sexta-feira, 29 de agosto de 2008

"PROVOCADORAMENTE SÓ"





Olá, bom dia... ou boa tarde, se quiserem.

Parece que os meus hábitos de escrita estão a mudar um pouco...ou talvez não...Apenas fruto de outra gestão dos dias, nestas férias em contagem decrescente. Afinal, segunda feira, tudo começa de novo...

Hoje amanheci, ou "entardeci", com uma gaivota no meu céu.

Vivo longe do mar e na minha praceta há pombos, muitos pombos...já vos contei. Mas gaivotas...só mesmo as "tresloucadas", as que se perderam de rota...ou as que são "provocadoras" mesmo. E esta "minha" gaivota hoje, é dessas, tenho a certeza.

Levantei-me tarde e a más horas, reclamando com a precipitação vertiginosa do tempo, com a despedida precoce de um Verão, neste dia meio pardo de sol já envergonhado (de uma cor que não é carne nem peixe), que se instalara.

Fui à janela, por detrás dos vidros, espreitar...

E ela lá estava...pousada bem pertinho, tão pertinho que a pude olhar olhos nos olhos, de mulher para mulher, presumo... E aquele seu jeito altivo de "bico" empinado, parecia querer dizer-me qualquer coisa...
Era uma gaivota cinzenta como todas, recortada num céu igualmente indefinido. Era uma só gaivota...e eu tenho a certeza de que também, uma gaivota só!...

Mirou-me, sempre imponente, com ar "desenchovalhado", com peito erguido ao vento, coisa que só as gaivotas, habituadas às borrascas de mares encapelados, conseguem ostentar...
Tinha um ar desafiador, posso jurar...um ar de quem quer dizer mas não diz : "Hei...tu aí ! Sai desse "rochedo" onde te escondeste cobardemente e vem ver o mar"!..."O mar hoje, não está lá "essas coisas"...mas é o mar na mesma, verde-azul dos sonhos e esperança, o mar do coração dos búzios que nos embalam ao ouvido, o mar que vai e que vem, com onda alta, com onda rasa...o mar da espuma, feita renda tecida por mãos de fadas... mas o mar!"...

É uma gaivota teimosa, esta minha...

Levantou voo, com as asas bem esticadas, planando na aragem que corre. E a sua silhueta foi-se desenhando por aí fora, como quem faz um passeio pelo infinito finito, dos prédios da cidade, desenhada num céu vazio, com os pombos desaparecidos pelo calor abafado da tarde que se inicia...
Ela foi, mas voltou, com o mesmo ar desassombrado curtido pelo sal dos mares da sua vida. Voltou, corajosamente, porque é preciso muito para "derrubar" uma gaivota...estou certa...

Tenho para mim, que a sua postura de "senhora provocadora" e se calhar "orgulhosamente só"...foi um recado...Ou então, é esta minha mania de sempre "ler", mesmo quando talvez não haja leitura a fazer-se...
Talvez um desafio do mar que eu adoro... que não tem princípio nem fim, que é berço do sol em hora de cama, que é cama de sereias que nele sonham sonhos acreditados...que embala o coração, quando os olhos nele se deixam embalar...que acalenta e fortalece a alma, na fortaleza que só ele sabe ser...

Tenho para mim, que as voltas e mais voltas que ela, a gaivota, persiste em dar bem junto à minha janela, (quase me tocando com as asas)...tenho para mim que os seus olhos pequeninos e o grasnar da sua voz, que parece chamar alguém...(alguém que ela veio por aqui tentar reencontrar)...são um sinal de uma esperança um pouco perdida, são uma mensagem de fé em alguma coisa, são "palavras" ao vento (que diz sem saber dizer), ao meu ouvido e ao meu coração...São uma espécie de grito de liberdade, de corte de amarras, de quebra de grilhetas ou algemas, com a vida...
Parece que ela, no seu grito estridente que todos conhecemos, me está a fazer não sei que chamada, me está a "empurrar" rumo não sei a que horizonte...
Mas juro que o seu "bailado" que parece não terminar, me desafia, me fortalece...me "abana"...

Senão... o que faria uma gaivota perdida, balançando-se para cá e para lá na correnteza do ar...logo HOJE, neste meu céu?!...





Anamar

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