terça-feira, 5 de janeiro de 2016

" AINDA HAVERÁ PRIMAVERAS ! "






As festas terminaram, felizmente !
Esta coisa de terem que se viver por calendário, sejam ou não adversas as condições momentâneas de cada um, de alguma forma, irrita-me.
Mas tudo bem, passaram, e aquele desiderato que se ouve cada vez mais na boca das pessoas ... "oxalá chegue Janeiro, rápido", atingiu-se.
A "síndrome das festas" que parece já ser fenómeno com autoridade comprovada, estará ultrapassada.

A vida segue, desenrola-se dia após dia.  O tempo atmosférico não está lá essas coisas ... e desenvolve-se um inevitável clima introspectivo, de análise e maturação, que se prende com tudo e com nada, com o que nos rodeia e acontece, com esta apregoada época de balanço ...
De facto, rigorosamente como os saldos, também em época certa e segura, lá vem essa onda de "balança" ... essa onda de balança e de balanço, em que somos atirados, queiramos ou não, para alguma reflexão mais pausada, lenta, degustada, ao ritmo da pausa que o tempo das festas nos concedeu.

E reflectimos ...
Eu reflicto ... sobre como cheguei aqui, sobre a que sou aqui e agora, moldada, definida, caldeada em tudo o que tem rodeado a minha existência nos últimos tempos.
Sim, porque eu considero que "os últimos tempos", têm de facto sido, p'ra mim, uma bigorna de crescimento, uma bitola de aferição de limites, de capacidades, de resistência. Uma prova com barreira de fogo !
É hora de me perguntar o porquê de ver a vida, hoje, com outros olhos.
É hora de parar e testar o meu grau de exigência real, com tudo e com todos.
É hora de definir claramente para mim própria, o que quero, o que recuso, no que aposto, o que exijo.
E é hora de perceber que o tempo urge ... e que é hora de ser "hora" ...

Não dá p'ra cair no marasmo, aparentemente cómodo. Não dá p'ra me indiferentizar mais, perante o que me resta no caminho.
Chega de rodar em rotunda, chega de encolher de ombros, chega de indecisões no percurso.
Seja qual for, tem que ser escolhido um ... claro, aberto, franco.
Um caminho com luz, desimpedido de silvas que me tolham os passos, sem excessos de vegetação que o cerrem, um caminho objectivo, sem hesitações ... decidido ...
Porque é "inverno", o tempo urge, e não se compadece com  perdas pelas veredas ...

Hoje pressinto-me uma pessoa mais dura, mais amarga, menos esperançosa.
Hoje sinto-me com tolerância zero face a muitas situações com que me confronto. Que sou obrigada a decidir. Que sou impelida a escolher.
Sinto que talvez já não seja qualquer vendaval que me derruba. Porque escolei as intempéries ... muito !
E de alguma forma encasulei-me numa carapaça, que foi obrigada a ser mais e mais, resistente.
Hoje, já poucas coisas me surpreendem. Menos ainda, me rasteiram !
Cresci. Tardiamente talvez. Demasiado tardiamente !
E todo o crescimento se acompanha de dores. Dores no corpo, mas sobretudo na alma e no coração !
Dores de amputação ... algumas.   Irreversíveis ... outras.
Dores de desilusões e decepções ... em cima de expectativas e sonhos.
Dores de perdas e dores de saudade.   De tanta coisa ... mas sobretudo saudade da inocência que ficou na curva da estrada, saudade dos investimentos esperançosos apostados em dias de amanhã ... saudades sobretudo da pessoa que eu fui ... Uma criança num corpo e numa alma de mulher !

Desajeitadamente, cheguei aqui.
Hoje, não sei exactamente o que AINDA quero.  Mas sei claramente o que JÁ não quero !
Hoje sei o que me devo, por uma questão de isenção e justiça,  p'ra comigo mesma !
Hoje sei que não tenho o direito de maltratar-me.  Não tenho o direito de me julgar com severidade excessiva, além daquela com que a Vida já me julga !
Sei que se me empenhar, desbravarei caminhos.
Sei que se acreditar, ainda terei Primaveras à minha espera. Penso que talvez o mereça !...

Hoje,  sei que tenho direito a ser AINDA feliz !...

Anamar

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