segunda-feira, 12 de outubro de 2015

" MAIS QUE UMA TRILOGIA ... "




Os melhores companheiros das janelas, são o gatos.   Os gatos e as flores.

Os gatos maravilham-me, as flores sempre me deslumbram e as janelas  ... as janelas, já sabem, fascinam-me e desafiam-me.
Contam-me histórias intermináveis, de quem é e de quem foi, do agora e do antes, dos segredos ou das conversas banais.
Uma janela é um pouso sem tempo.  É uma pausa, para seres sem pressas ou compromissos.
São locais de luz e de vida.  As flores buscam-nas, e nelas sorriem, florescendo.
Os gatos aninham-se-lhes nos parapeitos, semi-cerram preguiçosamente os olhos, transformando-os numa fresta desenhada, e alongam-nos rumo ao nada e ao tudo que só eles vêem ...

Os velhos também.  Os velhos também as buscam, também as amam.
Junto à janela, tomando os raios de sol que a atravessam, quase sempre dormitam.
Às vezes "cuscam" o movimento de quem lhes anima os dias.
Meditam, distantes, e deixam-se ir, com aquele ar sapiente, legado do destino ...

A mim, as janelas aguçam-me o espírito.
Mas  não  as  janelas vulgares das colmeias urbanas.  Essas, são todas iguais, incaracterísticas, insípidas ...
Essas, são demasiado jovens para terem grandes coisas para contar ... porque as não viveram ...
Interessam-me as janelas com carisma, com porte, com estirpe.
As  janelas  concebidas  com  maestria,  por  artistas  que  ainda  tinham  tempo  para  as  conceber ...
Ou simplesmente aquelas em que a patine implacável do tempo, lhes conferiu aristocracia, dignidade ... lhes deu "marca", singularidade ... distinção !

Essas, têm histórias intermináveis, no seu espólio da memória.
Histórias de felicidade, ou histórias de intempéries de vida.  Histórias de dor, mas seguramente também, histórias de muitos risos e alegrias.
A pé firme, continuam a atestar os percursos das gerações que por elas passaram, e só não no-los desvendam, porque  aquelas  pedras, discretamente,  há  muito  desistiram  de  falar ...
São baluartes de  sonhos sonhados.  São testemunhos de projectos cumpridos.  São histórias da História das gentes que as viveram.

E depois, quando os anos que não perdoam, por elas passam, quando a sua tirania indiferente, como furacão, as abala, quando tudo à sua volta sucumbe e desiste ... ainda assim, aqueles aros esventrados permanecem hirtos, inabaláveis, com a coragem e a determinação dos fortes.
E oferecem-se então, generosamente, como molduras reais, às plantas livres e selvagens que as amarinham e as entrelaçam ...
As vidraças que as compunham, estilhaçaram há muito.  Já não delimitam o dentro e o fora, de antanho ... Mas mais bonitas do que nunca, deixam-se possuir com deleite, ostentando em segredo, o silêncio da eternidade, gravado em cada recanto secreto, em cada pedra instável, em cada musgo atrevido !...

Janelas ... janelas ... janelas ...

Velhos, gatos e flores ... Muito mais que uma trilogia !
Com  elas, as janelas, uma combinação perfeita ... uma estrada que se foi partilhando !...




Anamar

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