quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

" AVULSAS ... "




A tarde caíu melancolicamente lá p'ras mesmas bandas ...
Talvez um pouco mais para a esquerda, lembrando que é Inverno e o sol anda mais baixo.  Sim, porque hoje ele apareceu, aqueceu e iluminou, embora tímido, embora "envergonhado", como "soi dizer-se".
Envergonhado ? Por que se envergonharia o sol, se sempre aparece, mesmo depois do cinzento dos dias, da negrura da vida ?
Por que deveria envergonhar-se, se a chuva deu tréguas e a placidez de uma tarde, eu diria outonal, nos aquietou a alma ?!...

Ao meu lado, Vangelis, tão aconchegante quanto a tarde que desceu ... embala.  Embala e transporta o pensamento para lá de um horizonte que recusa fechar-me o sonho.
Na ramagem do plátano despido, um pássaro em viagem de regresso, mostra uma silhueta já negra, recortada no escurecimento do céu ... E lança na aragem, as últimas notas do dia.

No Facebook, ainda aberta, a página da Mané ... colega, conterrânea, amiga  de  meninice, do Liceu, naquele berço que não me sai da alma ... lá longe, no Alentejo  ...
Aberta  ainda... porque ironicamente, a vida não lhe deu tempo de fechá-la, seguramente ...
Tão cedo se foi, tão cedo partiu, que a porta ficou entreaberta ...

Ironicamente também, porque estava destinado, parece,  que muita vida haveria de correr desde então, e que só nos "encontraríamos" tantos anos depois, que já não houvesse  tempo  de  nos encontrarmos ...
Assim ... para trocarmos  apenas  aquele  abraço !...

Fica a memória.  Sempre nos sobram as memórias, as recordações ... a saudade.  Que é o que fica, depois de tudo o que parte !
A precariedade da vida, que poucas vezes aceitamos considerar ... como "imortais" que quase nos julgamos ...

E depois, é simplesmente assim : uma tarde que cai  melancólica,  num dia de Outono, feito presente em tempos de Inverno ... Vangelis que nos transporta pelo éter, além do momento, na perenidade do ser ... um pássaro nocturno que despede o dia ... Évora, lá longe, com um céu escuro  pontilhado de estrelas, no recorte da Sé, no interior do nosso  coração  ... e frio, aquele frio gélido que nos percorre as veias e nos garante o chão que pisamos, como nosso ... além da eternidade !...

Anamar

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