quarta-feira, 18 de março de 2009

"QUANDO OS PESSEGUEIROS VOLTAREM..."



A minha praceta ganhou vida outra vez...
O sol chegou; com ele os cheiros a Primaveras anunciadas; com ele, flores, algumas, muitas, a revestir os galhos dos projectos de árvores, que nem por isso deixam de ser Natureza, Terra, Vida...

A D.Madalena, mais só que na Primavera passada, já tomou, logo após o almoço, lugar, ombro a ombro com tantas outras D.Madalenas da vida, que queimam horas sobre horas, silêncios sobre silêncios, memórias sobre memórias nos bancos daquela praceta.
Acredito, pelas expressões de rostos apáticos, que a "luz" se vai apagando, e até aquele fôlego nunca esgotado, por cada ano que desce no calendário, vai esmorecendo, vai deixando de valer a pena, naquele linguajar meio de surdos que por ali se estabelece.
A D.Madalena anda bem mais devagarzinho (já deu p'ra perceber); os olhinhos perspicazes de garça real, ficaram mais pequeninos ainda, lá no fundo daqueles "fundos de garrafa" em cada olho...mas parece que embaciaram, ao ritmo da decrepitude acentuada.
A vozinha de falsete mantém-se, mas os tempos de silêncio já se lhe sobrepõem. Em contrapartida, o olhar "esqueceu-se" num qualquer lugar que eu não descubro, na praceta...

E há pássaros que se desafiam em trinados de promissores acasalamentos; e há crianças que correm e brincam e rebolam em alegria de vida, nos retalhos de relva verde; e há flores rosa, bem rosa, galho acima, galho abaixo, a lembrar que chegou o calor violador; e há jovens, "bué" de jovens, desafiadores, a desfilar uma juventude provocadora...injustamente a "vender" sonhos, creres, alegrias esfuziantes, pelo meio daquele filme de 8 milímetros...

E eu a ver, do meu sétimo andar, aquela galeria de casa de repouso, ao ar livre; a observar o grotesco daquele antes e depois, a analisar a deprimência a que somos reduzidos (talvez não se dê por isso...não sei ) pelo ciclo imparável que nos corrói de mansinho, que nos trucida com meiguice, anquilosando-nos os neurónios, atrofiando-nos a visão, fazendo com que só oiçamos o pouco que garanta a integração, AINDA, no meio que nos rodeia...dia após dia, sem revolta, sem mágoa, com uma indiferença e um distanciamento misericordiosos...

Como será na próxima Primavera???
As flores cor de rosa voltarão a revestir com pujança os braços que abraçam a praceta...mas quantos lugares vazios já foram ocupados pelo mais próximo da "fila"??!!...

Apenas o sol não nos faltará, os pombos também não...mas também para mim, como para todos nós que vamos seguindo em "fileira ordenada", o rosa dos pessegueiros vai-se tornando mais e mais, um retrato a sépia nas nossas vidas...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Ola Ana
Mais uma vez sem acentos e caracteres compostos.
Plantei um pessegueiro a tres anos.O ano passado deu 6 pessegos.
Mas este ano esta todo florido.
Esta lindo.
Um beijinho

Fernando

anamar disse...

Olá Fernando
Estes "meus" pessegueiros são ornamentais apenas, o que não significa menos belos...
Junto da minha porta há dois, os tais que estão cobertos de flores rosa e emolduram a praceta.
Vais ver que o teu, este ano, te presenteia com bastantes mais frutos...o tempo já está estival!
Beijinho
Anamar