sexta-feira, 28 de maio de 2021

" DAS TREVAS À LUZ "



" Das trevas à luz ", literalmente falando...

"Troquei" de olhos, ou melhor, até parece que troquei !
No passado dia cinco, intervencionei a catarata e a miopia no olho direito e três semanas depois, submeti o esquerdo à mesma situação.  Tinha miopia desde a adolescência, usei lentes de contacto mais de trinta anos, pois sempre abominei o uso de óculos, até que por intolerância às mesmas, acabei por não ter alternativa.
Com o avanço dos anos, todas estas situações são de absoluta normalidade, e deitando mão de actualizações sucessivas de graduação, lá fui andando, até ao momento em que, frente à televisão instalada pouco mais longe do que os pés da cama, comecei a ter uma desfocagem acentuada das imagens.  Uma espécie de cortina parecia opacizar-me a visão direita.  
As legendas, se brancas sobre fundo claro, inviabilizavam a sua leitura, as fotografias tiradas, depois de visualizadas no computador, acabavam revelando que o que eu julgara focado e perfeito, não o era ... e a qualidade de vida mostrou-se claramente insatisfatória.

Se a passagem do tempo me assusta, me entristece e me revolta, sentir-me objectivamente limitada pelo mesmo, mata-me por dentro.

Procurado um oftalmologista referenciado, revelou-se necessário implementar todo o processo de intervenção cirúrgica às cataratas. 
A minha mãe já o fora a um dos olhos, e hoje lamento não lhe ter proporcionado a realização da sua vontade de o ser ao outro, conforme o verbalizava algumas vezes.  Não o fiz estupidamente, pois tendo ficado praticamente imobilizada, restringida a uma cadeira de rodas, entendi não dever submetê-la a mais uma operação, atendendo à idade que já tinha.
Hoje e agora, a partir da experiência que acabo de vivenciar, penso tanto na injustiça que cometi e da qual tanto me penitencio !... 😥😥😥

Assim, iniciei todos os exames necessários para ser operada já em Fevereiro de 2020  (o que veio a gorar-se ),  já que a Covid19 chegou e jogou todos os planos das pessoas por água abaixo.
O medo que então se vivia, o receio da exposição ao risco no período em que ainda pouco se conhecia sobre a pandemia, sua transmissibilidade, contágio e propagação, as sucessivas quarentenas a que o país se submeteu, todo o figurino de vida que passámos a viver, inviabilizaram totalmente o percurso normal das existências.
Os médicos deixaram de operar, excepto em situações graves e inadiáveis, os hospitais e todo o pessoal de saúde com ela relacionado foi mobilizado, bem assim todos os espaços físicos a nível público e privado foram reclamados a disponibilizarem-se, como áreas de Covid.
Tudo ficou portanto, suspenso.

Agora, mais de um ano depois, e com alguma normalidade relativa nas nossas vidas, retomei o processo interrompido, inevitavelmente agravado pelo tempo entretanto transcorrido.
Felizmente tudo se tem processado dentro do previsível, as intervenções foram bem sucedidas e a recuperação está a fazer-se satisfatoriamente.

Como uma máquina perfeita que é, o nosso organismo vem habilitado com muitas e variadas valências, desempenha muitas e variadas funções, está apetrechado para responder a muitas e variadas exigências. 
Mas também, como todas as máquinas, sofre o desgaste dos tempos, as vicissitudes do desempenho, as falhas inerentes a um trabalho exaustivo, inimaginavelmente complicado.
Vamos percebendo que, mesmo nas situações de grande sucesso, tudo é efectivamente relativo, e os "prazos de validade" inapelavelmente sempre são anunciados e se aproximam.
Nesse contexto, acredito que o sentido da visão seja talvez um dos elegíveis, como prioritários no percurso do ser humano, pois embora não seja vital, confere-lhe uma qualidade de vida que eu diria aproximar-se do domínio do miraculoso.
Tal como em tudo, o Homem só valoriza quando perde... 

Alcançar a luz que talvez já não me lembrasse bem como era, abrir os olhos e rever com nitidez, precisão,  clareza, acuidade de definição, tudo o que me cerca ... poder extasiar-me com a magnanimidade das cores, o fascínio da paleta que pinta a nossa realidade ... ter o privilégio de me sentir mergulhada numa perfeição e numa harmonia que não se descrevem e são algo místico, irrepetível e  único ... sentir-me verdadeiramente abençoada pela Vida, pelo Destino e pelo Universo, por poder ser protagonistas desse fantástico regresso à CLARIDADE ... foi, sem sombra de dúvida, um dos presentes mais fantásticos e incríveis, que pude receber na minha vida !!!

Anamar

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