quinta-feira, 27 de setembro de 2018

" E PORQUE TALVEZ ACREDITE ... "




A esta hora já se encontraram ...

Não acredito em paraísos nem infernos, nem nas convicções da Igreja Católica.  Mas sempre imagino ( e acho que quase sempre o faço em busca de reconforto ) que nada pode ficar só por aqui mesmo.
Penso que seria uma fraude sem tamanho, se o Homem se reduzisse à sua prestação terrena e física.  Somos, como seres vivos superiores na hierarquia dos viventes, seres com cognição, inteligência, racionalidade além de todos os outros atributos comuns aos restantes que connosco partilham a vida ... uma espécie potencialmente privilegiada.
O Homem adquire, trabalha, armazena know-how ao longo da sua vida.  O Homem, como um ser superior, racional e emocional, reserva ao longo da sua existência uma bagagem pessoal intransmissível que eu não aceito poder simplesmente ser delapidada no momento da sua morte.
O seu repositório individual, o legado que armazenou, será o que dá significância à sua existência terrena.  Seja de que forma for ... em átomos, moléculas, já que de matéria se trata ... seja em energia, ( a essência espiritual de cada um ), sei lá !...
Como num sistema fechado em que não há perda, não há ganho, apenas há transformação, não faria sentido que num instante único, a perda fosse, por isso,   irreparável, irreversível, injusta e inexplicável ...
Pelo menos de acordo com a minha sensibilidade.

Esta convicção remete-me a uma filosofia defensora de reincarnações sucessivas, de sucessivos regressos no sentido de um aperfeiçoamento progressivo do Homem, face ao alcance do Nirvana,  ( do sânscrito  " nibbana",  que significa " apagar", "extinguir", "cessar sofrimento" ), ou seja, de um estádio espiritual superior, de elevação e aperfeiçoamento, que constitui o princípio básico da doutrina Budista.
Amor e compaixão devem exclusivamente nortear a vida terrena, sem preocupações de busca de definições de céu, inferno ou deus.
A existência humana é um ciclo interminável de morte e renovação, no sentido da existência de paz, serenidade e alegria.
Uma vez atingido esse estado "além do sofrimento", interromper-se-ia o ciclo de vida e morte.

Não tenho conhecimentos profundos nesta matéria, contudo.
Não sou escolada em correntes religiosas, filosóficas, espiritualistas, nem em doutrinas subjacentes, sequer.  Não me meto portanto em caminhos escusos, para os quais não possuo espalda.

Tenho sim, simpatia pela ideia.  Acho mesmo que me dá um certo "jeito", considerá-la como um fim possível, digno e simpático para a existência humana.
Dessa forma, a ideia da continuidade para além da morte, é uma "solução" que me agrada, que me ajuda, que me ampara face à angústia, à dor da perda, à consciência da inevitabilidade da partida dos que amamos e da forma como encaramos a nossa própria partida.

Portanto, tudo se torna mais leve, colorido, aceitável, suportável ... menos doloroso.  Porque afinal, nada seria definitivo, tudo se resumiria a um simples e reconfortante "até já" ...
A confraternização dos espíritos seria apenas interrompida, prometendo-nos novos e futuros encontros, por aqui !...

Tudo isto, porque hoje partiu o único irmão da minha mãe, ainda vivo.  Em menos de meio ano, fechou-se o naipe dos cinco que eram a sua família de origem, e isso deu-me que pensar.
À volta disso reflecti nos considerandos que aqui expus, e acredito, como disse no início do meu texto, que  " a esta hora já se encontraram algures, por aí !... "

Anamar

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