terça-feira, 11 de julho de 2023

" SUR LE PONT D'AVIGNON ... "

 



Fui ... e até parece que fiquei... De facto, nunca mais aqui voltei. Uma desmotivação total tem-me afastado das "lides literárias".  Nada para dizer, nada para escrever, na verdade uma dispersão de sentimentos, uma mornidão de emoções, uma amálgama de questões reais e objectivas, dessas que não dá para fazer de conta que não existem, têm-me remetido a um desinteresse insalubre, cinzento e meio mórbido, silente e extenuante.
Quando as preocupações da vida nos sufocam, quando as angústias connosco e com os nossos avassalam o nosso espírito, é natural que não sobre muito "espaço emocional" para nos debruçarmos sobre até aquilo que nos era vital à existência ... neste caso, a escrita, ar que respiro, oxigénio determinante ...
Enfim, como diz assisadamente, para me confortar, alguém que talvez saiba do que fala ... "não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe ... e que depois da tempestade, virá o bom tempo " ...
Limito-me portanto a esperar, dando-lhe o benefício da dúvida !

E fui, como havia dito que iria.  Fui até ao sul de França, espantosamente país onde nunca aportara até então, concretamente Marselha, Avinhão, Aix-en-Provence, Roussillon, Les Beaus de Provence, Arles, Cassis e tudo o que por ali fica, guardando a teórica esperança de ser presenteada com o espectáculo característico e fantástico desta zona, por esta altura do ano : a floração das lavandas e das alfazemas, que dessa forma pintam de roxo os campos a perder de vista.
Em vão.  Havia de facto zonas de maior exposição solar onde elas já haviam aberto os olhos depois do longo sono invernal, mas o que eu teria adorado admirar, precisaria de mais umas três semanas para ocorrer.
Paciência !
De qualquer forma, viajei, saí do marasmo diário que é a vida repetida todos os dias, e pude usufruir de outras valências que realidades desconhecidas sempre nos proporcionam.  
Tratou-se de uma viagem em grupo, bem extenso por sinal, em que o mix de personalidades, em convivência diária por muitas e muitas horas, propiciam um enriquecimento pessoal, uma partilha de formas de estar, de sentir, um confronto de valores que nos livram do tédio, da má disposição, da saturação e até do enjoo ... 😁
Acresce que o grupo é constituído por amigos, todos eles alentejanos, e amigos dos amigos, porque sendo-o, amigos são !
Além da variedade de experiências abrangidas pelo programa, desde as belezas naturais, ao bucolismo das aldeias inseridas na paisagem, a arquitectura das cidades, o fascínio das catedrais e outros monumentos, a abordagem Histórica dos lugares e das pessoas, seus hábitos e tradições, tudo  enriqueceu a viagem.
Tocámos a rota dos pintores impressionistas dos fins do século XIX, início do século XX, em que Cézanne, Renoir,  Monet, ou Van Gogh cuja atribulada e rocambolesca vida, para mim terá sido o expoente máximo. 
Visitámos inclusive o atelier de trabalho de Cézanne em Aix-en-Provence, o qual permanece intocado, com todos os seus objectos de trabalho deixados por ali, quase sugerindo que o pintor saíu por instantes apenas ... 
O romantismo das cores, dos cheiros, dos silêncios, respirados nos ocres, amarelos e vermelhos sanguíneos fulgentes, dos sólos que habitaram, só poderia mesmo inspirá-los para as obras imortais que por cá deixaram.
Do passeio de barco ao recorte fascinante das "calanques de Marselha", zona pertencente ao Parque Nacional protegido desde 2012, à Ilha d' If, ilha prisão de deportados e criminosos, envolta romanticamente na história do seu prisioneiro mais famoso, o Conde de Monte Cristo ( onde se pôde visitar a cela em que cumpriu pena ), passando pelo bairro típico Le Panier em Marselha, onde a multiculturalidade e o tipicismo de vida muito particular de quem lá vive nos remete a outras realidades, ao espectáculo multimédia a ocorrer numa pedreira ancestral, em Baus de Provence, com uma dimensão esmagadora e fascinante, exactamente sobre as obras dos pintores marcantes do Impressionismo, como referi, até à  própria povoação de Baus, recortada e construída com o calcário extraído dessa pedreira e com características em tudo semelhantes à nossa Vila de Óbidos de que tanto gosto ... foram apenas alguns aspectos que retenho com bastante agrado.



 E depois, claro, com Avignon e o seu imponente Palais des Papes, e sobretudo com a sua ponte semi-destruída sobre o Rio Ródano, regressei aos bancos de escola em que na disciplina de francês se aprendia a trautear e a dançar de roda, a modinha infantil "Sur le pont d'Avignon on y danse ... on y danse ... tout en rond " ... 
E assim foi !...

Anamar

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