quinta-feira, 24 de setembro de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - ainda sinal dos tempos ...

 


Iniciar o dia ao som desta Ave Maria, só por si uma melodia celestial, recheada de imagens esmagadoramente belas, foi um privilégio concedido hoje, por uma amiga.  Uma espécie de miminho ou afago no coração ...

Invariavelmente, antes mesmo de emergir das cobertas, começo os meus dias tentando situar-me no que entretanto chegado ao telemóvel  ( até então com o wifi desligado ), me relaciona com o mundo lá fora, me situa no borbulhar da vida que nunca pára, e que sempre se vai fazendo à revelia do sono dos mortais ...
Se em tempos atrás as pessoas se comunicavam quando necessário, quando um ou outro acontecimento exigia comemoração especial, ou havia que actualizar notícias sobre um ou outro amigo do qual não se sabia ... neste momento e desde que a pandemia da Covid nos caíu em cima, as pessoas comunicam-se por tudo e por nada, pela simples razão de nos sabermos vivos, nos sabermos bem, nos sabermos amados, queridos ... e consequentemente preocupados uns com os outros, na solidariedade expressa, quase único rosto visível de afecto possível, em período de confinamentos, distância social e outras restrições.
Em tempos de angústias, medos, incertezas, mas também de silêncios, solidão, saudades e tristezas ... o "pingue-pingue" das notificações no telemóvel, a chegada de correio reconfortante, amparador ou potenciador de boa disposição, vindo de amigos, conhecidos ou simples contactos virtuais, é uma bênção que pela manhã de cada dia, nos mostra que os afectos, a amizade e o amor, são cordões invisíveis que vencem barreiras, distâncias, ausências, dificuldades e todas as atribulações inimagináveis, e estreitam no mesmo abraço único, aqueles que se querem bem ...
São sinais inequívocos de presença, de humanidade, de solidariedade, cumplicidade e partilha que nos aquecem a alma !
São desejos de bons dias, boas noites, boas tardes, dias felizes, que atravessam o éter e nos mostram que algures por aí, mais perto ou mais longe, alguém pensou em nós, nem que por escassos momentos, alguém dedicou um pouco do seu tempo a conseguir estampar-nos um sorriso no rosto, soltar-nos uma gargalhada no ar,  ou às vezes uma lágrima de emoção e carinho !

Hoje, as imagens deste vídeo e a sonoridade dos acordes da Avé Maria, remeteram-me por esse mundo fora no deslumbramento de arquitecturas sem adjectivos que as qualifiquem, inebriaram-me no silêncio dos claustros, ressoaram-me nos passos que fiz pelas naves das catedrais, maravilharam-me pela luz coada de vitrais, que não são mais do que um rendilhado entretecido de vidro, de cor e de mistério ...
Transportaram-me por instantes à pequenez daquilo que sou, à dimensão irrelevante da efemeridade do ser-se humano !
Levaram-me através dos tempos, das eras e da Vida, aos artesãos da pedra, aos construtores dos sonhos e aos realizadores da Obra ... que fica e ficará para todo o sempre !
Carregaram-me a nostalgia da infinitude, o distanciamento do inalcançável, a puerilidade do grão de poeira que todos somos por aqui !...
E inevitavelmente pensei :  tanto mundo a conhecer ... e tão curta e breve a Vida !!!...

Até amanhã !  Fiquem bem, por favor !

Anamar

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