por aí "estourar", também se anunciam....e sempre irão fazer ver ao homem, que aproxima a sua paleta de cores, daquela que jamais alcançará....
Uma espécie de quietude, de serenidade, de silêncio interior remete cada um de nós, ao estado embrionário do ventre materno...não esquecendo nunca, que a Mãe, é a Natureza, que nos prodigalizará sempre aquilo que ela entender...

Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...

Se a paz te começa a invadir, acredita que todos os que estão à tua volta, também, ficam muito mais em paz....
Deixa a paz entrar na tua vida, assim como o Sol hoje nos invadiu!!!
Gostei muito do texto da mochilinha...comovente!
Bjs grandes!!!