segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

MOMENTO QUATRO - 12 Fevereiro


Já piso de novo terra nossa !

A Amazónia e o Pantanal transformaram-se assim, numa espécie de vivência esfumada lá atrás.
Já regressei há alguns dias.  E tudo aquilo, sinto tê-lo sonhado numa qualquer noite destas, aqui, na minha cama.
Foi uma experiência de uma intensidade tal, que parece ter sido apenas nesga de porta entreaberta, por onde se espreita, se vislumbra, se tacteia de fugida, como cena de filme  que não dá tempo para ler legendas !...

Por cá, tudo impressionantemente igual.  Tudo morno, tudo insípido, tudo pesado, tudo carregado das cores de um Inverno que sempre dá um jeito de nos penetrar até à alma.

Por outro lado, repito, teria sido absolutamente incapaz de descrever, sequer por aproximação, aquilo em que mergulhei.
Incapaz de pintar por letras, as cores dos nasceres e dos pores de sol, esmagadores.
Incapaz de reproduzir os sons persistentes e irrepetíveis da passarada no arvoredo, nos campos alagados sem limites.  Os zumbidos  dos insectos em lenga-lenga, de noite e de dia ...
Incapaz de descrever o calor obsessivo que cola a roupa à pele e imprime nela até os pensamentos ...
os silêncios de quietude das alvoradas e dos entardeceres de fogo ...
Incapaz de traduzir a paz que a terra respira, quando noite adiante,  só  a  lua  cheia  branca,  imensa, desnuda  as  sombras,  define  perfis, e  cobre  doce, toda  a  imensidão  desconhecida !...

É assim o Pantanal, uma terra que dita leis, uma terra generosa e dura, mãe e madrasta, onde os cânones da vida são implacáveis, onde um determinismo preside à existência de todos os seres.
A lei natural é imperativa, indiscutível e  soberana !
O Homem é só mais um dos que habitam a mata, caminham nos pântanos, escutam os silêncios e sabem a voz dos bichos ...

Quem lá vive diz que não...
Mas eu acredito que o paraíso, aqui, toca a Terra !!!...



Anamar

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