terça-feira, 18 de agosto de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - tempo sem fim ...

 


Retomo hoje, algo que a bem dizer, nunca findou ... esta saga que são as nossas vidas, neste cinzentismo rotineiro e saturante de dias sem definição.

Nada de novo, de especial ou de interessante tenho para contar.  O tempo flui aparentemente igual, sem que o seja, esgotando-nos descaradamente a ampulheta que carregamos desde que aqui pisámos.   

A vida busca uma tentativa de normalização, com os números da pandemia rodando com uma certa generosidade, no nosso torrão.  Pingam alguns / poucos óbitos ; os infectados, embora sempre em crescendo, não têm comparação com os valores que países vizinhos  novamente apresentam ... A coisa parece ter abrandado !

Entretanto Agosto já vai a meio e Setembro já se colora com tons de um Outono ao virar da esquina.

O tempo passou ... aliás, o tempo está a passar num ano de total desperdício, num mundo artificial e compulsivamente parado, em vidas suspensas de um amanhã que se desconhece, que não se visualiza e que se receia, globalmente. 

Faz-se de conta que já se respira, que já se vive de novo ( a inventarem-se simulacros de férias, acreditando viver a felicidade e o bem estar que normalmente elas transportam ), faz-se de conta que o pior já passou.  As pessoas já se frequentam com uma maior descontracção, é verdade, apenas com os cuidados inerentes ... distanciamento e nada de exuberância nos afectos !  Vai-se comer fora se for o caso, sem reticências ... faz-se a vida social de compromissos diários, beirando o trivial.      Retomam-se as actividades profissionais, os lay-off  decretados pelo estado no apoio económico às empresas, estão cessantes ;  com todas as violentíssimas dificuldades e restrições, os sectores da sociedade que podem, repegam, a ver se ainda se salva alguma coisa nesta hecatombe económica sem tamanho ... A vida escolar  das nossas crianças também regularizará dentro de sensivelmente um mês, o que fará disparar em sobressalto de novo, o coração dos pais ... 
Enfim ... será que a pandemia, assimilada por rotina, cansaço, ou porque a vida é assim mesmo ... está a começar a fazer parte de uma "normalidade anormal" ( como diz um amigo meu ) do nosso dia a dia, convivendo e coabitando connosco no nosso quotidiano, já por alguma inércia ?!

A máscara faz parte da indumentária diária, e é raro esquecermo-la em casa.  O frasquinho do álcool-gel, quase garanto sem erro, habitar todas as carteiras das senhoras.  A exigência das marcações prévias necessárias para todos os serviços que necessitamos, está-nos interiorizada nos hábitos.  Não se entra no supermercardo sem automaticamente percebermos a aquiescência do segurança, que dantes nem parecia estar por ali ... O desvio de percursos é vulgar se se nos avizinha gente demais.   Na praia estima-se um perímetro considerado seguro, em relação a vizinhos de chapéu ... Normal, naturalmente ... pacificamente !  
Cumprimentamo-nos de cotovelo, e ainda esboçamos um sorriso amarelo ... Qualquer dia, já nem isso !  Evitamo-nos, isolamo-nos, assumimos comportamentos anti-sociais  com a maior normalidade possível ... quase indiferentes !  Como se tivesse sido sempre assim ...                                                  
Estranhamente estamos vestidos de uma camuflagem pandémica própria.  Estranhamente estamos imbuídos de uma sensibilidade em adequação perfeita ao "modus vivendi" que nos é exigido.  Estranhamente estamos a assimilar hábitos, a interiorizar costumes e posturas que já nem questionamos,  o que significa que a "doença" se está a tornar crónica ...

O rosto da nossa sociedade hoje, já é totalmente distinto do que era.  E o desespero, a raiva e a fúria contra a violência de todo este desajuste a que fomos sujeitos, da noite para o dia, e que nos torturavam inicialmente, parecem ter-se desvanecido, diluído ... estarem a sumir-se por detrás da conformação, da angústia, e da mágoa da impotência de alterarmos o que quer que seja ...

Entretanto, lá fora, mesmo na Europa ( não falo do terror de países como os Estados Unidos ou o Brasil ), os números da pandemia parecem recrudescer, e fala-se na "bendita" nova onda ... 
Aqui mesmo, olha-se o Outono e o Inverno com desconfiança, temor e ansiedade.

Entretanto li que o Atlântico pode, neste momento, ser receptáculo de mais de dez vezes a quantidade de resíduo plástico que se supunha nele existir.  Há micro e nano-resíduos plásticos nos tecidos humanos, cujas consequências invasivas se desconhecem, em termos de saúde pública ...

Em Portugal, a crise social inevitavelmente se acentua.  Os sinais estão aí. Milhões de apólices de seguros obrigatórios por pagar, a busca de ajudas sociais em instituições que apoiam a comunidade no fornecimento de géneros básicos, aumentou significativamente ... Acredito que já haja fome entre os portugueses !...
Continua o flagelo dos focos infecciosos nos lares e um fim ainda mais injusto e aterrador a espreitar os mais fracos, impotentes e ... silenciosos !!!

Só "boas" notícias !!!

Até amanhã !  Fiquem bem, por favor !


Anamar                                                                                                             

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