terça-feira, 6 de junho de 2017

" ESTE MIX DIABOLIZANTE... "





Escrevo muito pouco, neste momento da minha vida.
Este estado de coisas acompanha-me há tempo de mais, se tivermos em conta que escrever, para mim, é absolutamente vital.  É tão essencial quanto o respirar, o acordar por cada manhã, o sonhar ... enfim, tão essencial quanto simplesmente o viver !...

Considero que os tempos que atravesso são os mais difíceis que alguma vez experienciei.  Sinto a vida com a indefinição de estrada sem sinalética, com a inevitabilidade de pântano sorvedouro, com a desesperança de deserto sem estrela que o norteie, com a escuridão e o frio de cela nas catacumbas ... com a tonteira de vórtice labiríntico que cansa, cansa e não resolve !
Luz, rumo, saída, destino ... não vislumbro !
Sou o animal acuado e acossado numa prisão de tempo, de sonho e de vontade !  Sou o náufrago que se digladia no cansaço da corrente, à espera de resgate que tarda.
E não sou guerreira ou resistente, como as pessoas dizem.  Não sou super-nada no encaminhamento dos meus dias ...
Sou simplesmente uma sobrevivente que esbraceja, nada mais !

E chega este tempo de Verão ... este azul embriagante, este sol luminoso, claro e promissor, este mar que vai e que vai além da vista, além da vontade, da imaginação, da saudade, pelo meio dos continentes, beijando outras águas, buscando outras costas, tocando outros horizontes ...
E com eles, eu vou, na procura de soltar o sonho, na ânsia de encontrar outras histórias, de ver outras gentes e de tornar pleno este invólucro vazio e asténico que carrego neste momento.
E tudo o que já pesa, se torna fardo para o que não há arcaboiço.  Tudo o que penaliza, se agiganta e torna insuportável.  Tudo o que descoloriu, vira cinza de terra queimada, e tudo é uma "judiaria" sádica e gozadora.
E fervilha-me a mente, e pula-me o coração, e esbugalham-se-me os olhos  ...
Olho enesimamente fotos de histórias vividas, de locais tatuados, de lembranças indizíveis,
Recordo com precisão o calor "daquele" sol naquele momento, a carícia "daquela" chuva doce, inesperada em tarde de trópicos, as cores "daquela" mata, "daquele" coqueiral, o pipilar dos pássaros no dealbar de cada dia, o volteio das borboletas em voos imprecisos, os sons e os cheiros gravados no âmago do coração ... E ressinto em mim a carícia dessa leveza vivida, dessa liberdade perscrutada, como embriaguês saborosa e desejada ... e esse nada existir além disso, esse tempo sem tempo, limites ou exigências ...

E este prurido cerebral inquieta-me, as batidas do coração aceleram e tudo se torna mais insatisfatório ainda.  Tudo se torna exponencialmente incompleto, insuficiente, apoucado !
Fugir ... eis o que me assoma ao espírito !... Fazer malas de sonhos, e partir ... por aí, sem rumo, endereço, ou destino ... eis o que me martela os ouvidos !...

E depois, a tortura do tempo a escoar-se... a tragédia dos dias que se sucedem vertiginosamente ... a dúvida e a incerteza do que resta, como resta, até quando resta ?!
A angústia do incerto e inesperado ... o medo das "nieblas" e a incerteza da sua dissipação, em tempo útil de alguma sobra prestável ...
A ânsia da rentabilização da qualidade que AINDA existe ... e a mágoa e o cansaço de alguém em fim de festa que rapa os resquícios doces de pratos em banquetes não usufruídos ...

Assim é, a minha vida hoje !...
Um "mix" diabolizante, quase indecifrável e irresolúvel, de puzzle com grau de complexidade superior ...
Um quebra cabeças meteórico e nostálgico ...
Um labirinto extenuante e exaustivo !
Uma teia esfarrapada sem conserto ou remissão completa !...
Uma prova de um esforço hercúleo, que não sei até quando terei força para enfrentar !...

Anamar

Sem comentários: