quinta-feira, 20 de novembro de 2008

"EU TIVE UM SONHO" - CARTA ABERTA AO "MEU PRESIDENTE"














































As imagens que aqui deixei, constituem um powerpoint que circula, recebi, e mexeu comigo.
Resultou de uma montagem feita por Maria Fernandes, a quem agradeço o excelente trabalho realizado, e a quem peço antecipadas desculpas por o ter utilizado como "fundo" para este pequeno "desabafo".
Presumo que ela não se importará, porque a presumo colega de luta e de coragem, também...

Mexeu comigo e teve a capacidade de me levar às lágrimas, coisa que, por estes motivos já não me acontecia há para lá de tempo...
Seca, dura, talvez um pouco amorfa de cansada, talvez um pouco indiferente de revoltada, desde os meus tempos de jovem que o peso duma ignomínia sentida na pele e no coração, me não tocava tanto, quanto a que vivo actualmente.

Embrenhei-me na luta académica de 69...
Lembro no peito, horas em surdina, dentro de armários, na velhinha Faculdade de Ciências da Rua da Escola Politécnica, com a polícia a invadir e a devassar tudo e todos, a confrontar e a deter todos quantos acreditavam e lutavam por ideais...
Sinto ainda aquelas faixas de luto, dependuradas das grades dos portões de uma escola encerrada a cadeado...

Recordo os tempos imemoriais do fascismo, quando a GNR a cavalo, fazia recuar pelas escadas da estação do Rossio, em atropelo, os cidadãos deste país, homens e mulheres, depois de um dia de trabalho, cansados de prepotências, arbitrariedades, injustiças e violência...

Recordo tudo isto com muita nitidez, e juraria para mim mesma, que depois daqueles cravos terem descido às ruas e aos nossos corações, neste país que foi de Abril, não seria mais possível chorar-se outra vez por raiva, ódio, impotência...

Juraria...

A minha escola tem um presidente...
Quando ele chegou àquela casa, era um indistinto professor da sua área, defendendo os mesmos sonhos, lutando com as mesmas armas, dando tudo o que de melhor nele teria. Um, entre os seus pares...
Era quase um puto...se tivermos em conta, que eu há muito já fazia parte da "mobília"...

Acabou por dar continuidade, eleito que foi, ao trabalho árduo desenvolvido por uma mulher incontornável, na história daquela instituição.
Uma mulher que deu o sangue, o suor e só não deu as lágrimas, porque para ela, aquele trabalho nunca foi de lágrimas...
porque para ela, o sacrifício de vida pessoal e familiar, era simplesmente uma missão de causa única, que havia que cumprir...
Deixou, por tudo isso, marca, nome, trabalho feito...

O "meu presidente" também já deu seguramente dedicação, trabalho, anos de sacrifícios...vida!
Tenho por ele, o maior respeito nesse contexto. Certamente ser-lhe-ia mais cómodo, debandar em retirada, nos tempos actuais.
O "meu presidente" corre, corre muito, mas não debanda.
Encarna a figura do que "quando é...já foi"...ou seja, a sua disponibilidade raramente se compadece com uma paragem solicitada por alguém...raramente se compadece no esbanjamento de um sorriso cúmplice por colegas, ou mesmo na troca calma (por uma vez na vida), de opiniões, ideias, preocupações, com alguém que por acaso o cruzou no caminho...

Deixou de ser "aquele puto" de então, porque os anos e certamente tão intenso labor, lhe trouxeram ao rosto e ao cabelo os tais sinais inglórios da sua passagem.
Continua ainda assim, a ser o "homem da mota", e se não for herói por mais nenhuma causa, é-o pelo menos, no estoicismo com que diariamente enfrenta p'ra lá e p'ra cá aquela infernal IC19.
Admiro-o, repito...admiro-o como se admira um verdadeiro "kamicase"...só ainda não consegui descortinar qual o ideal que move o "meu presidente"...

Aliás, aqui há algum tempo atrás, realizou, "ele", uma Reunião Geral de Professores, na qual (entre outras tomadas de posição que me preocuparam, porque o senti só, prepotente e autista), teve uma finalização bombástica que "arrasou" comigo...

Desde então, eu, que tenho estado um pouco "na moita" a "deixá-los poisar", no meio de tanta conflitualidade, controvérsia, expectativa, preocupação e insegurança...comecei mesmo a ficar seriamente estupefacta, abalada, alarmada...

É que, oiço o "meu presidente" realçar claramente a todo um corpo docente que o elegeu, que não estando ali para lesar ninguém e a tal se comprometia, o melhor mesmo seria desenvolver, de acordo com determinações da tutela, o modelo da avaliação por ela criada...até porque, "não teria particulares vocações quixotescas para herói de nenhuma causa, não estando disposto, portanto, a arriscar a sua vida pessoal e profissional"!!...

Foi aí que eu pensei, como é que o "meu presidente" me vai fazer uma escolha destas!!!...
E perguntei-me, onde é que aquele "puto" que eu conhecera anos antes ali mesmo, naquela escola, tinha despido e deixado esquecida a "camisola" ??!!...

E continuei a divagar, enquanto lá à frente, na mesa da Assembleia "ele" SE ouvia...

Então este homem ainda não se deu conta dos tempos que correm??!!...

Então, ainda não percebeu que não é ele que tem que defender toda uma classe de colegas, sérios, honestos, dedicados, trabalhadores...mas seriam essas fileiras de gente, que se cerrariam e o protegeriam numa tomada de posição vertical, inequívoca e em uníssono, sem se saber onde começa e acaba toda uma escola??!!...

Então não se sente (como profissional que se dá até à exaustão), magoado, vilipendiado, humilhado, desrespeitado??!!...

E não sente solidariedade magoada com quantos já abandonaram a embarcação antes da hora, porque simplesmente tinham coluna vertebral e não puderam mais pactuar??!!...

E não percebe que carreirismos e aproveitamentos sempre grassam, quando as crises, o medo, a suspeição e a sacanagem se instalam??!!...

E que a HORA é de dizer basta, é de firmeza e coragem e jamais de cobardia??!!...

E que o "timoneiro" é o responsável no comando dos destinos de quantos nele acreditaram, puseram fé e esperaram??!!...

E que permitir que nos maltratem gratuitamente e sem limite...
e que ignorar que nos calem com ameaças de fantasmas instalados, sem resistência e sem recusa...é uma forma de conivência inqualificável, porque ignora o espírito de classe, ignora o interesse dos seus pares, ignora que na verdade "somos todos iguais...braços dados ou não"??!!...



E resolvi, ou melhor, este mail e este poema tiveram o mérito de resolver, que hoje, aqui, madrugada dentro, eu "contaria" ao "meu presidente" o meu sonho sonhado:

"VEM...VAMOS EMBORA...ESPERAR NÃO É SABER...
QUEM SABE, FAZ A HORA, NÃO ESPERA ACONTECER!!!..."

Anamar

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

"COM UMA SÓ FOLHA DE PAPEL..."

Pelos vistos com uma só folha de papel...e muita imaginação, pode "criar-se" o MUNDO!...

Deixo, sem mais comentários, trabalhos de recorte de artistas que dispensam outras referências. São...CURIOSIDADES!!!

Concurso no Hirshorn Modern Art Gallery

A regra era simples, cada artista apenas podia usar uma única folha de papel..















Anamar

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

"DE MIM PARA MIM..."

Um dos maiores sinais da perda da inocência e do desencanto que os anos nos vão deixando, é quando num dia de aniversário não conseguimos ver que o sol está mais brilhante, as cores mais vivas e as pessoas particularmente simpáticas.

Quando ao abrir da pestana, naquele meio termo entre o dormir e o acordar, quando ainda nem bem sabemos de que terra somos, onde estamos, que dia é aquele que ora começa, nenhum "clique" se faz de imediato no nosso espírito...então é porque decididamente, já estamos em fase não de fazer, mas de "desfazer" anos...

Quando criança, esse dia é esperado semanas antes, "catrapiscado" vezes sem conta no calendário.
Lembra-se aos professores, aos amiguinhos da escola, a todos a quem se pode.
Imagina-se, com "taquicardia" infantil, a festinha, a festa ou a "festona" que sonhámos e que talvez tenhamos a sorte nos venha a ser prodigalizada.
Já fizemos saber com a devida antecedência, as prendinhas que muito gostaríamos de ganhar...e aquele dia nunca mais chega!! E pior ainda...ocorre só uma vez no ano!!...

Passados anos, quando "teenagers" algo inconscientes, já no tempo em que se combina com meio mundo uma enorme farra, num dos espaços da cidade, mais badalados ( e em que cada um paga o seu), o aniversário passa por um convívio, na mesma mesa primeiro, na mesma pista de dança depois, de copo na mão e no balanço determinado pelo DJ da noite.
Entre dois cigarros, entre a cumplicidade da madrugada, fazem-se e desfazem-se "casos", trocam-se carícias aquecidas pelos copos já consumidos, curte-se o som e o entorpecimento dos corpos, para na manhã seguinte, já não lembrarmos bem como foi...
Já não é mais o tempo do "croquetinho" ou da sandwiche de queijo, da mousse de chocolate ou da baba de camelo... Já não se recebem grandes prendas, e nem é isso que importa, mas sim beijos, abraços, risos, gargalhadas...e uma espécie de promessa circulante de que a vida é mesmo fixe, está todinha à nossa espera e é "bué" importante curti-la...

A "ampulheta" vai sempre andando, ou melhor, vai sempre esvaziando, implacável...e chega o tempo em que a "roda" traz até nós, em mãos pequeninas, a prendinha comprada obviamente pelo pai, e o cartãozinho garatujado com traços imperceptíveis ( a lápis de cor ou feltro), que nós juramos ser lindo e cuja mensagem também juramos entender...ou melhor, "ler" perfeitamente...
Vêm os abracinhos, os beijinhos, e aqueles "penduricalhos" sempre no nosso pescoço..."Parabéns mamã..."
Estamos felizes...Afinal eles, os anos, ainda não são muitos...

E calendários passam sobre calendários...

Dos bilhetinhos com casinhas, sóis de olhos e boca, árvores maiores que as casinhas e corações ainda maiores que tudo...das prendinhas compradas à custa de austera poupança na parca semanada...começam a chegar aqueles aniversários em que no jantar do dia, estão, a prestigiar a mãe, os amigos de longa data, que na circunstância trazem filhos da idade dos nossos.
Passam a noite na outra sala, a conversar outras conversas, a ouvir outra música, enquanto os adultos rodeiam a mesa farta dos doces e bolos, que atravessam as primeiras horas da madrugada.
A "malta", de quando em vez, faz uma "incursão "estratégica" de reabastecimento na sala de jantar, ouve restos das conversas entediantes dos adultos (os casos da actualidade, as últimas da política, do cinema, as preocupações com os novos e os velhos) e regressa à outra sala, até que seja dada ordem de partida, ou seja, o alívio para aquela grande "seca"...
Os anos ainda não pesam, há muito percurso ainda a fazer, não há muitos sobressaltos no horizonte...
A vida decorre de acordo com o "figurino" correcto...

Hoje...a maior parte não está por perto, pelas mais variadas razões.
A maior delas, os percursos "enviesados" que cada um decidiu para si.
Depois, há os que não estão nem estarão nunca mais, pela inevitabilidade do destino.

São os tais dias, em que acordamos no meio do édredon e não temos nenhuma urgência em pular da cama.
Afinal, aquele é só mais um dia, entre os trezentos e sessenta e cinco transcursos...
Não há festa à espera, não há cartõezinhos do colégio, não há prendas surpresa em mãos pequeninas, não há discoteca que nos valha, não há amigos com filhos à roda da mesa dos doces...
Só há tudo isto, em "cassetes" e "cassetes" de recordações...

Aliás...estou a ser tremendamente injusta...
A roda rodou outra vez e girou e girou...e acabamos recebendo um "chamado" urgente de vozinhas outra vez não muito perceptíveis ( com um "ponto" em fundo que dita o discurso)..."Olá...Parabéns vóvó!..."

Aí então, apesar de serem já nove da noite, recordamos que o sol esteve mais brilhante neste dia...as cores estiveram bem mais vivas...e particularmente as pessoas...bom...essas, estiveram de facto super-simpáticas connosco...e não tínhamos lembrado porquê!!!...

Anamar

No dia de hoje, de mim para mim, um presente muito especial..."Maria Bethânia, a diva...e Fernando Pessoa...o Mestre"...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

"A ROLETA DO DESTINO"




Para tudo precisamos ter sorte neste Mundo...

Para se nascer no sítio certo, para não se estar no sítio errado na hora errada, para se ser cão, gato, pessoa...sei lá..

A "estrelinha" que parece acompanhar alguns, parece também relegar ao esquecimento outros tantos.

Não é exactamente igual, ou com similares possibilidades potenciais, nascer-se numa Europa de primeiro mundo, ou numa África enteada... em muitas zonas do continente asiático, ou mesmo em determinados países ou pedaços do continente americano, como sabemos...

Não é exactamente igual nascer-se numa família de um determinado estrato socio-cultural, ou noutra de cariz bem distinto.
E não me refiro especificamente ao acesso mais ou menos fácil a bens materiais, ainda que saibamos, que infelizmente este é determinante.
Refiro apenas, "tout court", a aleatoriedade pura e simples...a "roleta do destino ou do acaso".

Porque afinal, todos poderíamos ter nascido ou pertencido a qualquer lugar.

Esta reflexão impôs-se-me pela observação do vídeo que aqui deixo e que dispensa qualquer comentário...creio. (Obrigada amigo Filipe)

Na era dos "Direitos Humanos", em particular dos "Direitos das Crianças", na era das "Embaixadas da Boa Vontade", promotoras só por si de figuras públicas e por vezes não mais...olhe-se bem a realidade que transparece das imagens que aqui ficam...

Anamar