quinta-feira, 27 de julho de 2023

" UM OUTRO DIA ... A VIDA A RETOMAR O RUMO ... "


Hoje no "Dia dos Avós" ao que parece, a Teresa quis falar comigo em Face Time.
Já há algum tempo que não nos víamos, pois a mãe teve uns dias de paragem laboral, depois chegou o pai para o habitual período em Portugal, e com tudo isso, a Teresa não veio cá para casa.
Entretanto ocorreu o desenlace triste com o Chico, o gato bonacheirão que ela adorava e a quem podia fazer todo o rol de brincadeiras, festas e tudo o que lhe ocorresse, porque o Chico nunca soube o que eram garras ou dentes.
Agora, eu que sempre fui chamada de "avó dos gatos", já só coabito com o Jonas que sendo igualmente dócil e muito manso, é medroso, o que o torna arisco e distante.  A Teresa, o melhor que consegue é fazer-lhe uma festa fugidia quando ele passa por ela meio a correr, e esse facto, mesmo assim deixa-a exultante e eufórica.  "Avó, consegui dar uma festinha ao Jonas !"- diz-me feliz da vida.

Pois antes de falarmos o que quer que fosse, a Teresa tinha uma pergunta "séria" a fazer-me: queria saber se eu tinha feito o funeral ao Chico.
Não consigo descortinar qual o contexto mental em que na sua cabecinha se insere esta preocupação ...
Tentei desmistificar a questão, e garanti-lhe que tinha dado ao Chico tudo o que ele merecia, lhe tinha dado muitos beijinhos dela e lhe tinha dito que nós gostávamos muito dele.
A Teresa olhava p'ra mim com uma dificuldade imensa em conter as lágrimas que teimavam assomar-lhe aos olhos.  Estava, como costumamos dizer, "embaçada", entupida com a emoção que a tomava e quase a denunciava.
Perguntei-lhe : " Estás  triste,  meu  amor ?  " Que  sim ... ( só com a cabeça ).   "A  avó  também !"💔💔

Acho que lhe poderia ter dito muito mais, para a consolar, sei lá ... coisas do tipo "ele estava doente e agora já não sofre mais" ... ou, a imagem poética com que sempre reconfortamos uma criança na hora duma perda difícil : "foi para a estrelinha onde tu sabes que está a Bi e tu vais olhar para o céu à noite e descobrir, de certeza, a estrelinha mais brilhante que lá está.  É essa, tu já sabes ..."

A realidade e a dureza da vida, que sempre tentamos escamotear ... o sofrimento, que sempre tentamos poupar a quem amamos, também me bloqueou e emudeci.
Terão tempo por certo, para que a inocência seja perdida, e a idade adulta seguramente não os poupará dos escolhos que inevitavelmente terão que enfrentar.  E assim tentamos proteger como podemos, sobretudo as crianças.

Felizmente, facilmente o seu foco de atenção mudou.  
O  cão de que gosta muito e o gato preto também, diabético também ... o "gordo" como lhe chama ... que provavelmente será qualquer dia o novo desgosto da Teresa, pois a sua saúde é precária e a idade também já lhe pesa ... chamaram-lhe a atenção à chegada a casa.
O meu embaraço desfez-se, finalmente !

Por aqui, voltei-me de novo para Enya.  Já há tempos não escutava a sua música, ela que foi minha companheira em permanência, anos e anos.
Mas parece que Enya me está destinada quando busco conforto, interioridade, silêncio, cumplicidade.  Enya representa anos da minha vida, foi imagem de muitos momentos marcantes, e continuará por certo a sê-lo.
A sua voz liberta-me, apazigua-me, transporta-me a uma dimensão celestial, velada, ao silêncio e à penumbra dos claustros de uma catedral onde, no meio da loucura e da adversidade, nos reencontramos connosco mesmos !...

Anamar

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