sábado, 14 de março de 2009

"PRINCÍPIO E FIM"

Definitivamente a minha cabeça anda totalmente conflituada.
De há uns tempos a esta parte, parece que o "meu" planeta se virou do avesso, se misturaram alhos com bugalhos, nada é conexo, não se encontram linhas de coerência, lógica... em suma, é tal e qual como quando procuramos algo numa gaveta que esteja totalmente desarrumada...ou melhor, é tal e qual como quando se abre essa tal gaveta, se mexe e remexe e nem se sabe bem o que se anda a procurar...
É o chamado "caos".

Assim eu ando, assim anda o meu estado de espírito, uma inércia crescente a instalar-se, uma inabilidade gritante para gerir isto, uma falta de vontade que me ultrapassa e se estende a quem me rodeia, ilhando-me de tudo e todos, tornando-me num caracol cobardemente escondido na casca.
Estou parda, baça, sem entusiasmo, sem horizonte, apagada, sem projectos.
E sem projectos, sejam lá quais forem, o ser humano não vive, eu acho.
Só me apetece dormir, abençoada anestesia para este desgraçado estado de vida...

Nem escrever, escape de tantos dias "invernosos" na alma, ou alegria de tantos outros "ensolarados" no coração!...

Bom..."pari" um texto vai p'ra mais de quinze dias...um texto sobre nada em especial, apenas algo em que pensei nesse momento e que versa alguma coisa que me assola recorrentemente.
Provavelmente não tem nenhum tipo de interesse, a não ser, se calhar, o levar a confrontar-me de novo com a conclusão de que não tenho os "parafusos" totalmente no lugar(coisa que sei há muito..)
Mesmo assim, aqui vai, independentemente de quem me ler, corroborar exactamente o que acabo de afirmar...



"Odeio despedidas; odeio fechar de portas; odeio terminar livros, porque me incomoda a sensação da viragem irreversível da última página.
No fim de qualquer sessão de cinema, se o filme tiver sido importante para mim, é vulgar permanecer ainda sentada como que anestesiada, na semi-obscuridade da sala, sentindo a nostalgia estranha de uma história acabada de contar.

Tudo isso me sabe a "morte"; tudo isso me anuncia fim; tudo isso me lembra aquele sol que jamais repete o mesmo ocaso, aquela folha que o Outono arrebatou do galho ao chão e do chão ao nada...
Vivo sempre obcecada com o irrepetível, com o definitivo, com o que é, mas jamais será...

Tudo muda, tudo avança, tudo "caminha" adiante, e tudo isto parece estúpido de óbvio. Claro, toda a gente, se pensar dois segundos a propósito, sabe da impermanência das coisas, sabe da impossibilidade de pôr a cassete em "pausa", quanto mais fazer o seu "rewind"...

No entanto dou por mim, sempre, mas sempre (o que me deixa um gosto de amargo na boca e de desconforto no coração), quando visito um local de não muito previsível repetência, a, antes de fechar a porta e sair, percorrer demoradamente todas as divisões, olhar cada canto e recanto que partilhou comigo história durante algum tempo, fixar, como se pudesse fixar mesmo, determinados e insignificantes pormenores, num "close-up" que jamais se apagasse.

É vulgar reter as cores, a luz, os sons, os cheiros (como se dessa forma, os arquivasse numa qualquer Torre do Tombo da minha memória), e é vulgar sentir um aperto no peito, enquanto digo convictamente só de mim para mim: "aqui já não voltarei mais..." (como se me estivesse anunciando uma despedida);

É uma espécie de convicção meio absurda, pois que afinal, sabemos lá nós que voltas a vida nos dá, que peripécias ainda nos prepara, sabemos lá nós, se e por que razão, não poderemos efectivamente ali voltar??!!...
Mas é uma sensação estranha e incómoda, na verdade, a que me invade, contra toda a lógica racional que me impinjo ao mesmo tempo.

E ali, naqueles escassos e fugidios momentos, experimento de facto, claramente, a insignificância, a irrelevância, o efémero, o nada que é a vida de cada ser humano, face à infinitude e à perenidade da VIDA, este gigante meio abstracto, meio irreconhecível, esta roda dentada, de engrenagem que nos domina, este "buldozer" que nos toca adiante sem que possamos esboçar sequer um gesto de reclamação ou de assombro...
Aquilo que ali passa, na minha cabeça, é um virar de página, é um fechar de porta, é uma despedida, é um fim de livro ou filme...é um epílogo de estória...

E fico mínima, quase invisível e transparente face à intemporalidade dos rochedos espalhados a esmo, face aos líquenes e musgos indiferentes (que sempre ali estiveram, estão e estarão), face à música dos pássaros ou ao cântico dos riachos insensíveis, por entre as penedias... simplesmente porque esses, não terão por certo, a noção de princípio ou fim!..."

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois,...
Notei a tua ausência, por estas bandas. Presencialmente já assim não é, felizmente. Adorei o texto, adorei o livro que partilhaste na quarta-feira passada.
Confesso que ando bastante alheada de muita coisa de quase tudo...o desalento é grande.
Neste momento nutro pouco interesse pelo que me rodeia..o futuro é tão incerto...
Sinto que à nossa volta tudo escurece, o pior das pessoas está a surgir, subtilmente, meticulosamente...
Estou triste, mais do que nunca...e hoje é só segunda-feira.

Beij

Maria Romã

anamar disse...

Maria Romã
Estaremos de facto muito próximas, no ânimo, na força, na vontade, no sentir...
E digo-te...tudo isto é um passo curto para nos tirar o gosto por muita coisa, o gosto pelo até valer a pena "acordar"!...
Um beijo grande
Anamar