sexta-feira, 26 de julho de 2019

" LA COTICA "






De Samaná eu trago tudo ...

Das águas transparentes, de um azul turquesa espantoso na sua limpidez, com temperaturas da ordem dos 27 / 28 graus, ao silêncio do coqueiral, sussurrante na brisa que perpassa ...
Do céu, ora azul translúcido, ora com nuvens encasteladas promissoras de chuvadas tropicais abençoadas no calor que se faz ...
Do marulhar silencioso de um mar que apenas desmaia mansamente na areia fina ...
Dos peixes multicores que habitam os afloramentos coralíneos, às aves que pipilam na mata, com estridências e linguagens que só ali se escutam ...
Do matraquear dos pica-paus ao romper do dia  nos troncos dos coqueiros e nos palmeirais, ao galrejar da cotica ou cotorra como é localmente conhecido o papagaio verde, endémico e quase extinto ...
Da beleza abençoada de uma natureza pura e não moldada ainda pelo Homem, que nos absorve, nos assimila e nos transmite a maior sensação de liberdade que alguma vez experimentei ...
Dos cheiros inconfundíveis e característicos, à beleza esmagadora dos flamboyants em flor, como se de uma cabeleira rútila flamejante se tratasse ...
Dos manguezais emaranhados, ora em terra seca, ora em banhos de maré subida ...
Dos ritmos "calientes" afro-caribenhos dos merengues e das bachatas, num povo que tem a alegria nas veias e a sensualidade à flor da pele ...

Tudo, eu trago de Samaná ... na memória, nos olhos, no coração e na alma, que para mim são tudo poisos diferentes ...

Mas, sem dúvida, os acordares sem custo pelas cinco e meia, ainda com a noite meio fechada e uma aurora apenas espreitando timidamente ...
O chegar ao areal vazio e silencioso àquela hora, onde apenas três ou quatro "adoradores do sol" como eu, o aguardavam ...
A vivência daquela mística que é a magia do nascer do astro-rei - uns dias subindo no céu por detrás de nuvens que desenhavam no firmamento castelos encantados ... a outros em que apenas esfregava os olhos ensonados lá longe, por cima da linha de um horizonte límpido, como se acabasse de sair de um banho doce ...
A caminhada diária dos quilómetros destinados, na babugem da rebentação, enquanto o sol ainda o permitia porque era manso e não castigava ...
E depois, pela tardinha, reverenciá-lo de novo, outra vez por entre laranjas e dormires afogueados ... até que aquela bola imensa se transformasse lentamente numa calote luminosa apenas, e depois num último ponto aceso, de novo no horizonte acolhedor ... só que agora, do outro lado ...
Tudo eu trago de Samaná !

A terra dos taínos, que Colombo no século XV, desvendou ao mundo, tem de seu nome La Hispaniola ... República Dominicana desde 1844, ano em que se proclamou país livre e soberano ... é uma ilha do Caribe, entre o Atlântico e o Mar das Caraíbas, constituindo juntamente com outras ilhas, o conhecido anel das Antilhas.'
Nela, Samaná é uma península nordestina.
E tal como os taínos ofereciam aos espanhóis dominadores, coticas ou cotorras em sinal de amizade e hospitalidade, Samaná, a mim, ofereceu-me tudo de coração ... uma vez mais !!!

Anamar




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