terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

" LAMPEJOS DE FELICIDADE "






Abrindo o Facebook, e porque é preceito desta aplicação, de quando em vez nos refrescar a memória com "memórias" nossas, postadas anos atrás - textos publicados, fotos partilhadas de eventos que vivemos, comentários de amigos, a propósito ... enfim, aquelas coisinhas que quase sempre nos aquecem o coração e adoçam a alma - surgiram-me fotos de férias  passadas no Brasil em 2015.
Foram duas semanas divididas entre a Amazónia e o Pantanal, culminando um sonho antigo, acalentado ao longo dos anos.  Mais precisa e principalmente, desde que na televisão foi exibida uma novela inesquecível, de que não perdi um só episódio : " Pantanal".

Apesar de ter uma ideia mais ou menos formada portanto, do que seria essa privilegiada região do Brasil, a distância entre a imaginação e a realidade, configurou-se num fascínio, num emaravilhamento, numa felicidade simples, plena e serena, face ao Paraíso que lá me esperava, sem que haja adjectivos sequer que as aproximem.

Bom, mas a razão por que escrevo este meu post, não se prende exactamente com o intuito de descrever o que foram, de facto, esses dias.
Verifiquei e reli outra vez, todos os comentários tecidos por quem visualizou as fotos de então.  Entre eles, saltaram-me aos olhos algumas palavras deixadas pela minha filha mais nova.
Relembrava nelas, com um saudosismo perceptível, os tempos em que a série passava, num enlatado semanal de todos os episódios, aos sábados fim da tarde / noite.  Era ela então adolescente, com dezassete anos.
Como eu, fascinada pelas belezas naturais e pela magia que o Pantanal encerra, era também assídua e entusiasta espectadora.
E como a exibição era longa ... e como não havia na altura possibilidades de rewinds, gravações em box ou outros artifícios que permitissem uma visualização mais ao nosso jeito, carecia assegurarem-se por perto, alguns mantimentos e vitualhas que fizessem daqueles fins de dia, sem outros especiais programas em vista, verdadeiros e indeléveis picnics.
Era uma delícia ... tostinhas no forno com queijo derretido e paio alentejano, chocolate quente, um ou outro docinho ... e mais o que lembrássemos na altura.
Se era Inverno, assistíamos mesmo  na televisão aos pés da cama, no quente dos cobertores.  Era um ritual quase sagrado e muito gostoso !...

E ali ficávamos nós duas, sem pressas, vivendo os sobressaltos com a onça pintada, os receios da sucuri ou da surucucu  traiçoeiras, olhando a garça branca rasando as águas, ou o tuiuiú descendo com a corpulência das asas esticadas.  Ali ficávamos,  deixando-nos levar pelo som do berrante dos peões, no comando das comitivas, na transumância das boiadas, ou simplesmente nadando com a Juma nas águas mansas e caladas, por onde a chalana  melancólica e silenciosa, deslizava ... 

E vivendo, magicamente, através da história contada, a vida simples, livre e despreocupada descrita numa narração que nos transportava no sonho, através dela, ao outro lado do mundo... o Pantanal !...  

Eram sábados sem pressa, eram tempos com tempo para partilha, para diálogo, para rirmos e também para imaginarmos ser possível um dia, quem sabe, nós duas, cumprirmos o desejo de por lá andar também...
Eu, realizei-o exactamente vinte anos depois.
Ela, ao rever as imagens, lembrava e dizia : " o Pantanal ... tempos em que eu era feliz e não sabia" !

A vida também é isto ... pequenos lampejos de momentos felizes ... bocadinhos de bem estar e cumplicidades,  mesmo que nem sequer o tivéssemos suspeitado !!!...

Anamar 

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