quarta-feira, 16 de julho de 2008

"AQUELE AMANHECER"





Talvez já não estivesse "no programa" vir aqui hoje...e talvez não estivesse, porque as horas são as que são e eu gostava de me sentir "gente normal"...ou seja...estar recolhida "a penates" como "mandaria o figurino", que é como quem diz, a razoabilidade...até porque hoje me sinto particularmente cansada.

Mas eis senão que, em conversa com um amigo, me ocorreu num daqueles "repentes" "desaustinados" e incontroláveis, a recordação de uma madrugada inesquecível na Tailândia...tão inesquecível, que há pouco, ao narrar-lha, ela me "desfilou" com a definição de plasma topo de gama...

Foi uma madrugada de Agosto, um Agosto quente e húmido, como os Agostos tropicais o são...exactamente com o calor a "espraiar-se" pela noite afora, com a humidade a tomar conta da madrugada...
Chiang Rai, norte da Tailândia e um quarto de hotel num sétimo piso bem sobranceiro ao Rio Kok.
Uma insónia desbragada, um quarto, que p'la solidão que sempre faz parte da minha bagagem, de repente se tornou sufocante, apesar do ar condicionado, da cama macia e confortável, do requinte emprestado por aquelas cinco estrelas de hotel...
Pulei da cama, bem de mansinho, corri a portada da varanda e sentei-me ali, deixando que o silêncio, a escuridão e a brisa leve me devassassem...
Abri as narinas e sorvi os cheiros adocicados que sempre emanam de um Equador bem presente, olhei o veludo que ainda era o firmamento àquela hora, ouvi o resfolegar manso da correnteza, lá em baixo, ainda mal divisada pelo apenas anúncio da madrugada...

E fui ficando...quieta, com medo de estragar aquela harmonia por ali semeada...e fui vendo o laranja subir no céu, o sol começar a espreguiçar-se e a incendiar o Kok de plúmbeo a fogo...
Os sons dos primeiros pássaros matinais chegavam, anunciando que tudo estava a recomeçar...

"Empanturrei-me" da emoção que aquele equilíbrio me transmitia...deixei-me inundar até ao âmago pela paz anunciada do dia que se avizinhava...
O fresco da manhã violava-me o corpo semi despido e a alma...totalmente nua...
O nascer e o por do sol são dois acontecimentos que sempre me emocionam, que sempre me são e fazem sentir diferente, embora possam parecer iguais...Dois momentos que sempre me parecem de recomeço e términus...Dois momentos que por grandiosos, me são sublimes pela perfeição, pelo equilíbrio, pela noção da minha insignificância e pequenez que me traduzem...
E aquele, em particular, (por todas as razões do mundo), foi-me tactuagem na alma...está cá até hoje e acredito que até sempre, com a nitidez total da bruma, dos cheiros, dos sons, das cores...até com a sensação nítida daquele arrepiozinho que me atravessava, com a brisa da manhã a despontar...

Hoje, como então...

E hoje como então, com as lágrimas a rolarem-me pelo rosto...quando o sol era já sol sobre o Rio Kok e me encontrou absorta e meio adormecida na contemplação daquela varanda...





Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Haverá mais amanheceres que valerão muitíssimo mais ....
Bjo F

anamar disse...

Quem sabe??!!...
Gostaria talvez de acreditar...
Bjo
Anamar