quinta-feira, 6 de agosto de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - e hoje foi assim ...






Setenta e cinco anos se cumprem hoje sobre o pesadelo de Hiroshima !  Setenta e cinco anos sobre uma das maiores máculas e das maiores vergonhas com que se escreve a História da humanidade !

O amanhecer  daquele dia mostrou do pior que o ser humano é capaz.  O vivido naquele e em todos os outros dias com que o Homem teve de confrontar-se daí para a frente, retratou também, a sua capacidade resiliente, a sua capacidade regenerativa, de coragem, sobrevivência, superação e solidariedade ... face à estupefacção, à revolta e ao ódio perante a ignomínia ali acontecida ...

Porque, espantosamente, a raça humana tem uma capacidade de se reerguer,  de se amparar e de se reinventar, absolutamente incomparáveis !
Depois do choque, do abalo, da dor e da angústia pela incompreensão, pelo absurdo das coisas ... quando pode pensar-se que o estado cataléptico subsequente, inviabiliza a capacidade de raciocínio, de resposta, de coragem e abnegação ... quando pode pensar-se que o golpe sofrido tem uma dimensão inenarrável e sem tamanho, que sucumbe e narcotiza mortalmente todos, pelo facto de serem gente ... o Homem pára por instantes, chora os mortos, trata os feridos, coloca pedra sobre pedra outra vez, apaga as marcas e encara, de peito feito, um futuro que lhe fora interrompido, arbitrária e brutalmente, pelo destino !
E cambaleante primeiro, reforçado depois ... titubeantemente repega a estrada e recomeça a caminhar !

É sempre assim !
Nos piores momentos, nas piores catástrofes, nas maiores desgraças, venham elas de onde vierem, o Homem agarra de novo o amanhã !!!...

Neste momento, como sabemos, atravessamos mais uma catástrofe mundial.  A pandemia devastadora varre o planeta sem dó nem piedade, zurzindo, destruindo, aniquilando vidas aos montes, rápida ou paulatinamente, de uma forma avassaladora e sem tréguas.
Amputam-se vidas, mas também se amputam sonhos, projectos, famílias, afectos ... como um vendaval que sopra sem rumo ou direcção, sadicamente, enrolando-nos em redemoinhos vorazes, em espirais mortíferas ... num atentado à resistência e ao equilíbrio dos que por aqui vamos estando a enfrentar a borrasca.
Ora num pé, ora noutro ... porque já não dá muito bem para ter os dois no chão ... vamos lutando por um equilíbrio precário, esgaravatando no fundo do nosso reservatório emocional, um resquiciozinho sobrante, de esperança, de confiança e de coragem ...  Até que der ... enquanto der !...

Beirute sangra mortalmente a céu aberto, sem contenção, estancamento, ou garrote que lhe valha.
Um tsunami de pedras, de vidros, de fogo, de dor, de carne dilacerada, de sangue bordejando as ruas ... uma onda nascida sem quê nem para quê, fez sucumbir no estrépito de duas explosões incompreensíveis e injustas, o que antes já fora uma cidade e um país flagelado pela guerra e pela incompreensão do Homem.
Uma devastação e uma razia que nos trazem de novo à mente as imagens de Hiroshima e Nagasáqui, chegaram-nos pelas câmaras dos foto-jornalistas, pelas descrições dilaceradas e realistas dos repórteres, pelo cansaço e desmantelo dos corações de quem, coberto de sangue, aguarda socorro ou vagueia apático pelas ruas, buscando qualquer coisa, ou alguém ... Talvez simplesmente uma explicação para o que a não tem !...
Valha-nos uma outra vez a resposta humana solidária, do ser que tantas vezes parece não sê-lo.  A mobilização pronta e rápida em meios, em recursos materiais e humanitários, com amparo imediato vindo mesmo de povos cuja ajuda política seria menos provável ... mostra que afinal, talvez nem tudo esteja perdido nesta raça a que pertencemos !...

Entretanto, por aqui, nestes dias de temperaturas passando em muito os trinta graus, as notícias remetem-nos uma outra vez para as brutais, visíveis e sentidas alterações climáticas a nível planetário, para nos dizerem que os pólos estão a sucumbir ... também eles.
Os termómetros sobem a valores nunca antes registados, a fauna e a flora, sofrem impiedosamente.
Os ursos brancos, perdidos do seu habitat natural, vagueiam em busca de alimentos.  
Os gelos e as neves que eram perpétuos, fundindo, descobrem vestígios geológicos de eras insuspeitas.  Cadáveres de espécies não decompostas que haviam ficado soterrados sob o manto branco teoricamente eterno, contêm em si micro-organismos, vírus e bactérias, constituindo-se potenciadores de novas transmissões epidemiológicas futuras ...

E por cá, ainda, a crise sanitária abrandou.  Ou dormiu p'ra sesta ... pelo menos por ora.
A crise económica recrudesce, contudo.  As notícias do desemprego, as notícias calamitosas que nos deixam destruídos e impotentes, veiculadas pelas vozes de desânimo e cansaço, pelo olhar meio perdido dos que lutam para se manterem à tona, contudo com a onda  a  galgar-lhes  a  garganta ... são devastadoras,  aflitivas  e  profundamente  angustiantes !!!
A subsistência é cada vez mais uma luta sem tréguas.  Apenas, milagres não existem !...

Bom ... e este é o balanço do dia de hoje.  O que me ocorreu sobre o tanto que nos atormenta ...

Até amanhã !  Fiquem bem por favor !

Anamar

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