sábado, 8 de fevereiro de 2014

" TU DORMIRÁS ... "



Meu amor, um dia destes vou sair pé ante pé,
naquele sussurro de andar, que não acorda ninguém,
naquele caminhar sobre nuvens de algodão ...

Aqui dentro, já não dá !
Há demasiado frio e escuridão, e eu tenho medo do escuro.
Lá fora chove, mas eu faço de conta que é Verão,
Até porque as gaivotas brincam nos céus bem à minha frente,
Os narcisos, as mimosas e as cantarinas já se enfeitaram por aí ...
Faço de conta que te tenho,
brinco de rebolarmos na erva fresca,
ou de apanhar carrapetas, nos carrasquinhos do monte ...
e cogumelos acabadinhos de acordar ...
Brinco de ter uma lareira que me aqueça a alma ...
ou então espero pela Primavera,
porque aí, sim,
já posso seguir nas asas de uma borboleta,
ou debaixo da asa de um pintarroxo !

Seja como for, eu prometo sair pé ante pé,
para que não fiques órfão dos meus braços,
saudoso do meu colo,
despido da minha pele,
amputado da minha nudez ...

Também podemos brincar de faz-de-conta ...
Eu faço de conta que acredito no amanhã,
faço de conta que não oiço a tempestade aqui no meu peito,
(abafada que é, pelo rugido do mar,
nessa savana, de algas, búzios e conchas ...)
Eu faço de conta que ainda te espero ...
mas isto, só porque quem nada espera, está morto e não sabe !...
Faço de conta que não estou louca,
já que distribuo gargalhadas, que voejam por sobre a copa das árvores ...
fazem eco nas clareiras sombrias,
e assustam as aves nocturnas !
Vou esquecer que já te esqueci,
quando esquecer que estou a brincar ...

Meu amor, promete que não me chamas,
porque os teus braços já não chegam p'ra me aninhar,
os teus beijos eram  papoilas dos campos do meu Alentejo ... e murcharam ...
e o teu calor gastou-se, abrindo as corolas das madressilvas ...

Até porque tu dormirás ...
e eu prometo sair nos bicos dos pés !...

   

Anamar

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