quinta-feira, 3 de novembro de 2022

" REFLECTINDO ..."



 

A hora mudou e com ela mudou definitivamente o rosto da estação que vivemos.  O sol põe-se às cinco e meia, o céu está feio, cinzento, ameaçador de chuva, que aliás tem caído com intensidade e alguma frequência.
Verdade que precisávamos dela como garante de sobrevivência, digamos, porque a seca longa e severa fazia perigar o futuro de plantas, animais e do próprio ser humano, alterando o nosso quotidiano com restrições sérias na utilização da água mesmo para as necessidades básicas, sobretudo no interior do país.

Assim, anoitece mais cedo e o nosso fototropismo vira-nos consequentemente mais e mais para dentro de nós mesmos, impulsiona-nos mais e mais para um natural intimismo, uma sonolência parda e mansa, como se a Natureza e tudo à nossa volta fechasse para hibernação ... para paragem, em que tudo parece desacelerar ...
Há um silêncio que impera, uma cumplicidade connosco mesmos que nos conduz a uma introspeção ainda mais profunda, num convite à análise e à reflexão.
Estou mais ou menos nesse registo.  Revisito tempos, pessoas, momentos ... passeio-me pelos pensamentos e pelas memórias, interrogo as dúvidas, procuro respostas ... frustro-me com a ausência das mesmas ...
Há alturas na vida em que o ser humano parece desconhecer razões óbvias, sentimentos inquestionáveis, palavras insofismáveis ... em que o avesso de cada um emerge, submergindo até o que nunca seria submergível ...
E há alturas na vida em que consequentemente interrogamos o que pareceria  desnecessário  ser interrogado,  porque  era  assumido,  certo,  verdadeiro,  seguro ... intocável !  Não era matéria passível de ser duvidosa ...
Tal como há valores nas nossas existências que não nos faz sentido questionar, porque são valores assumidos integrantes da nossa essência, "ad eternum" norteadores dos nossos caminhos, algo que contra chuvas e tempestades temos como inabalável. Algo que á a nossa verdade, escrita, assimilada, entranhada debaixo da pele.
Não nos interrogamos por exemplo sobre o amor filial, sobre o amor paternal ... não nos passa pela cabeça pôr em dúvida os laços afectivos no seio duma família estruturada, ainda que nem tudo sejam águas mansas ou os ventos soprem de feição, sempre ...
É que são sentimentos tão testados já ao longo das nossas existências, valores tão postos à prova já tantas vezes ... barreiras vencidas a duras penas ... mas ainda assim ultrapassadas ... que, pelo menos a mim repugna sequer colocar como frágeis, quanto mais duvidosos ...
Os escolhos podem ferir os pés ... às vezes ... mas não há lugar para sequer o questionarmos ...
Como "soi dizer-se" ... estamos lá e não "abrimos" !...

Mas o ser humano é distinto dos seus pares, cada um tem a personalidade, o estar, o sentir e consequentemente o pensar e o agir diferente do outro.  E por tudo isso eu convivo muito mal com posicionamentos que não entendo, com posturas que me violentam, me desgastam e me esgotam.  Com posturas que me confrontam em julgamentos descabidos, avaliações sumárias que injustiçam aquilo que eu sou, que sempre fui e serei ... como se devesse ocupar um qualquer banco dos réus, como se o que defendo, digo e reafirmo, não valesse nada, como se eu fosse uma qualquer "contadora de histórias"...

E devendo já ser imune a tudo isto, ao contrário magoo-me profundamente, sinto-me defraudada, afasto-me e desaposto. 
E o cansaço é o meu sinal exterior de abandono !... 

Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...

Adorei, adorei, adorei e a estimada amiga , sabe bem o porquê!
O vinho novo ou a água pé como se diz na região saloia, acompanha sempre com as castanhas do S. Martinho ou com a doçura temporária da época.
Para uma excelente entendedora, meia palavra basta.
Para os “cuscos” aconselho verem as séries do Fox Crime.
Jonas