quinta-feira, 13 de novembro de 2008

"DE MIM PARA MIM..."

Um dos maiores sinais da perda da inocência e do desencanto que os anos nos vão deixando, é quando num dia de aniversário não conseguimos ver que o sol está mais brilhante, as cores mais vivas e as pessoas particularmente simpáticas.

Quando ao abrir da pestana, naquele meio termo entre o dormir e o acordar, quando ainda nem bem sabemos de que terra somos, onde estamos, que dia é aquele que ora começa, nenhum "clique" se faz de imediato no nosso espírito...então é porque decididamente, já estamos em fase não de fazer, mas de "desfazer" anos...

Quando criança, esse dia é esperado semanas antes, "catrapiscado" vezes sem conta no calendário.
Lembra-se aos professores, aos amiguinhos da escola, a todos a quem se pode.
Imagina-se, com "taquicardia" infantil, a festinha, a festa ou a "festona" que sonhámos e que talvez tenhamos a sorte nos venha a ser prodigalizada.
Já fizemos saber com a devida antecedência, as prendinhas que muito gostaríamos de ganhar...e aquele dia nunca mais chega!! E pior ainda...ocorre só uma vez no ano!!...

Passados anos, quando "teenagers" algo inconscientes, já no tempo em que se combina com meio mundo uma enorme farra, num dos espaços da cidade, mais badalados ( e em que cada um paga o seu), o aniversário passa por um convívio, na mesma mesa primeiro, na mesma pista de dança depois, de copo na mão e no balanço determinado pelo DJ da noite.
Entre dois cigarros, entre a cumplicidade da madrugada, fazem-se e desfazem-se "casos", trocam-se carícias aquecidas pelos copos já consumidos, curte-se o som e o entorpecimento dos corpos, para na manhã seguinte, já não lembrarmos bem como foi...
Já não é mais o tempo do "croquetinho" ou da sandwiche de queijo, da mousse de chocolate ou da baba de camelo... Já não se recebem grandes prendas, e nem é isso que importa, mas sim beijos, abraços, risos, gargalhadas...e uma espécie de promessa circulante de que a vida é mesmo fixe, está todinha à nossa espera e é "bué" importante curti-la...

A "ampulheta" vai sempre andando, ou melhor, vai sempre esvaziando, implacável...e chega o tempo em que a "roda" traz até nós, em mãos pequeninas, a prendinha comprada obviamente pelo pai, e o cartãozinho garatujado com traços imperceptíveis ( a lápis de cor ou feltro), que nós juramos ser lindo e cuja mensagem também juramos entender...ou melhor, "ler" perfeitamente...
Vêm os abracinhos, os beijinhos, e aqueles "penduricalhos" sempre no nosso pescoço..."Parabéns mamã..."
Estamos felizes...Afinal eles, os anos, ainda não são muitos...

E calendários passam sobre calendários...

Dos bilhetinhos com casinhas, sóis de olhos e boca, árvores maiores que as casinhas e corações ainda maiores que tudo...das prendinhas compradas à custa de austera poupança na parca semanada...começam a chegar aqueles aniversários em que no jantar do dia, estão, a prestigiar a mãe, os amigos de longa data, que na circunstância trazem filhos da idade dos nossos.
Passam a noite na outra sala, a conversar outras conversas, a ouvir outra música, enquanto os adultos rodeiam a mesa farta dos doces e bolos, que atravessam as primeiras horas da madrugada.
A "malta", de quando em vez, faz uma "incursão "estratégica" de reabastecimento na sala de jantar, ouve restos das conversas entediantes dos adultos (os casos da actualidade, as últimas da política, do cinema, as preocupações com os novos e os velhos) e regressa à outra sala, até que seja dada ordem de partida, ou seja, o alívio para aquela grande "seca"...
Os anos ainda não pesam, há muito percurso ainda a fazer, não há muitos sobressaltos no horizonte...
A vida decorre de acordo com o "figurino" correcto...

Hoje...a maior parte não está por perto, pelas mais variadas razões.
A maior delas, os percursos "enviesados" que cada um decidiu para si.
Depois, há os que não estão nem estarão nunca mais, pela inevitabilidade do destino.

São os tais dias, em que acordamos no meio do édredon e não temos nenhuma urgência em pular da cama.
Afinal, aquele é só mais um dia, entre os trezentos e sessenta e cinco transcursos...
Não há festa à espera, não há cartõezinhos do colégio, não há prendas surpresa em mãos pequeninas, não há discoteca que nos valha, não há amigos com filhos à roda da mesa dos doces...
Só há tudo isto, em "cassetes" e "cassetes" de recordações...

Aliás...estou a ser tremendamente injusta...
A roda rodou outra vez e girou e girou...e acabamos recebendo um "chamado" urgente de vozinhas outra vez não muito perceptíveis ( com um "ponto" em fundo que dita o discurso)..."Olá...Parabéns vóvó!..."

Aí então, apesar de serem já nove da noite, recordamos que o sol esteve mais brilhante neste dia...as cores estiveram bem mais vivas...e particularmente as pessoas...bom...essas, estiveram de facto super-simpáticas connosco...e não tínhamos lembrado porquê!!!...

Anamar

No dia de hoje, de mim para mim, um presente muito especial..."Maria Bethânia, a diva...e Fernando Pessoa...o Mestre"...

2 comentários:

Anónimo disse...

Minha amiga, os dias são sempre bonitos se nós quisermos, até um dia de chuva é bonito com a sua nostalgia e a musica melodiosa das gotas que caeem por terra.Ainda temos um bom caminho para calcorrear-mos, e muito ainda para dar aqueles que nos são mais queridos.
A idade só está no BI, e isso a gente esconde, o resto está na nossa cabeça, e essa tem de estar sempre jovem. Agora pense que entrou não na PDI mas sim na CDI ( Charme da idade)e isso sim, isso é pensamento de escorpião.Sempre em alta.
Por isso toca a levantar dos edredons, por o seu risco, abrir esse sorriso e vamos em frente, viver a vida.
E quanto à " discoteca" oh minha amiga vamos a isso, que a gente ainda mostra como se dança.
LOL
Um beijo
Lia

Anónimo disse...

oLÁ aNA:
HOJE MORREU O URSO POLAR DE MAIOR LONGEVIDADE ATE HOJE REGISTADA.
NO CANADÁ.
VEIO EM TODOS OS TELEJORNAIS.
SE RELATIVAMENTE À IDADE MÉDIA DE UM URSO POLAR(=20 ANOS)EU VIVESSE A IDADE DESTE URSO EU ADORMECIA NO GELO.
PASMADO COM A IDADE DO UNIVERSO.
QUERES UMA IDEIA:RELATIAVAMENTE À IDADE DO UNIVERSO NÓS SOMOS ESSE URSO.NÓS TODOS MORREMOS HOJE.
CADA DIA A MAIS
E UMA GRANDE VITÓRIA.

FERNANDO