quarta-feira, 16 de setembro de 2015

" FALL "





E pronto, como sempre, no cumprimento do ciclo inevitável, mais um Outono nos espreita já aí, numa volta da estrada !

Os dias começaram a ficar meio pardos, o sol perdeu a luminosidade convincente do Verão, mas sobretudo enfraqueceu no calor com que nos afaga ...
As primeiras chuvas, o vento já desabrido e as nuvens de cara mais feia, pairam sobre nós. Acordamos com eles e escutamo-los pelas madrugadas.  De longe, encompridamos o olhar seguindo o movimento sinuoso dos novelos encastelados e caprichosos, bem à nossa frente, varrendo o cinzento uniforme.

Eu moro juntinho do céu.
Tenho o privilégio de, por cima de mim, só ter o firmamento, ter os telhados do casario espreguiçando-se aos meus olhos ... e com sorte, ter alamedas abertas até ao sol ( desde que se ergue, até que adormece,  lá ao fundo ) ... E  ter caminhos francos até à lua, e às estrelas aqui por cima !
Por isso, o meu horizonte é quase sem horizonte !...

Eu nasci no Outono, no entanto é uma estação que custo a atravessar ...
Por um lado, estes primeiros sinais de recolhimento  impostos pela Natureza, sempre me convidam à introspecção, ao intimismo, ao ninho ... ao útero ...
E talvez, disso já sentisse  saudades ...
E isso agrada-me, aconchega-me e aninha-me ...
Por outro, para quem está só, para quem os tempos não são fáceis, a redução da luz, o encurtar dos dias, a aragem fria que nos enxota para casas silenciosas ... desconfortam,  e potenciam todos os sentimentos mais sofridos do ser humano !

É o tempo da folha  cair, é o tempo em que o fulgor das cores estivais dá lugar ao recato doce dos tons quentes e aveludados, dos dourados aos vermelhos, passando por todos os cambiantes de castanhos ... Como se a Natureza quisesse presentear-nos apenas com emoções cálidas e calmas, como se quisesse remeter-nos ao afago do embalo, rumo à estação agreste que virá depois ...
A "hibernação" inicia-se.
À nossa volta, os "decibéis" da Vida, baixam ... na antecâmara do sono que a aguarda.

Época de recolecção.   A Natureza, generosa, oferece o que de melhor nos preparou.
E despe-se.  Despe o manto garrido de folhas e flores, sons e aromas dos tempos que nos deixam,  e encaminha-nos para o ensimesmamento, para o "baixar das luzes" ...
Tempos de reflexão, propiciados por dias curtos e noites compridas ... Tempos de solidão ... Tempos pesados !...

Mas são também tempos felizes.  Tempos de partilhas e cumplicidades.
São gostosos os passeios sem horas,  mergulhados nos primeiros agasalhos,   pelas veredas da serra, ora  atapetadas de folhagem ...
E sentir o cheiro intenso das carumas, dos musgos trepadores de caules seculares ... o cheiro inconfundível da mata !...
É gostoso cortar as uvas, apanhar os cogumelos selvagens, os arandos, os mirtilos, as framboesas, as nozes, as avelãs, os medronhos, as romãs ... e também os marmelos e os diospiros ... Tudo  quanto há-de virar compota de dias doces!...
É gostoso  deambular pelos areais já vazios, rasando a beirinha da maré ... e brincar com os seixos, olhar as gaivotas ...  mais donas das praias do que nunca, colher os ouriços dos castanheiros, úberes das castanhas já maduras ... dividir as mãos em bolsos que se tornaram comuns ... e seguir rindo ou silenciando, conforme o momento ... conforme a emoção !...
É gostoso ... para quem pode ...

Sempre assim ...
Sempre igual ... e contudo, sempre diferente, sempre novo, sempre inesperado !

Damos por nós a concluir que ainda fora ontem ... e que afinal, mais um ano entretanto passou !...




Anamar

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