sexta-feira, 13 de agosto de 2021

" O MEU MUNDO DE PERNAS PARA O AR "

 



Estou a superar-me nos meus recordes.  Contudo, pela negativa, infelizmente !
Verifico que desde o dia 11 do passado mês de Julho, não escrevo nada.  Verifico que nesse mês escrevi dois posts apenas e que em Junho, um único.
Verifico que se hoje me não "obrigasse" a vir aqui dedilhar duas linhas, passaria tranquilamente mais um dia, sem que o fizesse.
Verifico também que ultrapassei já com alguma expressão, as cem mil entradas de leitores a este blogue, sem que sequer tivesse dado por isso, eu que sempre sinalizei com júbilo e satisfação pessoal, a passagem de cada dezena de milhar.  Com alegria, mas também com reconhecimento e gratidão por poder sinalizá-la ...
Verifico que escolhi como foto do mês e também do post de hoje, uma imagem que talvez fale por mil palavras, tendo-a legendado com uma frase que só por si já diz tudo : " o meu mundo de pernas para o ar "...

Na verdade, não sei se será justo epitetar desta forma a vida que detenho e vivo hoje em dia.  Objectivamente, não consigo descodificar a origem do mau estar que preenche os meus dias, a insatisfação, o cansaço e o desinteresse por tudo o que me cerca.  Analisando globalmente a realidade que atravesso, não encontraria motivos reais, palpáveis, concretos ... daqueles de tirar o sono, daqueles de nos porem o coração à boca, de nos puxarem as lágrimas, de nos levarem a arrancar cabelos, ou a desistir de prosseguir.  Efectivamente não vivo preocupações excessivas, dúvidas ou ansiedades esmagadoras, mágoas ou desgostos profundos com nada... 
Tenho saúde, ou julgo tê-la, dentro daqueles parâmetros rotineiros  de aferição da mesma.  Os meus, filhas e netos, também não me inspiram preocupação acrescida nessa área.  Financeiramente não vivo com sustos, angústias ou apertos exorbitantes.  Ao contrário, posso dizer viver uma vida com algum equilíbrio nesse campo, sem larguezas, mas também sem "roer as unhas", como "soi dizer-se".  
Acabei, inclusive, de chegar há poucos dias de uma viagem de uma semana às sempre maravilhosas ilhas açorianas, àquelas onde nunca tinha ido, Terceira, Faial e Pico, cumprindo assim um itinerário possível no âmbito das viagens, em panorama Covid.

A maioria, ou grande parte da população portuguesa não pode dar-se a esse "luxo", já que com todas as dificuldades sociais experimentadas, com um futuro de incerteza e dúvida a todos os níveis, em consequência da pandemia, a qual lançou o mundo para futuros negros, tem que encarar em termos de prioridade e quase exclusividade, o garante da subsistência diária, sua e dos seus, infelizmente num contexto pouco mais amplo do que o de mera sobrevivência.
Pois paradoxalmente, nem estes dias conseguiram tirar-me deste torpor, e darem-me mais ânimo ou positividade em relação à vida ...
E como eu, afinal, adoro viajar !  Como me sentia solta, leve, feliz, livre e com um entusiasmo renovado, sempre que há anos atrás realizava uma viagem !...

Neste momento a minha existência está parada. Pareço ancorada e fundeada num mar de distância, em águas de não valer a pena, como se o vento que me enfunava as velas tivesse sucumbido a uma volta de tempo ...
Tenho dentro de mim uma apatia, um desinteresse, um desinvestimento em relação a tudo o que me cerca. Parece que o sangue deixou de correr e o coração cessou de me pulsar dentro do peito.  Parece que experimento a sensação estranha de já nada valer a pena.  Nada que justifique empenhamento, mão de obra, sonho ... 
A sensação estranha de sala de espera de não sei que esperar. A sensação de efemeridade temporal e curteza de caminho ... Consequentemente, a sensação estranha de já só viver a prazo, no cumprimento de calendário e não mais !

Sei que tenho um feitio difícil e uma maneira de ser muito particular e complicada.  Sei que em recorrência sou deprimida e profundamente depressiva.  Mas sei que neste momento, psicologicamente preciso de ajuda médica. Não estou a conseguir endireitar-me de nenhuma forma.
Nada me anima ou estimula. A caminhada é feita com um esforço exasperante.  Ontem a Teresa passou a tarde comigo, a trabalho da mãe.  Pois foi um cansaço diabólico, e no entanto os seus quatro anos de criança cordata, simpática, fantástica e nada chata, com toda a meiguice do mundo sempre pronta a distribuir-ma, deveriam resultar em encantamento e compensação para os meus dias ...
Mas não ! 
Parei de sonhar. E quando um Homem já não tem sonhos, objectivos ou metas, não tem por que lutar, não tem o que realizar, e à sua frente só enxerga uma estrada pedregosa, escura e desinteressante !  Desnecessária !  Um vazio cruel assola-lhe a alma ...

Como eu adoraria voltar a trepar a um arco-íris de esperança, vontade e luz !...



Anamar

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