segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

" IN MEMORIAM "



Já no seu finzinho,  2015 reservar-me-ia uma inesquecível surpresa.
Assim, do nada, caminhávamos já para a consoada, e mercê das virtualidades das tecnologias que por vezes nos adoçam a vida, chamaram-me de novo à "turma" ...
Eu explico ...

A Rita Laranjeira, um dos poucos nomes que ainda me fazia sentido na memória recuada, alguém de quem tenho fotos num álbum em casa dos meus pais, minha parceira, colega de turma e amiga escolhida então, pelos meus 12 / 13 anos no Liceu Nacional de Évora ... "encontrou-me" por aqui !

Saí de Évora ainda não tinha 13 anos.
Nessa minha cidade de coração, fiz a primária e ingressei no Liceu, que frequentei até ao fim do 3º ano.
Os meus pais rumaram então a Lisboa, e claro, o meu destino abandonou o Alentejo.
Abandonou fisicamente apenas, porque na alma e no coração, sempre continuei ligada a esse chão.
Essas pedras, essas sombras, esse céu que paira sobre Évora e todas as recordações que persistiram, da minha meninice e início da adolescência, continuaram presas à cidade que me viu crescer ... apesar dos laços familiares, por lá, serem inexistentes.
De facto, sempre que rumo ao Alentejo, os "meus sítios" são romagem obrigatória para que aquiete o espírito, numa viagem eternamente gratificante de recolhimento e afecto !
E sempre me emociono, deambulando por ali ... buscando o eco dos meus passos nas calçadas, nas arcadas, nas travessas e alcárcovas ... Não tem jeito !...

Foi como se um baú tivesse então sido reaberto ...
A poeira foi dissipando, as lembranças aclarando aos poucos, os nomes associados a rostos difusos, corporizando-os vagamente ...
E como numa busca espeleológica, fui desencantando pedaços, fragmentos, histórias, peças de um puzzle que foi retomando forma e conteúdo.
E fiquei extremamente feliz !
Não era uma viagem no tempo, mas foi uma viagem na minha história !

Agora, a Rita associou-me a este vosso / nosso Grupo, dos Antigos Alunos do Liceu Nacional de Évora,  de que não quero mais perder-me.
Farei questão que ele me redima no caminho transcurso, farei questão que ele reabilite os afectos esparsos, farei questão que ele me conduza outra vez à "família" ...

Foi também, através dele, que tomei conhecimento de algo muito triste.  Alguma coisa que me parece um pouco "contranatura" ... um pouco "surreal" ... injusta ... quase incompreensível ...
A Mané, a Mané Rocha à época, curiosamente um dos nomes que me permaneceram, um rosto que com algum detalhe me ficou na mente ... foi embora !
Partiu antes da hora ! Deixou, antes de tempo, o lugar vazio na sala de aula !
Na sala, e nos claustros, e na fonte de pedra onde corríamos no jogo desvairado do agarra, e no campo de jogos, onde o "mata" nos afogueava os rostos e nos transpirava a alma ... até que a sineta tocava ...
A Mané, aquela menina de olhos grandes, de franja desenhada, de faces sempre coradas, foi colega escolhida, uma amiguinha de coração, fraternalmente eleita por mim ... nesses recuados tempos ...
Integrava aqueles que se escolhem, porque se escolhem ... porque é assim ... porque a vida tem razões que desconhecemos ...
Busquei os seus olhos na fotografia aqui exibida, já que a franja e a cor do rosto também haviam partido ... a destempo, sei-o bem !

Resta-me esperar que esteja onde estiver, a Mané esteja em paz !
Resta-me endereçar um abraço de profundo pesar, a toda a família da Mané Rocha, sendo certo que ela permanecerá para sempre nos corações de todos nós !...

Anamar

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