sexta-feira, 3 de maio de 2013

" UMA ESPÉCIE DE LOUCURA "...



Passaram Verões, Invernos e Primaveras.
Passaram sonhos, esperanças, convicções.
Vieram sóis, e depois luas e mais luas ... E estrelas ... todas as noites, estrelas ...
Veio o céu escuro e os dias de luz, gloriosos ...

E o mar, esse, não veio, porque esse vem e vai.  Nunca fica.
Tal como o vento ...
Esse, só vai.  Só passa, e sempre me desalinha os cabelos.

Os sorrisos chegaram há muito tempo, e fugiram-me do rosto quando te perdi.
Ainda fui atrás, até àquela esquina. 
Mas  eles  eram  mais  ágeis,  e  foram.  Nem  se  voltaram ... para  sorrir ...
Para quê, se eles já eram sorrisos apagados ?!...

A vida ...  Essa, também foi com eles.
Esta coisa agora, que me levanta e me deita todos os dias, incessantemente, não é bem vida ...
É uma escorrência de tempo, simplesmente.
É um tempo que escorre ao contrário dos caminhos, que sempre têm princípio e fim.  O meu tempo, é um tempo de infinito, e sem norte ou rumo.
Nem eu sei para onde ele vai, sabendo embora donde ele vem ...

Não te alcanço por mais que porfie.  Não tenho passada para te agarrar.
E também já não te avisto, porque teimas em penetrar o nevoeiro.
E  o  nevoeiro  é  aquilo  que  nunca  conseguimos  agarrar,  entre  as  mãos ...
Bem tento afastar os seus fios gélidos e translúcidos, como cortinas de fumo ...  Em vão !...

Tal e qual como as sombras.  Só existem, enquanto o que as faz, continua lá, de costas p'ra luz.
Eu, continuo de costas p'ra luz.
Sempre estou do lado do crepúsculo, virada ao ocaso.  Por isso me anoitece tão cedo !...

Não entendo por que me deixaste seguir na maré, envolta nas franjas brancas das ondas !!...
Não entendo por que não esperaste que as alfazemas florissem, para me vestires de novo com elas, antes de eu partir !!...
Não entendo por que não bebeste comigo, o último cálice daquele vinho morno, para que também a nossa última gargalhada, se nos soltasse do peito, a brincar de felicidade !!...
Não entendo por que me cantaste canções de ninar, enquanto eu repousava a cabeça no teu cólo, e descia as  pálpebras,  mansamente,  julgando  que  o  Mundo  estava  na  minha  mão ... se  era  tudo  mentira !!...
Não entendo por que deixaste que eu acreditasse outra vez, que tinha tranças e saias de roda, e atasse na garganta um nó, com o espanto e a pureza de um amor virgem !!...

E  passaram  Verões,  Invernos  e  Primaveras,  e  a  estrada  percorrida  era  longa ... e  a  estrada  a percorrer,  curta ...
E o cansaço que eu carregava nas costas, era imenso ...
E a cerração que se abatia sobre mim, escurecia o caminho ...
E os olhos cegaram, e o coração parou ...
Nas minhas mãos, o bouquet das últimas rosas, dos últimos dias ...

... e uma curva no limite do horizonte, que não me desvenda, o que depois dela virá ...

Anamar

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