quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

" A FRONTEIRA DIFUSA "




O ser humano é um ser profundamente complexo.  Da vertente física à vertente emocional e psicológica, o emaranhado atinge tais dimensões, que nem o próprio indivíduo se pode vangloriar de se conhecer a si mesmo, quiçá gerir-se nas mais diversas situações.
Os vectores confluentes atingem tais proporções de disparidade, que transformam essa complexidade inevitável, em algo ciclopicamente inalcançável.

Além da genética, que irremissivelmente  acompanha o ADN de cada um, os factores pessoais, sociais, familiares, morais e éticos, são responsáveis pelo puzzle que se cria drasticamente, maioritariamente à nossa revelia, .
Desde que nascemos e começámos a tomar consciência do nosso "eu" multifacetado e hermético, que o nosso trabalho de construção pessoal se inicia de uma forma mais ou menos agressiva e / ou harmoniosa, por forma a inserir o indivíduo na realidade que habita.  Inicia-se todo um ajuste de integração pessoal, mais ou menos fácil, mais ou menos doloroso, dependendo  do enquadramento no qual ele deve viver.
As exigências pessoais, familiares, sociais, profissionais, éticas, morais e todas as que tendem à assimilação pelos nossos pares, no mundo em que vivemos, com a menor turbulência possível, submetem-nos a um trabalho interior exaustivo, constante e desperto em permanência.

O Homem confronta-se com a necessidade de corresponder satisfatoriamente, nas relações pessoais e em toda a interacção com os grupos com que diariamente priva.
Deve responder perante si próprio, munindo-se de todas as ferramentas necessárias para os diversos desafios, sejam individuais, sejam com terceiros.  E não é absolutamente fácil, agilizar todos os recursos de que pode e deve dispor.
Vai enfrentar os factores endógenos, mas também todos os exógenos, canalizados pela realidade que o cerca.  E são das mais variadas origens.

Deve responder adequadamente na família, em todas as relações afectivas com parceiros, pais, irmãos, filhos ... gerindo-as, após gerir-se emocionalmente de forma sapiente e equilibrada.
Exigem-se-lhe por isso, padrões de equilíbrio, objectividade, determinação, afectividade, firmeza, diálogo e toda uma panóplia de outros valores expectáveis, e nos quais a família espera rever-se.

Deve responder a nível social com padrões de comportamento exemplares, determinados e enquadrados, de acordo com as regras instituídas pelas sociedades que habita.
São padrões inevitável e ancestralmente normalizados, quase sempre reféns de valores, de molduras éticas e morais, incontornáveis, e dos quais o Homem não pode abstrair ou distanciar-se.
A vertente profissional é também, e acentuadamente nos tempos actuais, determinante da conduta humana.  A competição a qualquer preço, o arrivismo, o oportunismo, as injustiças, a desonestidade e os processos menos transparentes, por um lado ... a desenfreada necessidade de obtenção de competências, como exigência de valorização, crescimento e progressão  ( como deverá ser ), por outro ... associadas às dificuldades objectivas de uma sociedade agressiva, desumanizada e gerida por valores de ter e não de ser ... empurram o ser humano para situações de stress, angústia, ansiedade, dúvidas e frustrações às quais nem sempre tem condições reais e emocionais de resposta.
Adoece-se o corpo e adoece-se a alma !

Deve responder à luz da ética que lhe impõe valores de justiça, igualdade e liberdade, respeitando-se e aos seus pares.  Estes, são valores universais !  Evitam a discriminação e o preconceito.
Aliás, falar de ética é falar de valores.  É sobretudo falar de valores colectivos. Valores sociais e culturais que foram construídos e sedimentados.
Os valores morais são, como sabemos, os conceitos, juízos e pensamentos tidos como certos ou errados, numa sociedade.  São-nos  transmitidos nos primeiros anos de vida, através do convívio familiar.
Com o passar do tempo, aperfeiçoamo-los, a partir das observações e experiências que a vida social nos impõe.
Divergem de sociedade para sociedade e de grupo social para grupo social, alicerçam-se na cultura, tradição, quotidiano e educação de um determinado povo.
Os valores éticos são mais abrangentes.  Focam-se nas características compreendidas como essenciais, para o melhor modo de viver ou agir socialmente, dum modo geral.

Há ainda valores religiosos condicionantes do ser e do estar.  Não vou, contudo, debruçar-me nesta vertente.

O ser humano é um ser profundamente complexo ... comecei por dizer.
A mente humana é um mecanismo inexpugnável !
Parece óbvio, à luz deste exaustivo e intrincado labirinto que expus.  Assim, difícil e quase impossível será, com a pressão que diariamente nos assalta,  com o bombardeamento a que somos sujeitos, o alcance e manutenção de uma sanidade mental satisfatória.
O Homem é extremamente frágil, e consequentemente, cada vez mais difusa parece ser a fronteira entre a dita "normalidade" e o "outro lado" !...

Anamar

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