Será um blogue escrito com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções de cada momento... É de mim, para todos, mas também para ninguém... É feito de amor, com o amor que nutro pela escrita...
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
" OLHANDO P'RA DENTRO DE MIM ..."
E o céu lá longe, fechou com uma estranha sobreposição de nuvens, como frente de rebentação no areal deserto. Por detrás daquela abstracta imensidão, um fogacho laranja iluminava ainda o firmamento no estertor final do dia !
Era mais um dia de Novembro, deste Novembro pardo, que sempre se veste de ocres queimados, de vermelhos envelhecidos, ou de verdes recolhidos, em tons de musgos beirando o Natal.
As montanhas no firmamento pariam água, água e mais água, neste nosso desconforto de desesperança !
Frio ... já algum frio, que me parece mais interior, ainda assim .
A menos que a solidão seja gelada ... Acho que a solidão é gelada, sim !...
Não há sobre o que escrever, a não ser que eu devasse janelas que se iluminam, penetre nos espaços de aconchego, me deixe embrulhar em sonhos que sempre voejam por aqui, que não são meus, mas são levados nas asas estendidas das gaivotas que recuaram.
Desistiram de mar, desistiram de escarpas empoleiradas, desistiram de inventar praias de maré baixa ... e o seu grasnido ecoa em agudos estrepitantes, pelos céus.
Lá de cima, já se deve ver o Natal, a progredir em passadas largas. Os azevinhos engalanados enrubescem, e pingam as bagas encorpadas, ao longo dos caules espinhosos.
Daqui "vejo" a mata. Vejo a serra penumbrenta, a cheirar a terra molhada, parideira de frutos e tímidas flores de Inverno. Cheira a carqueja, cheira a lareiras distantes, e cheira à humidade que amarinha pelas pedras e pelos troncos ... As clareiras escureceram, neste dia apagado há tempo já ...
Os castanheiros bravos deixaram de cuidar dos seus ouriços entreabertos, que espreguiçaram as castanhas, a esmo, pela terra fria ...
Daqui "vejo" o mar. Vejo as falésias e as gargantas profundas das arribas, a contorcerem-se, no açoite impiedoso da rebentação ...
Vejo o verde das rochas, tapadas e destapadas pelo impudor das marés.
E vejo o véu deixado na areia molhada, pelo noivado permanente das águas, que sempre chegam e sempre partem ...
Como tudo na vida ...
E chega-me o cheiro. O cheiro doce e salgado das maresias ancestrais. O cheiro do pilriteiro maduro, das urzes e das estevas do bosque, Dos cedros, dos abetos, do gilbardeiro e das roseiras bravas. E todos os cheiros que eu quiser, porque sou livre de os inventar ...
E chegam-me todas as emoções adormecidas no meu eu. Reúno os escombros dos sonhos sonhados, e fecho os olhos, numa dolência de recolhimento, de entorpecimento da alma ... de cansaço indiferente, que já não se subleva, porque não tem força para se erguer ...
Chega-me tudo ... tudo o que estranhamente duvido ter sido ... porque parece que nunca foi .
Chega-me a palidez de sépias antigas, o sombrio de memórias que tiveram cor, e luz, e cheiros e risos ... e murcharam no pé , como um botão de camélia que não teve força para abrir ...
E sinto-me a fenecer, como o sol precário desta tarde, a desistir ...
Anamar
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