quarta-feira, 7 de novembro de 2018

" UMA MULHER SEM IDADE "





Dentro de dias aniversario.
Não, ainda não sou septuagenária !  Falta algum, razoável tempo para que o calendário dos Homens o determine.
Isso não me representa uma preocupação relevante,  por eventualmente me poder atormentar a ideia remota, de que o "caminho" se faz  caminhando irreversivelmente em direcção àquele momento comum a todos, mais cedo ou mais tarde, pelo simples facto de estarmos vivos e termos a condição humana.
Não penso muito nisso, intencionalmente, pois não me permito deprimir-me com algo que foge ao meu controle.
Bem ao contrário ... e porque me sinto viva e bem viva, tenciono retirar dos meus dias, do meu caminho, dos meus sonhos ... toda a mais valia possível.

Diariamente aceito para mim, com ambas as mãos, as braçadas de flores silvestres que o destino me deposita no colo.

Diariamente me deixo impregnar dos aromas, das cores, dos sons da vida ... porque a mereço e acho que me são devidos.

Diariamente me deixo extasiar com as bênçãos derramadas, sem que o peça.  Sem que o mereça ... tantas vezes !

Diariamente procuro encantar-me com os milagres operados em meu redor :  o sorriso no rosto dos meus netos,  os seus sucessos, as suas dificuldades ... o que de bom lhes ocorre, e o que de menos bom os surpreende.  O despontar da Teresa, dia após dia, os primeiros passos, as primeiras palavras ...
As angústias e incoerências duma adolescência a instalar-se, da Vitória ...
A iniciação difícil no mundo adulto, do António e a ingenuidade,  a criancice, a brincadeira constante e a meiguice do Kiko ... Porque tudo isso é vida ... é destino.  Tudo isso é a história da minha continuidade ...

Diariamente, agradeço o milagre da amizade quente e generosa dos meus amigos.  Todos ... Os  que estão  perto  e  os  que  de  longe  continuam  a  "saber-me" .  E  são  felizmente,  muitos !

Diariamente agradeço todas as curvas e curvas da estrada, palmilhadas às vezes com neblina cerrada, outras, com sol claro e céu transparente ...
Toda a coragem, a firmeza e a determinação ... mesmo quando fica difícil e parece não haver já, horizonte !...
Porque seguramente esse é o caminho que me foi dado a percorrer.

Diariamente agradeço o milagre de todo o amor que generosamente me envolve.  Do possível, e do nem sempre possível.  E o poder bastar-me com ele, com gratidão na alma e esperança interminável no coração !...

Não, ainda não sou septuagenária !  Aliás, sou uma mulher sem idade!
Tenho a força de uma juventude que me anima e faz acreditar.
Tenho os sonhos de uma adolescente com as hormonas aos saltos ... ainda ... sempre !
Tenho a fé e a aposta dos meus trinta, quarenta ... talvez cinquenta anos.  E tenho a maturidade que as rugas e os cabelos que não deixo embranquecer, me conferem !  São sinais. São marcos ... são pedras do caminho, com que, como o Mestre, vou construindo os meus castelos !

Amo a vida.  Amo acordar incoerentemente, dia após dia.  Amo surpreender e surpreender-me.
Amo o desafio.  Derrubo o cinzentismo.  Enjeito o estabelecido ... se o não quiser.
Contrario o imposto ... só porque sendo, terá que ser ...
Não ... tenho em mim a força do "não", se o entender.   E cada vez mais, o livre arbítrio das minhas escolhas.   Não baixo a cabeça a convenções. Não me escravizo ao bem parecer.  Tenho em mim a irreverência, quase sempre gostosa e não arrependida ...
E  um  coração  pleno, quando revejo  os  meus  trilhos, no  colorido  da aguarela que  os pintou !...

Esta, sou eu !

E não, ainda não sou septuagenária !!!...

Anamar

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