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segunda-feira, 4 de agosto de 2008

"O MAIS É NADA..."

Vou ausentar-me algum tempo, na fruição de uns dias de férias.

Vou para outros horizontes, na busca de outro sol, outra lua, outro mar...
na busca de outras gentes, sensações, vivências...
na vontade de "pintar" a vida de outras cores...
na ânsia de segurar o sorriso, perseguir o sonho, mergulhar nos desejos, tactear "caminhos"...agarrar a esperança...

Vou deixar que outro vento, ao passar-me no rosto, me leve os beijos dos que ficaram...mesmo por pouco tempo...
Vou tentar enxergar em cada estrela, os meus amigos, os meus amores, o fim das "histórias"...as minhas e as que cruzei...

Vou finalmente rodear-me de rosas, amar, beber e calar....

simplesmente porque... "O mais é nada..."

Na minha despedida...para vocês, com um beijo.....o MESTRE!







































Anamar

quarta-feira, 16 de julho de 2008

"AQUELE AMANHECER"





Talvez já não estivesse "no programa" vir aqui hoje...e talvez não estivesse, porque as horas são as que são e eu gostava de me sentir "gente normal"...ou seja...estar recolhida "a penates" como "mandaria o figurino", que é como quem diz, a razoabilidade...até porque hoje me sinto particularmente cansada.

Mas eis senão que, em conversa com um amigo, me ocorreu num daqueles "repentes" "desaustinados" e incontroláveis, a recordação de uma madrugada inesquecível na Tailândia...tão inesquecível, que há pouco, ao narrar-lha, ela me "desfilou" com a definição de plasma topo de gama...

Foi uma madrugada de Agosto, um Agosto quente e húmido, como os Agostos tropicais o são...exactamente com o calor a "espraiar-se" pela noite afora, com a humidade a tomar conta da madrugada...
Chiang Rai, norte da Tailândia e um quarto de hotel num sétimo piso bem sobranceiro ao Rio Kok.
Uma insónia desbragada, um quarto, que p'la solidão que sempre faz parte da minha bagagem, de repente se tornou sufocante, apesar do ar condicionado, da cama macia e confortável, do requinte emprestado por aquelas cinco estrelas de hotel...
Pulei da cama, bem de mansinho, corri a portada da varanda e sentei-me ali, deixando que o silêncio, a escuridão e a brisa leve me devassassem...
Abri as narinas e sorvi os cheiros adocicados que sempre emanam de um Equador bem presente, olhei o veludo que ainda era o firmamento àquela hora, ouvi o resfolegar manso da correnteza, lá em baixo, ainda mal divisada pelo apenas anúncio da madrugada...

E fui ficando...quieta, com medo de estragar aquela harmonia por ali semeada...e fui vendo o laranja subir no céu, o sol começar a espreguiçar-se e a incendiar o Kok de plúmbeo a fogo...
Os sons dos primeiros pássaros matinais chegavam, anunciando que tudo estava a recomeçar...

"Empanturrei-me" da emoção que aquele equilíbrio me transmitia...deixei-me inundar até ao âmago pela paz anunciada do dia que se avizinhava...
O fresco da manhã violava-me o corpo semi despido e a alma...totalmente nua...
O nascer e o por do sol são dois acontecimentos que sempre me emocionam, que sempre me são e fazem sentir diferente, embora possam parecer iguais...Dois momentos que sempre me parecem de recomeço e términus...Dois momentos que por grandiosos, me são sublimes pela perfeição, pelo equilíbrio, pela noção da minha insignificância e pequenez que me traduzem...
E aquele, em particular, (por todas as razões do mundo), foi-me tactuagem na alma...está cá até hoje e acredito que até sempre, com a nitidez total da bruma, dos cheiros, dos sons, das cores...até com a sensação nítida daquele arrepiozinho que me atravessava, com a brisa da manhã a despontar...

Hoje, como então...

E hoje como então, com as lágrimas a rolarem-me pelo rosto...quando o sol era já sol sobre o Rio Kok e me encontrou absorta e meio adormecida na contemplação daquela varanda...





Anamar

quarta-feira, 9 de julho de 2008

"UM P DE PARAÍSO..."








Há dias tive o privilégio de poder juntar mais um pequeno retalho de Portugal a locais que me são muito caros...Visitei e maravilhei-me uma outra vez com a aldeia do Piódão.

Não tem um M aposto ao seu nome, este local, como Marvão, Monsanto ou Monsaraz que me estão debaixo da pele...mas poderia ter "M(s)" de mítico, mágico, memorável...meu...

Já não visitava o Piódão vai p'ra lá de tempo, mas foi com a mesma surpresa de olhos esbugalhados que ele se me revelou, nas faldas da Serra do Açor, numa cova entre montanhas, verdadeira tela cubista de Picasso.
Num fim de semana ensolarado, de temperaturas estivais finalmente, fui descendo os caminhos estreitos e sinuosos que serpenteiam serra afora, até que o negro do xisto e da ardósia deitou a pincelada que faltava em meio de uma paleta multicolor de giestas, tojos, carquejas ou urzes.
A Serra do Açor, em toda a sua pujança, desvendava horizontes sem horizonte, com a Estrela em fundo...
As encostas íngremes e rochosas ornavam-se de onde em onde com os maciços verdes de pinheiros, carvalhos ou castanheiros...as quelhadas ou patamares cultivados, eram sustentáculos de protecção às intempéries invernosas.
Ainda se ouvem chocalhos nas encostas do Açor...os abrigos de montanha, com pedra sobre pedra e alguns telhados esventrados, lembram que por ali, a pastorícia ainda é vida.
Os córregos que despencam em cascatas , em vizinhança perfeita com os zimbros, os azevinhos ou o medronho com as suas bagas coloridas, completam o idílico da paisagem revestindo de musgos as pedras por onde descem!
A aldeia, de época medieval, ostenta, no meio do negro das ardósias de ruas, degraus e telhados, o branco (que é mais branco ainda p'lo contraste, qual pedrada no charco) da igreja de Nossa Senhora da Conceição datada do século XVII e restaurada em fins do século XIX.

E depois há as suas gentes...os que ficaram...porque o Piódão é terra madrasta!
Esquecida pelo tempo, parece-nos uma jóia adormecida, onde pouco lugar há para as gerações mais novas.
Restam os velhos, que enfrentam com estoicismo o agreste da invernia e da vida...Nos seus rostos, os sulcos cavados lembram os que serpenteiam pelas encostas da serra. O silêncio talvez lhes povoe a alma, enquanto espreitam a última réstea de sol que a montanha ainda não impediu de descer, bebendo o seu licor de castanha, de zimbro ou de medronho e mel...

Pode parecer que o Piódão tem no seu nome um P de "purgatório"...mas eu tenho para mim, que o seu P é na verdade um P de "PARAÍSO" ...

Anamar

Nota: algumas das fotos utilizadas foram retiradas da NET

quinta-feira, 3 de julho de 2008

"NO TERRITÓRIO DOS ABANDONADOS"







Estou reganhando o hábito das "velhas" madrugadas,agora que o ano lectivo se aproxima do seu fim.
Considerando que mais umas férias de Verão estão à porta, curiosamente pego hoje num tema que me foi suscitado, quando num consultório médico lia distraidamente uma revista, para queimar aquele insuportável quanto inevitável tempo de espera.
Lia tão distraidamente, que vos juro não saber qual a revista donde no fim da leitura, me senti compelida a arrancar esta página, pelo que ela me tocou, pelo "clique" que ela fez na minha cabeça, pela capacidade com que, no fim da sua leitura eu fui chamada à realidade...e que realidade!!...
Tratava-se de um artigo de opinião, escrito por uma jornalista, de seu nome Dulce Garcia, que não conheço, que felicito e a quem antecipadamente peço as minhas desculpas pela ousadia de a transcrever integralmente...mas foi superior a mim, o rigor da escrita, a clareza da mesma, a sensibilidade que transparece...
Depois , tecerei alguns humildes comentários, que por certo, nada acrescentarão...apenas pela razão que, como verão, aqui está realmente TUDO dito...

"É preciso ter sorte p'ra ser cão. Muita sorte. Faz lembrar a história da família - a gente não a escolhe, e queira Deus que nos saia uma decente na rifa.
O mundo civilizado abre a boca de indignação, quando os energúmenos abandonam o rafeiro para ir de férias para Punta Cana. Talvez não saibam que os bancos dos hospitais são transformados em hotéis para velhos (é assim que eles os tratam) quando as famílias decidem viajar nas vésperas de Natal ou de fim de ano. Toda a gente sabe que não se leva cães nem velhos para ambientes festivos.
Há uma relação curiosa entre os animais e os velhos. São eles que gastam as tardes à volta de estátuas de bronze, em praças raiadas de sol, a atirar milho aos pombos. E coleccionam gatos vadios, que atraem aos parapeitos das janelas com cadáveres de sardinha.
Uns e outros compartilham o território da rejeição e do esquecimento numa sociedade que não pode esperar. É tudo urgente: ganhar bem, ser feliz, ir de férias para o estrangeiro , e, se possível, aparecer pelo menos uma vez na televisão, para inveja dos amigos e vizinhos (quando ainda se tem tempo para os primeiros e se conhece pelo menos um dos segundos).
Há tantas coisas que vão morrer por culpa desta urgência!
A mim não me surpreende que um dono dedicado se transforme num velhaco quando começam a acenar-lhe com dois bilhetes de avião para Cuba. Abandonar um animal não há-de ser assim tão diferente de virar as costas a uma pessoa. E todos os dias há gente deitada fora sem uma explicação. Explicar demora tempo, e quem é que pode dar-se ao luxo de o gastar assim? Talvez o problema dos animais e dos velhos seja o de uma inconfessável inveja: eles parecem ter tempo para tudo. E nós não."


Acho este texto notável, não só por tocar numa "ferida" que nos envergonha a todos e se prende obviamente com o abandono desumano, selvático e sistemático dos animais que connosco dividem espaços, vidas, tristezas e alegrias, por cada época de férias que se avizinha, mas porque triste e lamentavelmente ele estabelece um paralelismo que tão bem conhecemos com o destino dos nossos velhos...

Numa sociedade desumanizada, de solidões persistentes, de indiferenças e insensibilidades extremas, de valores perdidos e de "comunicações" interrompidas entre gerações, institui-se de dia para dia a constituição de mundos como árvores sem raízes, prédios sem alicerces, muros sem escoras, barcos sem âncoras...
Num território que é de facto o da rejeição, seres sem capacidade reivindicativa, seres que "empecilham", estorvam... parecem partilhar os mesmos silêncios, a mesma indiferença, o mesmo abandono...porque, o mesmo incómodo!!...

Que será feito de netos de avós, que já não aprendem a fazer "picots" em lencinhos, a confeccionar vestidos de bonecas, a tecer as primeiras malhas de "liga e meia", a ouvir as mesmas histórias sem tempos e pressas nos bancos de jardim?!
Que será feito de gerações que não têm tempo para conhecer a charrua, o arado, a grade...ou ouvir contar à lareira, o que era "varejar" a azeitona, "mondar" a seara, malhar na eira, pisar a uva?!
Como será não ter sequer ideia do que era ir descalço p'ra escola que ficava "lá p'ra trás do sol posto" levando uma "bucha" p'ra merenda... como era o tempo em que uma sardinha tinha que ser dividida, ou descobrir que o avô aprendeu a juntar por si, as letras do jornal lá da aldeia e que o fazia quando era uma candeia que lhe "alumiava" o papel?!
E não conhecer as canções cantadas ao Menino Jesus, ou as Janeiras, de porta em porta, para se "ganharem" alvíssaras e guloseimas apetecíveis?!
Como será e quanto vai "custar" aos nossos filhos, aos filhos dos nossos filhos, a este mundo "robotizado" e sem "fios de afecto" visíveis, este "descartar" da riqueza ancestral, numa sociedade descaracterizada, trucidante e em que os relógios parecem precisar galopar quarenta e oito em cada vinte e quatro horas na vida das pessoas??!!...


Anamar