sábado, 6 de junho de 2009

"AS HORAS DOS SILÊNCIOS"

Há que séculos aqui não vinha.

Uma estranha letargia e uma incapacidade de escrever, colada à pele.
Um vazio de vontade, de assunto...ganas de fazer como diz a Lena..."vestir o meu olhar de alforreca"...

Não sei bem o que será "vestir um olhar de alforreca"...
São uns "bichos" que nem me são simpáticos.
Sempre lembro o azar que tinha de pisá-los na praia, quando era miúda, e a comichão que me adicionavam aos pés pelo facto.
São uns "bichos" moles e escorregadios...e eu detesto o que é mole, escorregadio e distante.

Mas presumo que "um olhar de alforreca" seja exactamente isso, um olhar distante, um olhar escondido, aparentemente "desligado".

Então, se for isso, tenho-me sentido exactamente tipo "alforreca"...
Ou se calhar, mais tipo "caracol", que são outros bichos moles, escorregadios e viscosos...que ainda têm uma "mais valia"... escondem-se quando querem e precisam, fazem-se ou "sentem-se" mortos, quando lhes dá na gana.

O ser humano não hiberna, não "congela", não fossiliza...não tem "casinha" onde se "apague" de quando em vez, nem encerra "para obras" ou viaja para outra galáxia...
Não estar p'ra ninguém, não existir, fechar as persianas...enfim, pôr na porta aquele aviso de quarto em hotel: "Do not disturb", ou então "Volto já"...ou então, "Encerrado para férias até tantos do tal", seria tal e qual o que eu teria feito já, se pudesse.

Como se vê, vim aqui, porque a "escrita" me martiriza...ou melhor, a necessidade de escrever (e não o concretizar), me condiciona, me "suga" o ar que respiro, me deixa mal, como uma espécie de necessidade biológica não satisfeita.
Mas também, como se vê, o cansaço interior que sinto deixa-me vazia, exaurida, imobilizada psicologicamente, e o resultado é um verdadeiro "bluff"...uma espécie de silêncio interior que me tolhe e me destrói.

Será que até essa pequena/grande felicidade está a fugir de mim??!!...

Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...

Não estás, não senhora!
Estás apenas "imitando-me" nesse vestir o meu olhar de alforreca.
Também é preciso, digo-te eu.
Para mim, por vezes, é mesmo a única forma de sobreviver.
De resto "olhar de caracol" nunca vesti. Como sabes, detesto caracóis.
Mas gostei muito da tua definição do "olhar de alforreca". Ninguém o fez tão perfeitamente.
Faz favor de ir ler a minha crónica dos caracóis...

beijo grande
Lena Alforrecada no Spaces (mais ou menos amplos)