domingo, 2 de julho de 2017

" VAI-VEM DE MARÉ ..."




Hoje  estou  melancólica.
Sinto-me um pouco perdida no emaranhado da minha vida, como uma aluna frente a um manual sem saber bem encontrar-se no meio de tanta informação a reter.  Uma aluna dispersa, sem bem perceber onde se encontra a ponta da meada a desenlear.

Tenho escrito pouco, tenho reflectido pouco, deixei de me encontrar em tardes longas e desocupadas por aqui, perante mim, perante as minhas ideias, os meus pensamentos, as minhas angústias e preocupações, as minhas dúvidas e perplexidades, os meus sonhos, as minhas lembranças, também dores e sofrimentos ... também alegrias, obviamente.
Deixei de ouvir longamente Énya, em tardes ociosas, enquanto o sol me descia no firmamento frente a esta tribuna, sobre o casario que preguiça até Sintra.
Deixei que a vida me fosse atropelando a um ritmo que as minhas "pernas" já não acompanham ...
Demasiadas coisas acontecendo aqui ao meu lado, como avalanche de torrente que engole e leva das margens, as folhagens distraídas ...
Um turbilhão de sentires, diversos, esparsos, confusos, em atropelos ... que não me folgam e não me param, para sequer os assimilar, interiorizar, incorporar, vivenciar ...
A minha vida mostrou-se um remoinho de rio caudaloso, com a força imparável e cavalgante de águas impiedosas ...
Uma entropia estranha e avassaladora tirou-me os tempos de paragem que me eram vitais ao equilíbrio.
Portas fecharam, portas abriram, esquinas foram dobradas, rotundas estonteantes foram rodadas, ondas encapeladas de incertezas incómodas me enrolaram na areia da rebentação ... quase não me deixando vir à tona, respirar ...
Tudo isso num rompante louco de montanha russa, de voragem temporal, de realidades que não batem à porta para se instalarem.

O meu mundo, de dúvidas, encruzilhadas, "nieblas" pairantes  mas sabidas, tem-me amanhecido com madrugadas novas, de novos cheiros, novas cores, novos sons e claridades.
E como alguém que poisasse numa terra que não aprendeu, como alguém que dispusesse de roupagem desmedida, sinto-me desconfortável, desajustada e com uma canseira no coração e na alma, que me desconserta.

É sabido que novas vivências repentinas e inesperadas, sempre deixam o ser humano fragilizado, no vencer de inércias, quase sempre insatisfatórias, contudo cómodas ...
E a minha vida tem-se pautado por um mar flat, agitado repentina e inesperadamente por ondas alterosas de  marés.
Não é, nunca foi, uma vida cinzenta de rotinas e repetições.  Eu própria, convivo mal com tudo o que se repete, se decalca, se instala.
Por personalidade, sou uma alma inquieta  em turbilhão, que lida mal com tons "pastel" ... que prefere "nuances" definidas, bitolas de tudo ou nada, de zero ou cem.
E por isso, cada readaptação a novas vidas dentro da vida, que foi ocorrendo na minha existência, implicou, ajustes, custos emocionais, conflitos interiores com dispêndio acrescido de sofrimento inerente... com desgaste pessoal, com desnorte de rumos ... com fins e recomeços difíceis ...

Cada nova e desconhecida etapa que chega, questiona o pré-existente, agita as águas,  revoluciona o instalado, desencadeia perdas e ganhos, opções, decisões, mudanças.
São períodos de aprendizagem, de crescimento, de mudança, nem sempre ... quase nunca, fáceis !

E tudo isto - quando  então o Outono já assoma , com as primeiras intempéries na vida -  se reveste de dureza acrescida,  com envergadura de desafio titânico ... e se mostra como  um esgotante vai-vem de maré !...

Anamar

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