domingo, 27 de julho de 2014

" NADA A FAZER !!!... "




Não sei se todos serão assim, ou se pelo menos as mulheres serão assim.

Cheguei a uma fase da vida em que se me impõem à frente dos olhos, as limitações inerentes ao avanço dos anos.
Ao longo dos tempos,  sempre fui uma "descontraídona",  uma atrevida e uma desafiadora em relação ao seu percurso.
Achava-me invencível, achava que nada me poderia tirar a robustez. , a agilidade, a invencibilidade... e até a dose saudável de loucura, que achava ser-me devida !...
Como por feitio sempre desafiei os dias e os anos, sempre os provoquei, e sempre fui bem mais saudável comparativamente a muitas colegas e amigas da minha faixa etária, sempre vivi descontraída, sempre ousei isto e aquilo em contra-ciclo com as posturas convencionais, sempre desvalorizei  talvez  demasiado inconscientemente, o espectro dos males possíveis ...

Contudo  o  tempo passa, e de repente há um dia em que às vezes, por nada em especial, parece que acordamos para a realidade, e consciencializamos que talvez,  na verdade,  tenhamos vindo  a  perder capacidades,  desenvoltura,  sagacidade ... E  não  achamos  graça !...
Deixámos de ser escorreitos física e mentalmente, deixámos de ter aquele entusiasmo, de ter aquela disponibilidade de espírito que nos permitia arriscar, achar graça a tantas coisas, avançar p'ra tantas outras, ainda com o desejo de aventura, e com a adrenalina de outros tempos.
Ficámos comodistas, arreigados a uma vida demasiado morna, a disposição para o risco ainda que calculado desapareceu, os medos instalam-se, a noção de fragilidade e vulnerabilidade agiganta-se, a convicção de limitação também, o fantasma do perigo, do susto da incapacidade se instalar, fica premente, e premeia-nos com ansiedades e pânicos, injustificáveis muitas vezes !...

Dou por mim a ter cuidados redobrados, na rua, com as quedas ( parece-me sentença certa, uma fractura de perna, se cair ... Não faço por menos ... )
Dou por mim a verificar desgostosamente, como fica difícil amarinhar a um banco, p'ra acertar o relógio de parede, e a ter medo de subir...Até porque as pernas viraram chumbo ... com os diabos !...
Dou por mim a constatar como a cabeça parece perra, e a linguagem pouco oleada, no falar e no escrever ... eu, que sempre fui desembaraçada para o efeito ... E afianço que começo a ter sinais de Alzheimer incipiente ...
Dou por mim, a ver com desgosto, que objectivamente não vejo ... ou seja, se calhar tenho que me habituar a viver num "aquário" de água turva, porque contornos bem nítidos, olhar acutilante, preciso e límpido ... talvez nunca mais !...
Que ouvir ... bom, se olhar o mexer dos lábios do meu interlocutor, é mais fácil ... Senão ... os sons misturam-se todos, e ao meu tímpano poucos chegam definidos ...
Dou por mim, dei pela primeira vez este ano, na viagem que sozinha fiz recentemente para o estrangeiro, como habitualmente, a apavorar-me na eventualidade de lá poder adoecer, na inventada hipótese de um acidente, de um ferimento ( eu, que sempre achei com alguma inconsciência, é verdade, que não haveria de acontecer logo a mim, e que o isolamento e a distância não eram problema ... Afinal o mundo é logo ali, tudo ao virar da esquina !...
Dou por mim, em última análise, a evitar fazer exames médicos de rotina, porque ... receio o resultado, e mais o que "eles" dêem em inventar !... (rsrsrs)

Bolas !  Isto é velhice ?  É degenerescência mental ?  É estupidez mesmo ???...

Acho que é apenas mais um capítulo da velha guerra sem tréguas, travada entre mim e o avanço dos anos e da vida.
É a inaceitação da inevitabilidade da progressão inelutável do tempo ...
É a  raiva  de estimação contra o ciclo da existência, que me parece sem sentido, sem lógica, sem explicação e sem razão ...
É a  sensação azeda de ser a tal peça de xadrês movida sem regras ( e sem que ninguém mas tenha ensinado, algum dia ) ...
De ser o tal actor largado no palco onde uma peça se desenrola, e a quem ninguém teve sequer a gentileza de  explicar  qual  o  enredo ... menos  ainda  se  queria  participar  da  mesma ...
De ser a marioneta mexida a cordéis, aleatoriamente, ao sabor dos dedos caprichosos de quem tenta dar-lhe vida ...
É a velha sensação, de que alguém prepotentemente  goza, ou perdida ou indiferentemente, com os peõezitos por aqui largados ( nada muito importante, afinal ... ), mera carne para canhão lançada em cenário de guerra ... E que cada um  invente, que se safe o melhor que possa ... que se "amanhe" dentro do contexto ... que descortine como sobreviver !...

E depois há os que sabem fazê-lo, e os que não, os pragmáticos e os que não, os que estrebucham e os que não, os que se importam, e os que se indiferentizam e seguem ... amodorradamente ... anestesiadamente ... apaticamente, sem grandes ondas, turbulências ou convulsões ... navegando à bolina ... acomodados que são !...
E os que não !!!...

É demasiado rocambolesco e de mau gosto tudo isto.
É um "nonsense" sem tamanho, um filme de humor negro de mau gosto, um sketche dos Monty Python em fim de carreira, que não consegue sequer, arrancar-me  já,  uma  só  derradeira gargalhada !!!...

Anamar

6 comentários:

Anónimo disse...

Anamar: podes remar contra a corrente, uma vez, duas,... sempre.

Tu sabes, todos sabemos: Não somos eternos. Temos "prazo de validade". Mas, até ao último dia, nunca seremos "inválidos".

Seremos sempre um pouco diferentes, com o passar dos dias, mas, muito iguais a tantos outros que viveram vidas tão longas como a nossa.

Não te esgotes. Aceita-te como és. Viemos cá para ser felizes, como condição para podermos fazer felizes aqueles de quem mais gostamos.

anamar disse...

É, é verdade mesmo, e eu sei-o.

Não o aceito, não irei aceitá-lo. Sou inconformada e teimosamente inconformista.

Privilegio a qualidade à quantidade.
O ser humano deveria manter o seu esplendor até ao fim, ainda que esse fim encurtasse o caminho a andar.

Depois seria um clique, um apagar de luz, um correr de estores.
O actor a abandonar a cena no auge da carreira, quando valesse a pena recordar o seu legado, e não quando caísse da tripeça.
Quando infundisse respeito e admiração ... Não pena, comiseração !
"As árvores a morrerem de pé" ... como morrem, de facto, as que as deixam ... dando sombra, flores e frutos até ao fim ...

Enfim, utopias, vãs filosofias, prosápia, imodéstias ... estupidez, pobreza de espírito ... arrrogância ...

Talvez Paul, talvez !
Mas rebelde, rebelde sou cá de dentro, obstinada também... irrealista...sonhadora...sei lá !
Resultará o cansaço, como você prevê. O esgotamento, de dar murros inglórios em ponta de faca ... eu sei...

Desculpe toda esta parvoeira. Mero desabafo... assim, como eu sou exactamente!

Um abraço e obrigada por ter comentado

Anamar

Anónimo disse...

Ena pa,
:-):-):-Ao ler estes comentarios, fiquei baralhado, sera que alguem me podera esclarecer?
Estao a falar de velhos e velhas decrepitos?
Ou sera, que falam daquilo que ninguem deseja, como envelhecer?
Mas afinal V. EXAS. sao"" jovens ""de que idades ?
Desculpem a minha curiosidade.
assina um VELHO.

anamar disse...

Não ainda .... ahahah
Decrépitos, ainda não !
Eu falo sobretudo da falta de "pontos cardeais" na Vida... ou seja, na aleatoriedade com que se faz, obedecendo a algo que desconheço e que demasiadas vezes não me faz sentido.
Não a entendo, nem ao seu traçado, nem os seus objectivos.

E nestas coisas, eu sempre gosto de saber com que linhas me coso... :) :)

Enfim, velhice também abordo, envelhecimento idem, idem ... e a mágoa de saber que se envelhece perante a "afronta" de uma decrepitude anunciada ...

Isso sim, me incomoda !

Obrigada "VELHO", pelo seu comentário. ( talvez não tão velho assim...acredito !)

Anamar

Anónimo disse...

Obrigado pelo seu esclarecimento, assino por baixo, quando afirma, que gosta de saber com o que pode contar.Mas a sabedoria da idade ensinou me que nos dias de hoje, ate isso e muito relativo. Quanto a minha idade, sou muito velho no corpo mas jovem,penso na cabeca.

Anónimo disse...
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