Igreja de Santa Bárbara das Manadas
Alguém lhe chamou " um gigantesco navio de pedra eternamente ancorado no meio do Atlântico".
Será um blogue escrito com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções de cada momento... É de mim, para todos, mas também para ninguém... É feito de amor, com o amor que nutro pela escrita...
Alguém lhe chamou " um gigantesco navio de pedra eternamente ancorado no meio do Atlântico".
Está ali, a sul de S.Miguel no meio do Oceano Atlântico, fazendo parte do grupo oriental dos Açores, a primeira ilha deste arquipélago a ser achada - Santa Maria.
Não haveria seguramente melhor introdução à minha demanda do paraíso habitado por estes "estranhos e simpáticos loucos", do que ler este pequeno texto encontrado num "postal free" no Peter's Bar na cidade da Horta - Ilha do Faial, uma das que compõem o arquipélago dos Açores !
Dele, cheguei há dois dias, após uma digressão pelas ilhas menos conhecidas, de um conjunto fantástico, diverso e incomparavelmente belo, constituído por nove, todas particulares, todas com especificidades distintas ... mas todas igualmente românticas e sonhadoras !
Iniciar o dia ao som desta Ave Maria, só por si uma melodia celestial, recheada de imagens esmagadoramente belas, foi um privilégio concedido hoje, por uma amiga. Uma espécie de miminho ou afago no coração ...
O Outono está a chegar ...
De mansinho bate-nos à janela, e entrará pela porta principal dentro de três dias. O equinócio de Outono, ao virar da esquina, fez-se já manifestamente presente nestes últimos dias ... A chuva chegou com ameaça de borrasca considerável, as temperaturas desceram, o céu cobriu-se de nuvens e o sol amarelou na tonalidade, amansou e tornou-se doce e envolvente, como só este sol de fim de estação o sabe ser ...
Escrevi há dois dias um texto relacionado com o início do ano escolar, no contexto pandémico que vivemos.
Era um texto que procurava fazer um ponto da situação do país face à Covid19, perante publicação, uma vez mais, do Estado de Contingência decretado pelo Governo.
Seguia-se uma análise ... a minha ... exactamente sobre essa imensa preocupação genericamente vivida pelos cidadãos deste país, no concernente à reabertura das escolas para mais um ano lectivo, sabido por todos que se trata de um período profundamente particular e preocupante, e um momento de muita apreensão, ansiedade e até receio.
Retomo hoje, algo que a bem dizer, nunca findou ... esta saga que são as nossas vidas, neste cinzentismo rotineiro e saturante de dias sem definição.
Nada de novo, de especial ou de interessante tenho para contar. O tempo flui aparentemente igual, sem que o seja, esgotando-nos descaradamente a ampulheta que carregamos desde que aqui pisámos.
A vida busca uma tentativa de normalização, com os números da pandemia rodando com uma certa generosidade, no nosso torrão. Pingam alguns / poucos óbitos ; os infectados, embora sempre em crescendo, não têm comparação com os valores que países vizinhos novamente apresentam ... A coisa parece ter abrandado !
Entretanto Agosto já vai a meio e Setembro já se colora com tons de um Outono ao virar da esquina.
O tempo passou ... aliás, o tempo está a passar num ano de total desperdício, num mundo artificial e compulsivamente parado, em vidas suspensas de um amanhã que se desconhece, que não se visualiza e que se receia, globalmente.
O rosto da nossa sociedade hoje, já é totalmente distinto do que era. E o desespero, a raiva e a fúria contra a violência de todo este desajuste a que fomos sujeitos, da noite para o dia, e que nos torturavam inicialmente, parecem ter-se desvanecido, diluído ... estarem a sumir-se por detrás da conformação, da angústia, e da mágoa da impotência de alterarmos o que quer que seja ...
Entretanto li que o Atlântico pode, neste momento, ser receptáculo de mais de dez vezes a quantidade de resíduo plástico que se supunha nele existir. Há micro e nano-resíduos plásticos nos tecidos humanos, cujas consequências invasivas se desconhecem, em termos de saúde pública ...
Só "boas" notícias !!!
Até amanhã ! Fiquem bem, por favor !
Anamar
NÃO PODIA DEIXAR DE VOS DIZER ...
Já escrevi um livro, já plantei uma árvore ... já fiz um filho !...
Posso então morrer - diz a frase sábia !
Há 47 anos, num 13 de Agosto ensolarado e quente, pus uma filha no mundo.
28 anos depois, num 13 de Agosto igualmente ensolarado e quente, ela pôs um filho no mundo. Ou seja, há 19 anos, eu tornei-me mãe duas vezes !
Quando alguém nasce de nós, fica-nos assim no peito, um misto de sentimentos e emoções, que não entendemos direito, que não sabemos direito, que nem imaginamos sequer ...
Quando uma extensão de nós desponta, é um deslumbramento ímpar que nos adoça a alma, como um milagre a operar-se nos nossos braços ... É um enlevo que nem acreditamos merecido. Mas é também um susto e uma ânsia, porque sabemos que nunca as nossas asas serão suficientemente grandes, para lhe dar a protecção, o amparo e o ninho, que a vida tantas vezes experimentará roubar-lhe ...
Quando alguém nos procede, é a reinvenção de nós mesmos, que a existência nos deita no cólo. É o garante de estrada continuada. E sempre esperamos que ela seja mais luminosa, generosa e feliz, que a nossa própria ... São os nossos valores, as nossas convicções, aquilo em que acreditamos e por que lutámos, que caminham ... que queremos passar adiante !...Mas são também os nossos sonhos, as nossas esperanças e as nossas apostas, reeditados nesse filho ...
Por isso hoje, noutro 13 de Agosto ainda ensolarado e quente, eu deixo aqui o meu beijo do tamanho do mundo, à Cláudia e ao António, grata que sou, por eles serem quem são, na minha vida !...
PARABÉNS Cláudia !!! PARABÉNS António !!!
As mais recentes que consegui ! ( cerca de um ano atrás )
Anamar
Pouco passa das 6 horas de mais uma madrugada de domingo, de um Agosto quente e pardacento.
Desde as quatro que rebolo na cama, desde as quatro que vagueio pelo Google em busca de informação. Talvez compreenda melhor agora, quem, perante uma situação concreta, uma dúvida ou muitas dúvidas importantes, angústias instaladas, busca de respostas para miríades de perguntas que nos assaltam, tenta, com os meios de que felizmente dispomos, obter explicações, informações ... orientações objectivas que possam trazer tranquilidade ao espírito, algum sossego ao coração.
Lá fora começa a clarear. Não é bem azul, não é bem laranja, não é bem neblina, a faixa que se desenha lá ao fundo, para os lados de Sintra ... para os lados do mar ... tão longe daqui ! O sol ainda não acordou !...
Sempre condenei quem procura caminhos ou soluções nos artigos avulsos, descontextualizados, que proliferam naquele poço sem fundo que é a internet. Sempre me insurgi e entendi ser absurdo, disparatado e asnático fazê-lo. E é-o de facto, primordialmente se se buscam esclarecimentos, caminhos, respostas, soluções para problemas relacionados com a nossa saúde, leigos que somos no que a ela concerne. E ainda que não sejamos iletrados ou totalmente desconhecedores até mesmo de alguma linguagem e terminologia científica ... não queira "o sapateiro tocar rabecão!"...
A paz não nos chega por ali. O coração não se aquieta por lá. A cabeça não pára, nem o sufoco nos afoga menos depois disso !
A pequenez humana, a desprotecção, a vulnerabilidade em que nos sentimos largados ( quando objectivamente consciencializamos que a única coisa que realmente importa é a saúde, nossa e dos nossos ), tornam-se claras, e reduzem a poeira insignificante todos os tormentos existenciais, todos os "imensos" problemas de ordem prática "insuperáveis", "insanáveis" e "inultrapassáveis" que nos massacravam, todas as dúvidas sem cujas respostas não sabíamos aparentemente viver, todos os medos e fantasmas imaginários que nos assaltavam e todas as insatisfações "dramáticas" que nos consumiam ... Tudo isso fica, de facto, incrivelmente ridículo !
E tudo isso parece ficar infinitamente pequeno, face ao infinitamente grande que é o ter que enfrentar o balanço de maré batida repentino nas nossas vidas, que vogavam em águas conhecidas, que se faziam entre parâmetros expectáveis, com variáveis controladas ... e ter que encarar de repente, inesperadamente, do nada e na tocaia da emboscada, a dúvida, a angústia do desconhecido que espreita e ameaça, a ansiedade que a escuridão da noite avoluma em travesseiros que não se tornam os melhores conselheiros ... o medo do que virá, do que nos espera na próxima esquina ... o medo real ... muito além de nós. Pelos nossos !
De facto, quando o chão nos foge debaixo dos pés, quando não depende do nosso querer, do nosso empenho ou esforço a resolução das questões que oscilam entre a saúde e a doença, entre a vida e a morte ... quando de gigantes nos tornamos pigmeus na aleatoriedade da existência, é que percebemos como não passamos de meros peões neste jogo de xadrês que é a Vida !
Faz-me tanta falta aqui a força da minha mãe, a coragem face à adversidade, aquela sensação de asa protectora que aninhava, que cobria, que defendia ... aquela sabedoria de mulher simples, mas velha, experiente e doce !...
E depois há o silêncio ... a força torturante do silêncio ...
Há quantos meses eu vivo em silêncio ? Há quantos dias eu falo comigo mesma, olho os gatos que, esses sim, apreciam pairar quase só ... e não desmancho de nenhuma forma o nó sufocante que me aperta por dentro ?!
E depois o silêncio que gera silêncios, no desábito de falarmos ... na habituação à ausência de sons e de sinais de vida entre estas quatro paredes ... Solidão ...
Estou totalmente desestruturada, desmantelada emocionalmente. Estou sem armas, sem resistências, sem nós e sem âncoras ... e isso assusta-me, isso inquieta-me, isso tira-me o equilíbrio que me importa para continuar à tona ... isso, apavora-me ... Esse auto-controle que me escapou por entre os dedos, gera-me exactamente esse sentimento inquietante ... pavor !
Cansaço ... um cansaço atroz que já só desperta lágrimas desobedientes e inoportunas, por tudo e por nada. Um sentimento assumido de nada valer a pena. Uma inércia que me tolhe, me paralisa e não me deixa dar um passo ... nem que seja em busca de ajuda ... nem que seja em busca de palavras ... nem que seja em busca de gente ...
Não sei. Não sei mais nada ! Só sei que estou morta por dentro ... isso sim !
Anamar