terça-feira, 23 de março de 2010

"É-SE FELIZ SEM SABER!..."





E o Ray era rei do maior reinado que há....a Terra....Era rei do nada e do tudo, naquele rio Martha Brea....
Na sua jangada, orientada e movida com um longo bastão, tinha a Terra por sua conta....
Não se colhe nada que a Terra dê....a Terra quando quer, devolve ao homem o fruto maduro, a raiz pronta a comer...
O Homem tem água, tem aquelas águas mansas navegáveis, tem o trauteio da sua melopeia lenta, tem o marulhar do caudal que se deixa navegar para cima, para baixo, tem as sombras, tem os verdes, as cores dum matiz, que nenhum pincel ninguém nunca soube pintar...tem o canto, o pipilar, o grito que corta o espaço e o silêncio depois...

O Ray tem os seus trajes andrajosos que me me atreveria a dizer que são sempre os mesmos, tem o cabelo enrolado na cabeça como "rasta" que é, dizem os colegas "hierárquicos", que tem um cabelo que arrasta no chão....e fala muito pouco, quase nada....

Que inveja!.... a civilização "incivilizada" "faz" poucos seres tão livres, como o "rasta" Ray da Jamaica...



Vem ver! Como é possível, este por de sol, estes laranjas, esta brisa que convida a desbravar....e a floresta virgem com os cheiros doces e frutados, de tudo o que por lá exista...e não sabemos o que é!...
Os hibiscos, os coralillos mexicanos, as buganvílias, outros e os mesmos verdes....outra e a mesma Terra....o mar rebentando ténue, nos rochedos da beira....

Vê! Que espectáculo! O frescor da tarde a chamar-nos para fora, a curiosidade de tudo ver antes que se quebrasse o sortilégio, a apelar-nos para dentro, a Gros e a Petit Piton, indemovíveies....anos e anos, séculos e séculos....milénios e milénios....e gerações a passar, e a mata a fazer-se, a crescer, indiferentes, os gigantes a contemplar os pigmeus...aos seus pés...
E a água , turquesa, ágata, translúcida....e os peixes, ali, ao alcance duma mão....

Vem ver!.... Amanhã, jé é outro dia, outras cores, outros plúmbeos, laranjas, azuis....porque nós também já não somos os mesmos....

Eu juro, que cheiro aqui e agora, tudo...que vejo aqui e agora, tudo, que oiço aqui e agora, tudo....meu Deus, não parar o tempo é um crime....deixar que a ampulheta continue, grão a grão a correr, um desatino...um atentado...uma provocação!....
Deus me valha...Deus me acuda....mas eu parei lá atrás....no tempo em que era feliz e não sabia!......

Anamar

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