sexta-feira, 5 de setembro de 2014

" SOBREVIVE - SE ... "



A "lei" é a da sobrevivência ... pouco mais !

Nos dias que correm, vivem-se tempos de indefinição, de incerteza, de ansiedade, e por isso, de angústia.
Acho que não se safa ninguém.
Nem mesmo as crianças, que não mais têm  vidas descontraídas e despreocupadas, que as poupem a stresses acrescidos.
De facto, lançadas no emaranhado dos tempos, apanhadas pelo vórtice da vida insegura dos próprios pais, também elas já percebem e vivenciam a necessidade de sobreviver ... um dia de cada vez.
Também elas já percepcionam a aleatoriedade da existência diária, com escassa margem de segurança.

Os jovens, e os entalados na charneira dos trinta e muitos - quarenta e poucos anos, levam em grande maioria, uma vida atípica, maioritariamente de insatisfação, e quase sem alternativas possíveis.
A nível profissional os horizontes são sufocantes, a precariedade acentua-se, os caminhos outros, são inexistentes, a insegurança  é total.
A porta aberta ao mundo é a única saída que ainda deixa ver paisagem lá fora.  E por isso se emigra, em desespero de causa.  Porque verdadeiramente ninguém desejaria trocar a sua realidade conhecida e teoricamente segura enquanto porto de abrigo,  o seu nicho de conforto, pelo menos umbilicalmente afectivo, o seu ar e o seu chão ... pelo desconhecido, pela solidão e pela dureza da integração, onde quer que seja, ainda que seja só nos primeiros tempos, e ainda que represente melhoria significativa da realidade de vida.
O quebrar compulsivo das amarras, a violência do empurrão para a água, pode fazer do nadador, um náufrago, não esqueçamos !

A nível pessoal e familiar as indefinições persistem.  A dificuldade de equilíbrio e estabilização económica, a precariedade e insegurança do mercado de trabalho, adiam quase "sine die" a tomada de decisões de fundo, como seja por exemplo o estabelecimento de uma relação tradicional, a assumpção de filhos nessa relação, a aposta na aquisição de uma habitação para o casal, ou mesmo outras responsabilidades a longo prazo.
Porque nunca se sabe o que  esse "longo prazo" pode acarretar nas vidas das pessoas.

Ou então, as vidas das pessoas assentes diariamente em alicerces frágeis,  implantados em terrenos movediços ou "minados", não chegam sequer a resistir e a tomar consistência.
E assim, os ainda jovens oscilam entre experiências emocionalmente  falhadas, inconseguidas e desestruturantes, e desinvestimentos afectivos ( condenados que estão a sucumbir a curto prazo ). Abandonam  sonhos e projectos de vidas familiares que parecem inexequíveis, e fazem  escolhas  assumidas de vidas de solidão, com  o inerente desencanto, mágoa, frustração e estrago pessoal muitas vezes irreversível.
É isso que  confidenciam existir, é essa a linguagem que partilham entre amigos, quando se encontram e falam das suas experiências pessoais ...
Arrastam-se sem um vislumbre de futuro, eles, que teoricamente terão à  frente  ainda tanto futuro !...
E não vivem ... sobrevivem apenas !...

Os da minha faixa etária vivem "assombrados" e angustiados, num susto permanente com este mar encapelado em que são obrigados a navegar.
Criados e formados em parâmetros bem conhecidos e definidos, com regras e princípios com perenidade de segurança, com valores aprendidos e exercidos sem mutabilidade expectável, com uma previsão de futuro calma e tranquila, são agora obrigados a "mexer-se" em novos códigos, em padrões diversos, a aderir a novos "modus vivendi" que não identificam, a pactuar com novas e desconhecidas realidades ...

Não se sentem confortáveis nos novos fatos que têm que envergar, não se encaixam nos novos figurinos que os rodeiam, com regras que não entendem ... e já não têm estaleca nem saúde,  para enfrentar  a cinetose a que o sobe e desce das marés os sujeita ...
Desesperançados, cansados e com um caminho já precário e fracamente promissor a percorrer, também não vivem ... sobrevivem no cinzentismo e na brisa dos dias !...

Enquanto isto, depois de cem anos sobre a Primeira Grande Guerra e setenta e cinco sobre a  Segunda, a Europa vê de novo, meio adormecida e esquecida, parece, acender-se um rastilho ameaçador mais a leste ( não querendo entender que é num rastilho que começam os grandes incêndios ) ...

Enquanto isto, o Estado Islâmico, insano e bárbaro, assassino e inconsciente, avança em loucura fundamentalista e destruidora, numa ameaça bem clara, galopante, terrífica, imprevisível e de alcance incomensurável, sobre o ocidente ...

Enquanto isto, o ébola alastra e devasta descontroladamente, dizima impiedosamente os mais pobres dos pobres ... os países miseráveis de África ... e revela a impotência, a real incapacidade, a fraca aposta e a ainda clara  ignorância do Homem,  face aos cataclismos naturais que se abatem sobre o Mundo ...

Estranhos dias estes !...
O planeta Terra está,  de facto, a ficar um lugar pouco recomendável e esquisito para se sobreviver ... que direi para viver ?!...

Anamar

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