Já fui uma devota seguidora das redes sociais. Umas com um cariz, outras com outros, enfim, passava longas horas no computador sendo que a primeira coisa que fazia ao chegar a casa era abrir o que p'ra mim era uma verdadeira janela para o mundo.
Dominando minimamente as novas tecnologias com que tive contacto, como a maioria das pessoas da minha geração, tarde e a más horas, portanto com profundo desconhecimento da maioria das artimanhas, riscos e subterfúgios que as mesmas envolvem, elas surgiram pra mim como uma brutal novidade e potencialidades fantásticas.
Hoje percebendo ter corrido riscos absolutamente desnecessários e gratuitos, adorava, e fazia-o até às tantas da manhã, percorrer todos os trilhos, becos e avenidas que à minha disposição se ofereciam ao simples clicar de umas teclas.
Desde Facebooks, Linkedins, Taggeds, Instagrams, Twitters, Whatsapp e se calhar outras redes cujo tempo já deletou, por todas passeei , criei perfis, fiz conhecimentos, estabeleci diálogos, conversei com o anonimato que o pequeno écran teoricamente nos garante ...
Tive sorte, reconheço hoje com deslumbramento exaurido, novidade satisfeita, entusiasmo e paciência consumidos, que tive mesmo muita sorte. As pessoas com quem me cruzei são pessoas que até hoje nunca foram desabonatórias ou aproveitadoras da minha ingenuidade. Ao contrário, tornei-me amiga de umas e próxima de outras, sem dano ou beliscadura.
Enfim, foram outros tempos, outros anos, outros contextos, bem mais de uma década transcorrida !
Hoje, muitos dias nem o computador ligo, paciência não abunda, e as cores da paleta que me circunda, já são mais a preto e branco do que as luminosas cores do arco-íris de antanho !
Velhice ... penso que esse é o real diagnóstico ! Mas tenho pena que assim seja, garanto. Estava mais viva, então !!!
Mas este foi apenas o preâmbulo do que verdadeiramente queria abordar.
Eu constato, provavelmente todos constatamos que dos contactos de conhecidos, amigos ou colegas simplesmente, que compunham o conjunto dos nossos interlocutores, surgem dois, três, quatro... eventualmente mais, que já não estão entre nós.
Pensando por exemplo no Facebook, uma das mais utilizadas plataformas digitais em Portugal e talvez, além do Whatsapp, a que mais privilegia o contacto das pessoas da minha faixa etária e consequentemente a aproximação das mesmas diariamente, assim de repente, sem precisar de grande esforço de memória poderia referir rapidamente mais de cinco colegas de toda a vida cujos perfis por aqui andam e que infelizmente já nos deixaram.
Há pouco tentei estabelecer ligação telefónica com um contacto do Whatsapp, professor como eu, duma escola tanto quanto sei da zona da Serra da Estrela, que nunca tive o prazer de conhecer pessoalmente mas que me mereceu o carinho e o apreço de alguém que me tratou sempre bem e com consideração, uma pessoa com grande espírito de humor e que aos poucos fiquei a saber que a sua saúde perigava mercê de uma doença grave que estava a agudizar-se a passos largos.
Entretanto ele foi silenciando qualquer contacto, e apesar das minhas tentativas de saber o que estará ou se terá passado, tudo tem sido em vão. Tentei em desespero de causa o telefone, que também não foi atendido...
Trata-se de perfis que a família não soube ou teve a possibilidade de encerrar, e isso incomoda-me profundamente.
No fundo, servem para que lembremos a nossa irrelevância na vida, que continua dia após dia exactamente da mesma forma, estejamos ou não por aqui !
É um facto que só seremos esquecidos, ou dito de outra forma, só deixaremos verdadeiramente de existir, quando deixarmos de ocupar um espacinho que seja, na memória de alguém.
O comum dos mortais, aquele que não deixou nenhuma pégada existencial por razão em especial, "planará" por cá, no máximo por duas ou três gerações ... não mais !...
Lembraremos os pais, avós, tios, primos, colegas de profissão, aquele que se cruzava connosco na praceta e de quem demos falta no outro dia ... o vizinho do prédio, alguém que partilhou a vida connosco ! Os nossos contemporâneos apenas aguardam, como nós, lugar na fila ... Apenas!...
E isto é a vida, afinal !
Anamar
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