terça-feira, 11 de julho de 2023

" A VERDEIRA VIAGEM ... "

 


Regresso ao tema das viagens, talvez porque esteja confinada em casa com uma inesperada visita de Covid - Parte 2 ( vou chamar-lhe assim, porque sou reincidente na matéria ), o que me deixa angustiada e saturada ao mesmo tempo.  De facto, não estava  nos  meus  planos  ser  surpreendida,  mais  de  um ano  depois,  outra  vez  com  esta  "novidade" ...

Eu adoro estar em casa, aliás privilegio o tempo que aqui passo, como se num ninho estivesse.  Não fico de neura nem me apoquento. Ainda que pouca coisa faça ou desenvolva em termos de trabalho caseiro, ainda assim, o meu refúgio é lugar bem-quisto e repousante sempre.  Mas uma coisa é estar cá por opção, outra por obrigação ... Sempre assim é o ser humano !

Por isso, pensar na próxima ou próximas viagens ( porque destinos não me faltam e a imaginação sofre de ataques comichosos ... 😁😁 ), passíveis de se tornarem realidade futura, ou não passando de sonho sonhado, é uma panaceia que sinceramente aprecio e é muito do meu agrado.  É como se desta forma, como a ave que vai saltar do ninho e avalia do balanço do impulso, eu já fosse por aí fora rumo a novas paragens sem sair ainda do lugar ...
Ele há doidos p'ra tudo neste mundo ... 😁😁

Acontece que as viagens que faço, que tenho feito, que já só posso fazer, ficam por assim dizer, a anos-luz daquelas que adoraria fazer e jamais realizarei.  
Passo a explicar :  Sempre viajei, sozinha ou acompanhada, com uma rede por detrás, ou seja, espaldada numa agência, perante um programa ou projecto previamente proposto, que escolho e aceito.  Essa é a tipologia das viagens que se encaixam no espírito de viajante da minha geração.  Viagens seguras, previsíveis, vocacionadas para os sacramentais destinos turísticos, observando os lugares mais icónicos de cada país ou região, vendo o que toda a gente escolhe ver, visitando os paradeiros mais procurados e frequentados pelos forasteiros em cada país.
São por assim dizer, viagens sem surpresas, dimensionadas, calculadas sem sobressaltos, viagens "de carneirada" se em grupo, como costumo designá-las.  Talhadas por figurino prévio, vamos onde sempre vão, duma forma idêntica por cada grupo que a realiza.
Acredito que se a repetir, irei ver as mesmas coisas, não mais, irei escutar as mesmas histórias, ver os mesmos lugares, percorrer as mesmas avenidas, calcorrear os mesmos parques ...
Chamo-lhes viagens "plásticas", de fabrico em série, direccionadas para massas, talhadas para hordas de visitantes, mais ou menos interessados e disciplinados.  Têm pouca ou nenhuma emoção para quem tem um espírito inquieto e aventureiro como eu.  Curioso, também ...
São sem dúvida, viagens excelentes para acrescentar carimbos nos passaportes, como testemunhos de que já fomos àquele país.  E há pessoas que parecem pouco mais serem que apenas fãs deste coleccionismo ...
E desde que deixei de viajar só, a fasquia ainda desceu mais, porque aquela sensação gostosa de liberdade, de adrenalina, de auto-gestão que o facto de todas as escolhas e decisões se centrarem exclusivamente em mim, desapareceu, deixou de ser vivenciada.
Tenho saudades de, por exemplo, me ver em escala no aeroporto de Singapura ou Dubai, pelas quatro da manhã, sentada no chão a queimar o tempo observando com curiosidade toda aquela "fauna" que por ali circulava igualmente em trânsito, num aeroporto que nunca dorme ...
E como era interessante observar povos diferentes, hábitos diferentes, posturas diferentes ... ainda que fosse madrugada e o sono espreitasse há muito ...
Ou quando em Heathrow, igualmente no meio de uma viagem, também pela madrugada, o cansaço me levou a deitar nos bancos do aeroporto, cabeça na mochila, a passar pelas brasas, e por pouco não fiquei lá, tão profundamente peguei no sono ...
Ou quando em Bali ou em Zanzibar escolhia as opcionais que me interessavam e lá ia eu, só com o condutor do carro contratado, em busca da aventura de lugares exóticos, parques inóspitos, mercados fascinantes ...
Enfim, eram sensações preenchedoras, gratificantes, inesquecíveis ...

Mas tudo isso não representa a "verdadeira" viagem.  Porque essa, leva-nos ao âmago das gentes, leva-nos às vivências das terras, dos lugares, dos hábitos, das histórias, dos costumes ... das realidades outras, por esse mundo fora !...
E essa, nunca fiz na verdade, e também, nesta encarnação jamais farei ...
Nasci atrasada, fora de época, sempre vivi desenquadrada do possível, da correnteza, do que era ...
O meu espírito e mente de "mochileira" do destino, não podiam caber na geração em que nasci, nas épocas que atravessei ... não se compadeciam com as responsabilidades que desde cedo nos espartilhavam, num figurino familiar que se assemelhava a um qualquer determinismo da existência ... 
Invejo ... como invejo os jovens de hoje que desde os "erasmus" da vida, aos "inter-rails", aos intercâmbios temporários de países e famílias, se aventuram e partem, e experienciam e desvendam mundo fora novas realidades, novos rostos, novos gostos, novas vivências, sem peias ou grilhões que os prendam ... E tudo é um enriquecimento que não tem preço ou valor ... tudo é VIVER!
Como invejo estes cidadãos do mundo, neste mundo global em que as fronteiras não são mais baias ou limites, e as portas estão escancaradas ao sonho !!!...

Resta-me sonhar do sofá, resta-me "voar" pelas fotos, resta-me reescrever ou redesenhar o que nunca escrevi ou desenhei verdadeiramente além da imaginação, da vontade e do sonho ... e esse, felizmente é livre, independe de todos os condicionalismos que a realidade nos impõe, com que nos verga e coarta !!!...

Anamar

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