quarta-feira, 3 de outubro de 2018

" AINDA ONTEM ÉRAMOS JOVENS ...... LA BOHÈME "




Quem melhor cantou Paris ?
Quem melhor cantou uma juventude descomprometida e feliz, vivida na cidade do amor ?

Aznavour deixou-nos.  Fisicamente ... porque imortal, ele é, desde sempre!
A sua voz inconfundível jamais se silenciará sob os céus da Cidade Luz.  Cidade também chamada dos "encontros e despedidas" encerra um romantismo próprio, que tão bem e incomparavelmente, ele soube transmitir-nos em cada estrofe, em cada melodia, em cada nota, de todas as suas canções ...

Ícone da música mundial, mestre da música francesa, figura incontornável no panorama internacional, foi presente na minha adolescência, nos anos soltos da minha juventude, e nunca deixou de, conjuntamente com outras figuras igualmente míticas desses tempos áureos, fazer parte do meu imaginário, povoar os meus sonhos, perpassar pelos desejos mais ou menos inconfessáveis, comuns a uma geração com ânsia de emancipação, autenticidade, e contestação aos valores instituídos e obsoletos.
Geração insatisfeita, desacomodada, rebelde e transgressora ... a que a música dava voz.  Porque a vida é de quem se atreve a vivê-la ... e provocá-la, apanágio de um tempo, que só os poucos anos que então detínhamos, o permitia.

Aznavour, o pequeno arménio, filho de imigrantes que chegou um dia a Paris, foi reconhecido como notável performer do século.
Cantor em múltiplos idiomas, foi compositor de mais de mil canções, escreveu musicais e entrou em mais de sessenta filmes.
Teve mais de cem milhões de discos vendidos.  Foi popstar ao longo de mais de oitenta anos.
Cantor nostálgico, denominado justamente, o Frank Sinatra de França.
Sempre o amor foi cantado por si.  E esse é o principal registo que de si ficou : um expoente inigualável do romantismo.

Marcou-me indelevelmente, desde jovem.  Desde os bancos do liceu.  Desde os bailes de garagem ... dos primeiros amores, dos primeiros desgostos ...
Dos anos dourados dos "sixties", ele representa até hoje, o rosto do sonho sonhado, do romance, do saudosismo dos tempos e dos locais ... em suma, da melancolia ... da vida!
"Que c' est triste Venise", "Non, je n'ai rien oublié", "Et pourtant", " Sur ma vie", o icónico "La Bohème", são só alguns dos temas que nunca esqueceremos.
A "mulher" obviamente preponderou nas suas letras.  "She", tema do filme Nothing Hill, é um hino e uma homenagem ...  Foi hit absoluto no mundo inteiro !

Aznavour deixou-nos inesperadamente aos 94 anos, pela madrugada, na sua casa do sul de França, na Serra de Alpilles, após uma tournée pelo Japão ...
... e afinal, "Hier encore il avait vingt ans "...

Ele, e todos nós ...
Não deixou a vida ... a vida, deixou-o !...

Montmartre seguramente entristeceu e os lilases terão morrido ... tenho a certeza.
Aznavour partiu ...



Anamar

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