quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

" E ALEPPO AQUI TÃO PERTO !... "




E Aleppo aqui tão perto !...

Porque afinal o Mundo é pequeno, demasiado pequeno ... bem o sabemos.  E o troar das bombas nos rebentamentos, em noites intermináveis e tenebrosas, chega-nos aqui.  Bate-nos ao coração.  Toca-nos o espírito e desassossega-o, e intranquiliza-o com as danças medonhas dos monstros e da morte esvoaçante.
A escuridão pesada e inimaginável  por nós, os presenteados do destino, assombra os que não dormem, não comem e não vivem,  lá ... talvez à espera do derradeiro momento ... quiçá o do alívio, em cada estrondo que atordoa.

As ruínas do que foi um local de se viver, as portas e as janelas esventradas no que ainda resiste em pé, são fantasmas terríficos de dedos acusadores  ao Mundo do século XXI, que parece adormecido, demasiado indiferente e distante.
Entretanto, como soldadinhos fantoches em guerras de fazer de conta, os civis, homens, mulheres mas sobretudo crianças, indefesos, vivem o horror da incerteza, do medo, do pânico paralisante de bicho acoado em ratoeira armada por loucos em desvario.
E tombam ... tombam a cada hora, a cada minuto, sem saberem por que tombam ...  Sem saberem por que vale tão pouco a sua condição humana !...

Bana relata, na sua inocência de menina de sete anos, o que vê, o que ouve ... ao que assiste, com o pavor de quem não sabe se no momento seguinte ainda o poderá fazer ...
E suplica que rezem, que todos unam preces  para que o Inferno páre, para que o pesadelo termine... para que as bombas parem de cair, arrastando consigo tudo e todos.
O pai foi ferido, perdeu o seu melhor amigo e muitas outras crianças como ela ... só que mais desafortunadas.  Velhos, homens, mulheres com crianças ao cólo, perambulam sem destino por entre escombros que escondem a desgraça.  Não há mais refúgios, não há mais esconderijos !  Só a sorte de cada um ditará o seu destino.
Em desespero, tenta chamar-se a atenção hipócrita do ocidente, das instituições e dos países preponderantes, para o genocídio que acontece a cada dia.
Fazem-se vídeos nas redes sociais. Usam-se os recursos das novas tecnologias para denunciar, sensibilizar e pedir socorro, em despedidas pungentes, de pessoas conscientes de que essas serão as suas derradeiras palavras ao Mundo.

Aleppo é uma cidade fantasma.  Aleppo é um pesadelo tornado realidade, onde a vida é aleatória, onde o sonho não cabe mais, onde a busca da sobrevivência é o único horizonte para os que resistem.

Enquanto isso, o Mundo faz compras de Natal !
Atropela-se, num afã alucinado de consumir, consumir, consumir ... na promoção de um evento cada vez mais desumanizado, esvaziado, alienado.
As cidades iluminam-se profusamente.  As mesas irão rechear-se.  Os risos, a alegria e a abundância  não deixam espaço para outras preocupações ou pensamentos mais altruístas e fraternos.
As consciências repousarão sem demasiados sobressaltos ... tenho a certeza !

Lá, a cidade também se ilumina, por cada explosão acontecida.
Nas mesas desmanteladas, de lares que já o não são, haverá comida, haverá leite ... sequer pão ?
Os choros, os gritos lancinantes, a dor e o desespero alastrarão por entre as sombras agigantadas, até que um silêncio de morte desça ... e com ele traga a paz para os que deixaram de sofrer !

Assim é o Natal  ...
Assim é o Natal também em Aleppo ... aqui tão perto !...



Anamar

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