quinta-feira, 5 de setembro de 2019

" LAVADOUROS PÚBLICOS "



O Facebook irrita-me, as redes sociais irritam-me ...

Podem sempre argumentar-me : "ninguém te obriga a frequentar esses espaços ... "
E até é verdade, pese embora hoje em dia, perca  muitíssimo menos do meu tempo com eles.
Pretendem ser espaços de lazer, lúdicos, de entretenimento e por que não ... de alguma aprendizagem.
Neles se acede a informação que de outra forma talvez não se tivesse ( sobretudo quem cultiva pouco a assiduidade nas estações televisivas, também por muito desencanto, cansaço e por senti-las igualmente, uma perda de tempo ). Por eles se chega a lugares que nos seriam inalcançáveis de outra forma, neles nos cruzamos com gente ( virtuais uns, conhecidos outros, amigos ... alguns ) e com eles nos iludimos às vezes, pensando minorar a solidão de que muitos objectivamente se queixam.
Deveriam propiciar um convívio salutar, uma dialéctica saudável, uma partilha de opiniões construtiva.  Afinal, são muitas cabeças a pensar diversamente, são formas de estar e sentir diferentes, são múltiplas sensibilidades e capacidades de análise. Portanto, visariam um enriquecimento pessoal.

Mas não. Nada disto.  Afinal esta não é mais do que uma visão idílica da coisa, uma expectativa construtiva, ou ... e isso é mesmo o mais certo, uma ingenuidade do tamanho de um "bonde", como diriam os nossos "irmãos" além Atlântico.

Tristemente tem que concluir-se que o espectáculo degradante que por aqui se vive, não é mais do que a fotografia triste e desalentadora ... porém real, do país real em que vivemos !

Em primeiro lugar, tem e deve questionar-se a autenticidade, a correcção e a verdade sobre tudo o que é postado.  Será prudente ...
Cada vez menos, as fontes são fidedignas, e visam simplesmente a manipulação e a exploração intencional dos mais desinformados, incautos, crédulos ou mesmo ignorantes.
Aliás, é o que na generalidade, os media, hoje em dia fazem.  Actuam por deturpação, desonestidade, falta de fiabilidade, intencionalidade dirigida e ausência de transparência e verdade.
Este é o caminho seguido ( até por órgãos com responsabilidade social e informativa objectiva, que deveriam pugnar por isenção ), para vender, alarmar, desestabilizar e desconstruir ... Vale tudo !

Depois, assiste-se no Facebook a um ringue de pugilato.
Uma discordância de opinião, ainda que expressa com educação, é um desaforo, é um insulto, é um desafio.  E a liça está instalada.  Ninguém leva "desaforo" para casa ...
E ninguém se coíbe de afrontar ostensivamente, destratar, injuriar e ofender quem "ousou" defender outra opinião ou outro ponto de vista, que não o seu.
E o vocabulário usado entre quem, capacitado ou não, salta indistintamente para a "luta", ainda que não se conheça ou sequer faça ideia de quem está do outro lado ... é triste, aviltante e lamentável ... pelo menos.
Os termos usados, as palavras proferidas, os epítetos e "mimos" largados, falam bem de um atrevimento inqualificável de um "bas-fond" cultural e social, arrepiante.
E as pessoas perdem totalmente a noção de educação, decoro e mesmo dos limites até onde as suas capacidades ( notoriamente insignificantes) lhes permitiriam ir, sem fazerem  uma figura absolutamente lamentável, uma imagem tristemente reprovável .  Uma verdadeira e vernácula "figura de urso" !...
Os erros de ortografia são useiros e vezeiros na "decoração" das exposições apresentadas. O que atesta aquilo que afirmo.  O ridículo das mesmas não é sequer percepcionado por quem as apresenta, e tudo é despropositado, dispensável e arrepiante !!!
A ileteracia, a ignorância, quase o analfabetismo da grande maioria das "sumidades" que se colocam em bicos de pés, debitando discursos de oratória assustadores e avassaladores, de puro convencimento e narcisismo quase sempre ... alastram.
Não há triagem, não há filtragem, não há sequer bom senso.
Guerras políticas ou futebolísticas então, são com frequência, lamentavelmente,  razão de insultos, ofensas gratuitas ou mesmo cortes de relações e amizades entre pessoas que até se queriam bem ...

Depois, o Facebook é com demasiada frequência uma feira de vaidades, de cinismos e de exibicionismos.   E como se percebe isso mesmo, claramente !...
É o "lavadouro público " da actualidade ...
É o local da troca de novidades, é o espaço da exibição de fúteis e imaginários status, é o "diz que diz", é o sonho de uma amostragem sub reptícia, como quem não quer a coisa,  de vidas famosas, sempre espectaculares, felizes e invejáveis ...
Tudo se coloca no Face, tudo se confessa no Face, tudo se exibe no Face, ainda que tantas vezes se perceba quão sombrias são as intenções ... quão subliminares são as mensagens ...

E por tudo isto ... mais do que entrar, passar e sair rapidamente nestes espaços, é pura perda de tempo.  É um desafio à paciência, nada se aprende e com um bocadinho de "sorte", apanhamos uma irritação daquelas !...

E pronto ... Agora podem bater à vontade, que eu fui ali e já venho .... 😄😄😄😄😄



Anamar

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

" O QUE SERÁ, QUE SERÁ ?... "




Ando a ficar um pouco interrogativa perante certas coisas da vida.
Pergunto-me se estou a ficar velha, ultrapassada ou com a intolerância típica de quem já não tem muita paciência, nem se obriga a fazer fretes.

Pertenço a um Clube de Leitura a que aderi há alguns anos, quando procurava entupir-me de iniciativas para ocupar um tempo que me sobrava e uma solidão que me sufocava.
Já há alguns anos portanto, que me incluo nessa tertúlia de um grupo de pessoas que têm em comum ( apesar de em alguns casos já pré-existir alguma amizade antiga, ou mesmo familiaridade entre elas ), o gosto pelos livros e pela leitura.
É uma forma de nos "obrigarmos" a ler, a conhecer estilos e autores diferentes, e depois mensalmente, a pretexto de discutirmos os conteúdos, comentarmos e sobre eles dialogarmos e trocarmos opiniões e sensibilidades de análise, convivermos à volta de uma mesa, onde, claro, à boa maneira portuguesa, não faltam as vitualhas  com que cada um comparticipa para um lanchinho aconchegante.
Isto ocorre mensalmente, como disse, e sempre que possível, contactado o autor ou a autora do livro em discussão, o mesmo honra-nos com a sua presença e simpatia.
Temos abordado variados autores, mais ou menos actuais, muitos portugueses, com obras referenciadas, premiadas algumas, na ribalta muitos deles, no panorama intelectual do nosso país.

Até aqui nada de especial, ou que tenha justificado a razão deste meu post.
Acontece que ando preocupada e desiludida comigo mesma.  Estarei a perder qualidades ... ou ... ?

Verifico que há tempo de mais, não tropeço numa obra que me preencha o espírito, que me encha as medidas ...  um daqueles livros inesquecíveis, que pelo conteúdo e pela forma, nos empolga, nos deixa plenos ... Uma espécie de livro de "uma vida", como costumamos dizer.
Acontece-me o mesmo em relação a filmes, embora nos últimos anos eu  ande um pouco arredia das salas de cinema, e em casa, pela televisão, o glamour da sétima arte nunca é igual.

Acho que hoje em dia toda a gente escreve, toda a gente canta, toda a gente é "capaz" de fazer qualquer coisa, em qualquer área ...
Não parece ser exigível a vocação que antigamente entendíamos como determinante para o efeito.
Não parece ser imprescindível haver aquela "queda", aquela coisa nata, que dantes achávamos ser dom de uns e não de outros ...
Nada disso.  Hoje as pessoas parecem ser totalmente ambivalentes, mesmo polivalentes, ou pelo menos, "acham-se" ... como dizem os brasileiros.

E talvez por isso, ou só por isso, dou por mim a esbarrar com frequência de mais, com experiências negativas, sobretudo na área da literatura.  O que, claro, me traz à cabeça quase sempre a escrita dos clássicos da nossa língua.  Mas não só, evidentemente.
Não sou de ler qualquer coisa.  Ler por ler ... compulsivamente.  Engolir tudo ...

Mas ...

Como era delicioso ler um Eça, um Aquilino, Jorge Amado, Redol, Virgílio Ferreira, Namora, Manuel da Fonseca, Florbela, Eugénio de Andrade ... mas também, Rodrigues dos Santos, Isabel Allende, Elena Ferrante, Miguel Sousa Tavares, Maria Dueñas, Beauvoir, Garcia Márquez, Somerset Maugham, Erico Veríssimo, Machado de Assis, Mia Couto, Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Hemingway ... e tantos, tantos outros, nacionais ou não ( aliás, é altamente redutor referir simplesmente nomes que de rompante me vieram à cabeça ) !...
Não precisarei obviamente falar de um Pessoa, de um Lobo Antunes, Saramago ou Agustina ...

Sempre houve escritores com uma escrita hermética, mais difícil, mais confusa e intrincada  ... mais "chata" mesmo.
Sempre se comentou haver autores quase intragáveis, em cujas obras se pegava e muitas vezes nunca se lhes atingia o fim.  E no entanto, "monstros" da escrita, que dispensam apresentações ou sequer galardões.  São insuspeitos !

Sempre houve.

Mas hoje em dia ... ( e volto ao princípio ), começo a preocupar-me comigo mesma, porque seguramente sou eu que já não reúno aptidões valorativas, capacidades intelectuais de análise e crítica... Com um bocadinho de jeito, até de entendimento.
E daí eu falar em senilidade, quiçá burrice instalada.
É que, neste momento, tenho andado no degredo de ler obras ( escolhidas no Clube, como disse ), que "corto um dobrado" para conseguir atingir os respectivos epílogos.
É um esforço titânico ler páginas atrás de páginas que não se entendem, não fazem sentido, não são escorreitas, claras, simples, com nexo ... perceptíveis ao menos ...
Parece que quanto mais rebuscada é a escrita, mais intrincada a mensagem, mais confusa a linguagem, mais desconexa a pontuação das frases que parecem amontoar-se simplesmente ... maior é a " obra prima" !
Será que quem escreve tem a presunção de se colocar num patamar intelectualmente superior ao leitor  comum, articulando histórias sem história, frases que têm que ler-se duas e três vezes, páginas que têm que se voltar duas e três vezes ... livros até, em que as pessoas saltam episódios, vão à frente, voltam atrás na esperança de encontrar um fio à meada ??!!  E que isso seja sinónimo de qualidade ??!!...

Bom ... não deve ser nada disto !  Devo ser eu que estou a ficar limitadita ... burra, seguramente ... ou ultrapassada !
Vão ver que os padrões de escrita, de boa escrita para a qual fui treinada, ensinada e incentivada desde a primária ... estão completamente ultrapassados, fora de moda, caíram em desuso ... são coisa do passado, mesmo !
Vão ver que a correcção linguística, gramatical e até formal, da articulação de ideias com princípio, meio e fim ... também já não interessam nada !

As pessoas não se expõem.  Os leitores defendem-se para evitarem rótulos.  E são mesmo capazes de aplaudir, louvar, demonstrar fascínio ... Eu silencio a minha perplexidade ... "Onde ? " - questiono-me ...

Pergunto-me o que teriam a dizer sobre tudo isto ( nem preciso chegar ao Camões ou sequer ao Pessoa ) ... fico-me só pelo Eça ... sempre actual, sempre contemporâneo ??!!...

Anamar

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

" VOANDO COM O PENSAMENTO ... "



O meu humor mudou.  É estranho, nem sei bem porquê, mas acho que é a nostalgia que sempre se apodera  de  mim, nesta chegada do Outono que já espreita.
O Verão foi perfeitamente atípico em termos atmosféricos, embora pareça preverem-se temperaturas muito elevadas, agora que Setembro se aproxima.

Só que esta sensação de encerramento de qualquer coisa, deixa-me sempre meio ensimesmada e escurecida por dentro.  E Setembro, queiramos ou não, fecha a porta às chamadas "férias grandes" e inicia um período laborioso, o início das aulas e com ele a mexida da miudagem, a mexida dos pais, as escolas a reabrirem-se outra vez, o azul a partir e o cinzento da nova estação a chegar...
E totalmente à minha revelia, eu tenho e acho que terei até morrer, este esquisito relógio biológico dentro de mim ...

O início dos anos, para mim e talvez para muita gente, era exactamente este recomeço, esta azáfama, como se de uma epifania se tratasse, ritmicamente .
E pronto, da noite para o dia claudico no humor, que também se acinzenta.
Tenho andado animada, como se o " frou frou" que se começa a sentir, também me pertencesse.
Mas não.  Já há algum razoável tempo que não.
Neste timming da vida, é agora a vez da minha primogénita se preocupar, e não será pouco, com um a entrar na faculdade, outra no décimo ano e o caçula no oitavo ...  Uma razoável dor de cabeça, convenhamos !...
Eu estou nos bastidores apenas, assistindo de longe e sabendo aquilo que querem contar-me.

E por isso fico com esta sensação de "desemprego" ... Tudo à minha volta se agita, e as minhas rotinas, mais coisa menos coisa mantêm-se !
É engraçado, porque quando estamos no activo, reclamamos, suspiramos pelos fins de semana, feriados e férias, e a aposentação então, será o culminar do "paraíso" !!!...
Aí, temos a convicção que chegados lá, tudo o que existe na lista de espera do tempo que não temos, final e seguramente irá concretizar-se ...
Leremos muito, conviveremos mais de perto com os colegas que também sonham com isso, passearemos muito mais, iremos a cinemas, museus, exposições ... e sobretudo poderemos usufruir de tudo isso sem o maldito relógio nos contabilizar o tempo despendido, como se estivéssemos a ser perdulários ...
Os malfadados testes em rimas e rimas para corrigir deixarão de existir, as aulas sempre para preparar, nem que tenhamos leccionado quarenta anos ou mais ... também não, as reuniões intermináveis e quase sempre uma "seca" pela ineficácia, menos ainda ...
Enfim, será altura de saborear com todos os condimentos, e sem afobações ou culpas, o estatuto ganho merecidamente, claro, com o trabalho, a dedicação e o esforço quantas e quantas vezes roubado à nossa vida privada, de uma carreira longa e vivida plenamente ...

Engano.  Rotundo engano ! Pura ilusão !
Agora que as horas deixaram de ser "horas", agora que a pressa deu lugar à disponibilidade, agora que a agitação deu lugar à tranquilidade e à paz de quem não tem rigores de horários a cumprir ... agora que acontece tudo isso que sonháramos lá atrás, falta tempo, falta ocasião, falta vontade e parece que ainda deveríamos correr mais do que antes, se de facto quiséssemos cumprir e honrar o tão almejado calendário ...

E este "fenómeno" que me acontece, juro-vos, é relatado igualmente, sem falhar uma vírgula, com a maioria das pessoas que se encontram nesta circunstância.
E por isso, sempre é motivo de riso, perplexidade e no fim, complacência e aceitação, quando nos encontramos.
E lá dizemos, com ar penitente : " a ver se passamos a encontrarmo-nos mais, para não ser só naqueles lugares e em circunstâncias dramáticas que cada vez mais, infelizmente nos ocorrem ... a despedida de colegas e amigos de uma vida !"...

De facto, boas intenções sobram.  Nesses momentos equacionamos a importância e a efemeridade da vida.  Lembramos o caminho percorrido e perguntamo-nos quanto mais teremos para percorrer ...
E juramos, juramos mesmo que dali em diante, tudo será diferente ...
Porque até temos saudades reais uns dos outros, bolas !  Porque até teríamos coisas p'ra contar, assuntos para dialogar, partilhas de momentos vividos, uns mais, outros menos felizes ... Porque até teríamos histórias, fotografias, novidades para dividir ...

Teríamos, sim.  Teríamos tudo isso !...
E depois ???   Bom, depois tudo retoma o seu ritmo do dia a dia, e o tudo desfaz-se em nada ou pouca coisa, esmagados pela imbecilidade e insensibilidade do tempo que trucida, que desfaz sonhos e que transforma as cores dos futuros de cada um de nós ... nos cinzentos que o Outono nos trará !!!

De facto, o ser humano é obra !!!...

Anamar

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

" QUANDO OS SINOS DOBRAM ... "





Estive na Amazónia em 2015.  Sonho antigo, acalentado até que foi possível.  Certo é que não poderia morrer sem o realizar.

Neste momento, pelas piores razões do mundo, a Amazónia está na ordem do dia.  E pelas piores razões do mundo, na Amazónia está a viver-se o que não poderia viver-se ...
O Homem, sempre o Homem, o maior inimigo de si próprio, está cego, surdo e mudo !
Sobre a Amazónia e todo o pesadelo que a envolve, já tudo se disse ... ou quase tudo se terá dito.  Qualquer coisa mais, será claramente redundante.

É a mais extensa floresta tropical do mundo.  Com 5500000 quilómetros quadrados, abrange vários países, entre eles o Brasil, o Peru, a Colômbia, Venezuela, Equador, Paraguai e Bolívia, sendo que o Brasil detém 60 % dessa área.
É um dossel impenetrável de árvores, onde 30 % das espécies mundiais ( aves, mamíferos e plantas ) vivem, na bacia do maior rio que a atravessa : o Amazonas, com uma extensão de 6400 Km, o que o torna o segundo mais extenso do planeta.
A floresta com 400 mil milhões de árvores capta 86 mil milhões de toneladas de carbono por fotossíntese, libertando 20% do oxigénio de todo o mundo, razão por que esta floresta é obviamente considerada o pulmão da Humanidade.  Todo o desequilíbrio provocado neste sistema ecológico, afectará consequentemente todos os climas da Terra, alterando-os irremediavelmente.
Neste momento, como sabemos, todas as agressões que estão a ser feitas à mata, com os incêndios provocados por queimadas intencionais e criminosas em favor dos madeireiros, desflorestando áreas de dimensão absurda, bem como do avanço vertiginoso da agro-pecuária e da exploração de minério,  factos que ocorrem sob a protecção das autoridades competentes, com a omissão, demissão e conivência do governo corrupto de Bolsonaro, serão já responsáveis pelo disparo notório do já bem identificado aquecimento global de todo o planeta, com todas as consequências inerentes gravíssimas.
Só no passado ano, foi desflorestada uma área superior à área de mais de 100 mil campos de futebol.

A denúncia é feita internacionalmente, inclusive, apelando-se à sensibilização do Mundo para esta catástrofe e calamidade que afecta todos os habitantes da Terra.
A denúncia é feita ... mas está contabilizado também aí, o maior número de assassinatos de jornalistas e activistas ambientais, do que em qualquer outro lugar.
Os madeireiros são hostis e perigosos. Para eles, não existe lei.  As armas e o seu uso indiscriminado foram bandeira da campanha que elegeu Bolsonaro, e como tal, não é só a Natureza que corre e sofre riscos, mas também quem se atreva a impedir a actuação discricionária do avanço dos madeireiros, face ao lucro obtido pelo desmatamento selvagem.

Junto ao Amazonas e também nas margens  dos seus afluentes, Rio Negro, Tarumã, Solimões, Xingu ... vivem povos indígenas.  São etnias milenares, são índios de muitas tribos diversas, que vivem da terra, da mata e dos rios.
São povos recolectores que subsistem dos frutos e vegetais que a floresta dá, da caça dos animais selvagens, e dos peixes que habitam as águas fluviais.
São povos totalmente desprotegidos, sujeitos à impunidade dos agressores que não dão qualquer valor à vida, num país sem rei nem roque, e em que apenas as leis dos mais fortes e das classes privilegiadas, têm poder.
Assiste-se neste momento ao seu pedido veemente junto das instâncias internacionais, na tentativa de salvarem as suas aldeias, as suas vidas e as suas terras ancestrais.
" A terra é a nossa vida  ... Mataram o rio, mataram as nossas fontes de vida e agora puseram fogo na nossa reserva” - a descrição é de uma mulher indígena ...


Bom ... mas tudo isto, como disse, são redundâncias sobre tudo o que se tem dito, o que toda a gente sabe, e o que se encontra estatística e cientificamente, em qualquer fonte informativa, hoje ao dispor e ao alcance fácil de cada um de nós.
Eu quero sim, dizer-vos ... contar-vos o que foi pra mim a Amazónia, no curto período em que a visitei. Porque ela me representa muito mais e mais além, do que o que aqui debitei.
Ela, que em 2009 foi considerada justamente, a maior das Novas Sete Maravilhas da Natureza, pela Fundação New 7 Wonders ...

A Amazónia é um desparrame de emoções e de sentires. Ela respira, pulsa ... ela cheira, ela soa, mesmo no silêncio da mata ... mesmo quando os únicos ruídos são os trinados de toda a profusão de aves e de insectos que a povoam.  E começam a escutar-se, mal a madrugada anuncia um novo dia.
São verdadeiros concertos celestiais que nos transportam a outra dimensão, na paz que se respira ...

A Amazónia não se vê, não se visita, não se descreve.  A Amazónia "sente-se", simplesmente ...

Queria falar-vos dos nasceres de sol no Rio Tarumã, quando a alvorada não tem cores que a definam.  Do lilás ao laranja, do prateado ao verde da selva projectada nas águas, como se fossem um lago adormecido ...
Queria falar-vos do "encontro das águas", onde os Rios Negro e Solimões se tocam, mas nunca se misturam ...
E das casas dos caboclos, nas margens...  Da simplicidade das suas vidas ...
Queria contar-vos do êxtase sentido, quando os bandos de aves cruzam os céus, ou se dependuram das ramagens, feitas adornos esquecidos em árvore de Natal, e o colorido da sua biodiversidade nos aquece a alma ... quando deixamos voar com eles, o sonho, livre e liberto ...

As águas sobem, as águas descem, ao ritmo das estações ... mas sempre é lindo e idílico, o cenário que nos rodeia ...
As ramagens, em espreguiçamento lascivo, mergulham luxuriantes na correnteza ; os cheiros adocicados do trópico por vizinho, inunda-nos as narinas e os sons da mata ou do manguezal ( gritos estridentes, cacarejos desgarrados, trinados a descompasso ) ecoam no silêncio quente e húmido da floresta.
O silêncio ... um silêncio que não se descreve.  Só se sente.  Entranha-se-nos na pele e afaga-nos o coração...
Esquecem-se as vozes humanas, esquece-se o movimento de gentes.  Há apenas sensações inundantes, emoções incontidas e uma esmagadora mensagem de paz, harmonia, bem estar, equilíbrio, plenitude ... um forte sentimento de miscigenação e entrosamento quase irreal, com aquela natureza primária, pujante, com aquele santuário em comunhão com a nossa alma ...
Então, o olhar percorre adormentado, a imensidão exuberante ... E esse olhar ficar-nos-à  para todo o sempre !

"Quando o uirapuru canta, a floresta silencia, como se toda a natureza parasse.  É a hora de fazer um pedido, porque se realizará, se o virmos e ouvirmos cantar " diz uma lenda indígena sobre esta pequena e esquiva ave da Amazónia, multicor, considerada o pássaro sagrado da selva.

Esta, foi a Amazónia que eu vi, que eu senti ... que eu vivi !...







O mundo precisa da Amazónia ... mas HOJE, a Amazónia precisa do mundo... não esqueçamos !!!



















































































































Anamar