quarta-feira, 15 de maio de 2013

" A PROPÓSITO DE UMA CANÇÃO "



Eric Clapton lança no ar aqueles acordes meio dolentes, meio mágicos, de "Tears in Heaven"...

As canções, algumas canções, marcam as vidas das pessoas, por esta ou aquela razão.
Na  M80 dizem : "Se a sua vida tem uma canção, ela passa aqui, na M80" ! - um spot publicitário da estação de rádio, repetido vezes sem fim !

Eu acho que não se tem "uma canção" na vida ... Têm-se algumas canções, na vida.
De repente, estamos no café, no Metro, na rua, e escutamos esta ou aquela, que se solta do ruído de fundo, e nos alcança os ouvidos...
E sorrimos, quase sempre sorrimos com o coração, e sentimo-nos "quentinhos" por dentro, como se uma nesga do cobertor da vida, nos tivesse aninhado.
Sim, porque nem sempre a vida nos estende esse abrigo, em horas de maior frio e desamparo !...

São quase sempre temas, que obviamente já passaram, que são "passado", essa fatia do destino, a única, que conhecemos bem demais !
Como um cometa que corta os céus, o rasto de luz nas nossas histórias é o que fica para trás, meio difuso, meio obscurecido já, meio prestes a apagar-se ... mas sempre para trás.
À frente, no céu a desbravar, só existe escuridão desconhecida, misteriosa e imprevisível.
O que ficou para trás, foi certo , bom ou mau, doído ou feliz, doce ou agreste, lá ficou.  Já o vivemos, e nunca, nunca mais voltará, porque se escoou juntamente com os segundos do tempo, implacavelmente imparáveis.
E tem por destino, apenas o esbater das cores e das emoções, como a redução do volume do tema musical.
Até porque os nossos ouvidos também reduzem a acuidade, na percepção das notas, e a canção acaba por se perder por aí ... como a Vida !

Às vezes, as canções da nossa vida, conseguem retransportar-nos a dias bem ensolarados, a céus luminosos e transparentes, a montanhas verdejantes, a mar azul e profundo.  Conseguem levar-nos a gargalhadas despreocupadas, a vida que ri, e é leve ...
Outras vezes, levam-nos ao crepitar de lenha que arde em noites escuras, com chuva a bater nas vidraças, e vento que sacode as ruas desertas ...
E a uma cama desfeita, que espera horas que virão, e corpos que se fundem, perdendo identidades ...
Outras ainda, é o mar a bramir nos rochedos lá em baixo, é a brisa mansa que com particular doçura desalinha os cabelos, afaga os rostos, acaricia os corpos.  E há um entrosamento tal, uma unidade tão absoluta e tão magistralmente desenhada, que nos emociona e faz rolar uma lágrima, agora ... à distância ... só de lembrar !...

E as canções vão passando, indiferentes, tocadas na vitrola dos dias, dos anos ... das épocas ...

E as flores adormecem, porque as Primaveras se recolhem, os animais regressam às tocas, as aves migram, as borboletas morrem pelo chão das alamedas dos jardins, o sol chama a lua p'ra dançar, e as estrelas espalham-se num dossel azul escuro, por cima de todo o planeta ...

A canção pára, termina ...
Como tudo, afinal ... Porque ao que parece, tudo o que começa tem esse desígnio ... terminar mais cedo ou mais tarde, como os sonhos, como a Vida, que apenas nos deixa as canções, nada mais !!!...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei

Anónimo disse...

Only Time