quarta-feira, 9 de julho de 2008

"UM P DE PARAÍSO..."








Há dias tive o privilégio de poder juntar mais um pequeno retalho de Portugal a locais que me são muito caros...Visitei e maravilhei-me uma outra vez com a aldeia do Piódão.

Não tem um M aposto ao seu nome, este local, como Marvão, Monsanto ou Monsaraz que me estão debaixo da pele...mas poderia ter "M(s)" de mítico, mágico, memorável...meu...

Já não visitava o Piódão vai p'ra lá de tempo, mas foi com a mesma surpresa de olhos esbugalhados que ele se me revelou, nas faldas da Serra do Açor, numa cova entre montanhas, verdadeira tela cubista de Picasso.
Num fim de semana ensolarado, de temperaturas estivais finalmente, fui descendo os caminhos estreitos e sinuosos que serpenteiam serra afora, até que o negro do xisto e da ardósia deitou a pincelada que faltava em meio de uma paleta multicolor de giestas, tojos, carquejas ou urzes.
A Serra do Açor, em toda a sua pujança, desvendava horizontes sem horizonte, com a Estrela em fundo...
As encostas íngremes e rochosas ornavam-se de onde em onde com os maciços verdes de pinheiros, carvalhos ou castanheiros...as quelhadas ou patamares cultivados, eram sustentáculos de protecção às intempéries invernosas.
Ainda se ouvem chocalhos nas encostas do Açor...os abrigos de montanha, com pedra sobre pedra e alguns telhados esventrados, lembram que por ali, a pastorícia ainda é vida.
Os córregos que despencam em cascatas , em vizinhança perfeita com os zimbros, os azevinhos ou o medronho com as suas bagas coloridas, completam o idílico da paisagem revestindo de musgos as pedras por onde descem!
A aldeia, de época medieval, ostenta, no meio do negro das ardósias de ruas, degraus e telhados, o branco (que é mais branco ainda p'lo contraste, qual pedrada no charco) da igreja de Nossa Senhora da Conceição datada do século XVII e restaurada em fins do século XIX.

E depois há as suas gentes...os que ficaram...porque o Piódão é terra madrasta!
Esquecida pelo tempo, parece-nos uma jóia adormecida, onde pouco lugar há para as gerações mais novas.
Restam os velhos, que enfrentam com estoicismo o agreste da invernia e da vida...Nos seus rostos, os sulcos cavados lembram os que serpenteiam pelas encostas da serra. O silêncio talvez lhes povoe a alma, enquanto espreitam a última réstea de sol que a montanha ainda não impediu de descer, bebendo o seu licor de castanha, de zimbro ou de medronho e mel...

Pode parecer que o Piódão tem no seu nome um P de "purgatório"...mas eu tenho para mim, que o seu P é na verdade um P de "PARAÍSO" ...

Anamar

Nota: algumas das fotos utilizadas foram retiradas da NET

2 comentários:

Anónimo disse...

Já ouvi falar muitas vezes de Piódão. Com a tua descrição consegui ficar a conhecê-la um pouquinho e, apesar de ser um animal absolutamente citadino, fiquei com vontade de ir até lá, embora seja alérgica a melgas, mosquitos e mais e mais....
Obrigada por me teres proporcionado esta passeata.
Lena...spaces

anamar disse...

Podes ter a certeza que não ficarás defraudada se fores.
Eu também sou alérgica a melgas, mosquitos (desses e dos "outros"...rsrsrs)...mas não imaginas o que as chamadas "aldeias históricas" e outros locais ainda quase inóspitos nos proporcionam de calma, beleza, paz....
Vai por mim...
Bj
Anamar