domingo, 4 de novembro de 2012

" A CABRA - CEGA "


Como se chama alguém que erra, sabendo que erra, alguém que faz exercícios de mentalização para não errar, não conseguindo evitar o erro sistemático ??

Alguém que racionaliza, abre caminhos, conhece estradas,  não falha itinerários, mas ao chegar aos locais, se baralha todo, troca as mãos pelos pés, parece enganar-se deliberadamente,  não ouve,  não vê,  pára  de sentir,  recusa pensar,  e às cegas,  numa  noite  escura, com  os faróis do carro fundidos, ainda assim, teima em seguir a cem, pela autoestrada ???

Como se chama alguém adulto, consciente, totalmente imputável dos seus actos, teoricamente com capacidade mental e intelectual, que joga à "cabra-cega" ???...

A "cabra-cega" é aquele jogo de meninos, em que, com os olhos vendados, nos volteavam sobre nós próprios várias vezes, e em que depois, entontecidos, tentávamos apanhar os amiguinhos, que em roda de diabinhos à solta, riam, gargalhavam, nos tocavam e fugiam, nos puxavam, nos aliciavam ... e que raramente apanhávamos ... numa espécie de orgia de crianças endiabradas ... numa espécie de jogo sádico de gato e rato ( já então ) ??!!...

Esse alguém chama-se "burro", destituído, estúpido, teimoso, tonta e imbecilmente determinado ( e determinação cega é estupidez pura, creio ... )... Ou simplesmente coitado, fraco, masoquista, ou mesmo suicida ??!!

Esse  alguém  é aquele  que "marra" numa direcção, e  que  ninguém demove, por  mais tácticas  dissuasoras  ( de bom-senso, de compreensão e ajuda, de apelo à razão ) ... que sejam postas em prática !!

Esse alguém, é aquele de quem vulgarmente dizemos : " Enxertou em corno de cabra", e aí vai !!!...

Como a cabra montês, que do nosso ponto de vista, arrisca inconscientemente a vida, minuto a minuto, nas encostas escarpadas, incompreensivelmente acessíveis ... assim esse alguém, arrisca a sua vida emocional, o seu equilíbrio, a sua paz, a sua estabilidade, enquanto gente ...

Assim esse alguém se expõe permanentemente, se deixa fragilizar mais e mais, assim esse alguém ( tendo embora consciência, que pode cair a cada instante ... que está a cair a cada instante ), como a cabra montanheira, procura teimosamente, picos cada vez mais altos e arriscados, que parecem inebriá-lo ... e o atraem ...

Assim esse alguém, joga  recorrentemente à "cabra-cega", porque a tonteira que experimenta e que o deixa agoniado, enjoado, titubeante no andar ... o alicia, o embriaga gostosamente ...

Assim esse alguém, como a mariposa,  roda, e gira, e volteia, e dança, numa dança demoníaca e mortal, na luz que se acende na noite, e a matará passados instantes ...

Esse alguém, que teima sistematicamente em ignorar a razão  ( que  teima conscientemente negar ), que recusa  o óbvio, o lógico, o prudente, e que se embebeda com uma irrazoabilidade que sabe ser destrutiva ... que parece deliciar-se banhando-se em águas tenebrosas, arriscando a "vida" ... que vê o que todos vêem, mas que não quer pura e simplesmente ver ( e por isso põe "pálas" nos olhos, ou cobre-os com uma venda totalmente opacizada ) ... alguém que recusa a realidade, e teima em viver num Mundo de brincar, que inventou ...

Alguém  que  parece  infantilizar-se  deliberadamente,  e  revive  momentos  utópicos dos contos de  criança ( onde fadas e duendes continuam a povoá-los, onde impossibilidades acontecem, onde o céu sempre é azul, as  flores  e  as  borboletas  preenchem  os  dias, sempre ensolarados, e onde  os "happy-ends" são constantes ) ...

Alguém que sabe que vai acordar, mais cedo ou mais tarde, que sabe claramente que não é nada disso, e que apenas "descolou"  ( numa inconsciência defensiva ), da realidade e da verdade, e viaja em velocidade de cruzeiro, a quilómetros de altitude, num mundo cómodo em que se instalou, lá bem alto, e do qual não quer descer, aterrar, baixar à realidade ... Um mundo que sabe ser fantasioso, mentiroso, utópico ... e que ainda assim, persiste em habitar ...

Bem, esse alguém ... que é exactamente assim, deve chamar-se como ???

"IMBECIL" ( ocorreu-me agora ), se o considerarmos AINDA, em parâmetros de normalidade, sendo que, seguramente, o epíteto mais adequado sem sombra de dúvida, será ... "LOUCO" ...

Porque afinal esse indivíduo, na verdade, pertence já ao reino indolor das "sombras", do entorpecimento mental, e  talvez  felizmente  para  ele,  se  mudou  definitiva  e simplesmente,   para  o  domínio  do  que  afinal  já  não  é !!!...


Anamar

sábado, 3 de novembro de 2012

" BEIJINHOS DA ... VITÓRIA "



Este post de hoje, nada tem de mim, a não ser a sensibilidade que me despertou o seu conteúdo, o qual  me foi facultado por um amigo, a quem desde já agradeço.

Achei o texto extremamente criativo, e passível de séria análise e reflexão profundas.

Vinha-lhe aposto o título de " CARTA  DE  MINHA  NETA "

Ora bem ... a minha neta é a Vitória, e quem sabe se ela não tivesse os oito anos que tem, mas sim uma idade que pudesse conferir-lhe já, maturidade, isenção, capacidade crítica, senso de defesa e equidade na distribuição da justiça social, e dos valores humanos ... quem sabe, dizia, não pudesse ser ela, a escrever-ma, expondo as suas dúvidas, interrogações  e  incompreensões ??...




VALOR DE MERCADO

"Qual é o teu valor de mercado, mãe? Desculpa escrever-te esta pequena carta, mas estou tão confusa e pensei que escrevendo me explicava melhor”.

Vi ontem na televisão um senhor de cabelos brancos, julgo que se chama Catroga, a explicar que vai ter um ordenado de 639 mil euros por ano na EDP, aquela empresa que dava muito dinheiro ao Estado e que o governo ofereceu aos chineses.

Pus-me a fazer contas e percebi que o senhor vai ganhar 1.750 euros por dia. E depois ouvi o que ele disse na Televisão.

“Vou ganhar muito dinheiro porque tenho o meu valor de mercado, tal como acontece com o Cristiano Ronaldo”

Foi então que fiquei a pensar:

“Qual é o teu valor de mercado, mãe?”

Tu acordas todos os dias por volta das seis e meia da manhã, antes de saíres de casa ainda preparas os nossos almoços, passas a ferro, arrumas a casa, depois sais para o trabalho e demoras uma hora em transportes, entras e sais do comboio, entras e sais do autocarro, por fim lá chegas e trabalhas 8 horas, com mais meia hora agora, já é noite quando regressas a casa para fazeres o jantar, arrumar a casa e ainda fazes mil e uma coisas até te deitares quando eu já estou há muito tempo a dormir.

O teu ordenado mensal, contaste-me tu, é pouco mais de metade do que aquele senhor de cabelos brancos ganha num só dia.

“Afinal mãe, qual é o teu valor de mercado?”

E qual é o valor de mercado do avozinho?
Segundo sei começou a trabalhar aos treze anos, trabalhou cerca de quarenta e três e tem uma reforma pouco acima que o dito senhor ganha por dia, óptima, diz ele, se comparada com a da maioria dos portugueses.

“Qual é o valor de mercado do avô, mãe?”

E qual é o valor de mercado desses portugueses todos que ainda recebem muito menos que o avô?

Qual é o valor de mercado da vizinha do andar de cima que trabalha numa empresa de limpezas?

Ontem à tardinha ela estava a conversar com a vizinha do terceiro esquerdo e dizia que tem dias de trabalhar catorze horas, que não almoça por falta de tempo, que costumava comer um iogurte no autocarro mas que desde que o motorista lhe disse que era proibido comer nos transportes públicos se habituou a deixar de almoçar.

Hábitos!

“Qual é o valor de mercado da vizinha, mãe?”

E a minha prima Ana que depois de ter feito o mestrado trabalha naquilo dos telefones, o "call center", enquanto vai preparando o doutoramento? Ela deve ter um enorme valor de mercado!
E o senhor Luís da mercearia que abre a loja muito cedo e está lá o dia todo até ser bem de noite, trabalha aos fins de semana e diz ele que paga mais impostos que os bancos?
Que enorme valor de mercado deve ter!

O primo Zé que está desempregado, depois da empresa onde trabalhava há muitos anos ter encerrado, deve ter um valor de mercado enorme!

Só não percebo como é que com tanto valor de mercado vocês todos trabalham tanto e recebem tão pouco! Também não entendo lá muito bem - mas é normal, sou criança - o que é isso do valor de mercado que dá milhões ao senhor de cabelos brancos e dá miséria, muito trabalho e sofrimento a quase todas as pessoas que eu conheço!

Foi por isso que te escrevi, mãe.

Assim, a pôr as letrinhas num papel, pensava eu que me entendia melhor, mas até agora ainda estou cheia de dúvidas.

“Afinal, mãe, qual o teu valor de mercado?”

“E o meu?"

Beijinhos da .....

Anamar

" O EMBALO DE IEMANJÁ "



"Amarantine"...... lança  Énya  aos  meus  ouvidos ... "love,  is  love,  is  love !"...

Por  que será que me apetece falar em falsidade ??

A falsidade, um dos sentimentos mais preversos e mesquinhos do ser humano, penso.
A falsidade pressupõe disparidade, entre quem ela se estabelece.
Pressupõe que alguém mente, e por isso é falso, e que alguém é enganado, porque não teve capacidade para se defender dessa mentira.

E normalmente essa incapacidade defensiva, resulta da boa-fé, do acreditar, da ingenuidade, até muitas vezes, do amor que une as partes envolvidas, ou melhor, que liga uma das partes envolvidas à outra, obviamente ... apenas.

A falsidade é uma constante da Vida, infelizmente.
O ser humano é ignóbil e monstruoso muitas vezes, e também muitas vezes em seu benefício, sem se dar conta dos "estragos" que causa !
É uma postura comodista sem dúvida, muitas vezes estudada, trabalhada, calculada, o que a torna mais maquiavélica, o que lhe confere um diabolismo desumano !

Usa-se falsidade em relações pessoais, profissionais, sociais, políticas, afectivas ...
Eu diria parecer ser afinal, um "motor de mobilidade" na vida humana, o que é de facto, triste, muito triste !...

Sobre a falsidade nas relações afectivas, já fiz sobejas abordagens por aqui, desde os primórdios deste meu espaço.
Mas, porque é algo que me mexe, me incomoda e me confunde, sou por vezes levada a insistir, por ser um tema que, para a forma como me posiciono na vida, se me impõe, até porque infelizmente, com ele "topo" em recorrência, não o entendo, não o acho necessário em nenhuma circunstância, nem o aceito.

A  falsidade neste domínio chama-se "traição".   E pessoas que atraiçoam, não merecem sequer experimentar a confiança, o amor e a dedicação de quem traem.

A traição é um punhal que se enterra nas costas de alguém, quando esse alguém está exactamente "de costas", sem nenhuma capacidade defensiva.
É portanto um acto de cobardia pura.
É postura de quem não tem frontalidade, coragem, verticalidade, de quem não se pauta por transparência, verdade e lisura.

Trai-se gratuitamente, e para nada  ...  Apenas se acarretam dividendos nojentos, para quem trai, e dor, mágoa e inferno, para a alma de quem é traído !
Penso que é das maiores, e mais destrutivas afrontas que um ser humano pode infligir a outro !

Para trair, um lobo veste a pele de cordeiro, uma meretriz veste a pele de donzela, um vilão mascara-se de "bom rapaz " ...
É uma técnica perfeita de dissimulação e camuflagem ;  lembra a serpente que no deserto espera a presa, de tocaia, aguardando apenas a hora de "dar o bote" ;  ou então, quando a atrai, por técnicas de sedução e mentira.  Quando se dá conta, o veneno mortal já foi inoculado, e nada mais há a fazer ...
Lembra a aranha, cuja teia é um  "véu de noiva" que cintila ao sol, diáfano e prometedor, e onde imóvel e silenciosamente  espera,  que o próximo insecto enrede nela se enrede ...

A traição começa quase sempre por um método de sedução, um processo de maquilhagem ... É uma forma perfeita de "travestismo".
Assenta na confiança adquirida, no envolvimento que se estabelece, no canto da sereia que embevece os ouvidos do pescador, em alto mar, no embalo de Iemanjá, nos corações que arrasta com ela, para as profundezas dos oceanos ...

E depois, não serve rigorosamente para nada ...
É um caminho ínvio e dolorido, que só beneficia, acredito,  mentes doentes e perturbadas, que nem conseguem ter a percepção, da destruição que provocam no seu semelhante ...

E assim se dilaceram  corações, e assim se "matam" pessoas, e assim se aniquilam,  muitas vezes irreversivel e cobardemente, seres mais fracos, menos ardilosos, menos defendidos ...  seres que enjeitam estas formas de vivência com o seu semelhante, seja em que vertente for, sendo que,  muito mais magoada, se o for na vertente emocional, que é dos principais, senão o principal pilar de sustentação do ser humano !...

                                  
 
Anamar

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

" SIMPLESMENTE "



Novembro chegou, simplesmente !

Novembro é um mês de luz doce, de cheiros mornos, de cores envolventes, de claridades difusas.
Em Novembro não há os verdes provocadores, não há as pinceladas esfuziantes, dos adornos da Natureza vaidosa ... os azuis que embalam e fazem sonhar, a transparência cintilante do céu ...
Tudo já partiu !...
O sol ainda brilha de quando em vez, mas sorri com aquele ar envergonhado, do menino que fez uma maldade e que se esconde atrás de um rostinho penitente ...
O sol também pede desculpa por estar a ir-se embora, não tarda, remetendo-nos para os dias escuros, curtos, sozinhos ... muito sozinhos.

Os dias que virão, são aqueles dias em que sobra tempo e falta ânimo, em que sobra noite e falta dia, porque de noite se morre e de dia se vive ...
E as vinte e quatro horas parecem durar eternidades, e nós sem sentirmos força cá dentro, nem sequer p'ra transpor o umbral da porta que lhes daria acesso !...

Não demora,  o ventinho desabrido cobrirá os jardins, das folhas que não tiveram mais resistência para se agarrarem aos caules, e se deixaram simplesmente ir ...
Não demora por isso, que as árvores e os arbustos dos caminhos silenciosos, se dispam e tiritem de frio, como os nossos corações, afinal !...
Breve, os musgos vão trepar pelos troncos, molhados das sombras ....  Breve será Natal outra vez, breve, mais um ano do calendário findará ... breve, breve ... Tudo demasiado breve !...

A chuva  tomará conta da praia, e trará para o areal, as gaivotas que foram felizes por cima das ondas, e que agora desistiram de dançar, por uns tempos.
O mar será de maré cheia ...  Não o vejo, mas adivinho-o.
Tenho a certeza que roncará nos rochedos, que vai tapar e destapar, continuadamente ...
Tenho a certeza, que na força do seu açoite, bordará a praia de rendas brancas ... muitas franjas brancas, espalhadas a esmo por ali, nos recantos que me foram abrigo de sonhos, pensamentos e mágoas, há ainda tão pouco tempo !...
E os seixos encavalitados, em desafio da gravidade, também já terão sossobrado à brisa, que já não é brisa, e que os terá desmoronado, como se desmorona um edifício devoluto, como se desmorona fácil, um coração partido, como se faz em pedaços uma alma adoecida ... como se esquece alguém, que já não faz falta !...

Novembro recolhe-me à concha, cobre-me com as folhas amarelecidas, do esquecimento doído ... empurra-me para toca, sem endereço de porta, remete-me ao silêncio adormentado de tempo hibernante, que deveria ser reparador de renascimentos, reinícios felizes, acordares esperançosos ... mas que o não é ... nunca o é !...

E  nem  sequer  aquele  sono  abençoado,  do  urso  pardo ( lá  nas  florestas  da  Noruega  das  minhas  memórias ),  desgraçadamente  desce  até  mim, desgraçadamente  me  dá  cólo,  me  embala,  me  canta canções  entorpecentes,  de  ninar,  para  que  eu  pudesse  dormir ...
       ... simplesmente para  que  eu  repousasse  o  meu   cansaço  acumulado ... de  vidas,  com  Novembros   perenemente   instalados !!!...



Anamar

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

" TU SABIAS ... "



Tu sabias
que lembro a que eu era, e não a que eu sou ??

Sabias que lembro o tempo das tranças, e de correr descalça na praia, na hora da maré baixa ?

Que lembro os sonhos que embalei,
e não os pesadelos que vivo ?

Que lembro o tempo em que a minha mãe cantava para mim, eu cantava para as minhas filhas ...  e não lembro o silêncio obscurecido deste quarto ??

Sabias que recordo os seixos da praia, empilhados nos rochedos, a marcar presenças ...
e lembro do cheiro da caruma, e da mata molhada pela sombra das árvores eternas ??
E  escuto  ainda  o  passar  do vento  no  meu cabelo,  que  me  levava  sempre as nuvens carregadas, do coração ??

Sabias que sinto com nitidez, o calor das mãos que me escaldavam o peito, e o fogo que me incendiava os lábios ??

E sabias que eu sinto saudade  do laranja dos pôres-do-sol, de sol que nunca se punha, porque sempre estava aceso dentro de mim ??
E as luas, então ... quando tornavam o mar de prata, e faziam as estrelas corar de vergonha ??!!...

Tu sabias que acolhi, deixei germinar e crescer num coração que já não tenho, sonhos de que também já não sei ??...

E que esqueci as tardes sem horas, porque as horas paravam para mim ??
Será que tu sabias ??...

Será que tu sabias que eu era real, tinha carne, sangue a pulsar nas veias, uma alma que aprendeu a chorar bem baixinho, e asas nos olhos ( que eu nunca acorrentei, porque eram livres ), e que partiram com as aves de arribação, em viagem ... só que ... sem destino ??

Tu sabias que um dia podias ir, mas eu ficar ...
... ou que um dia eu iria adormecer na concha da tua mão, e tu me deixarias fugir !...

Tu  sabias que haveria um dia, em que ao acordares, eu já teria partido nessa noite, na madrugada ... que de tão escura, não teve estrelas, nem lua, nem Vénus, nem ocasos, nem nasceres de sol nas alvoradas da Vida ... e que por isso me perdi no caminho !!...

Tu   sabias,  sim !...    Tu,  sempre  soubeste !...   Tu,  sempre  esqueceste ...
 ... porque  tu,  simplesmente ... NUNCA   ACREDITASTE !!!...

Anamar

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

" AS PALAVRAS "




As letras formam palavras ... estas, frases ...  e estas, pensamentos.

As palavras deveriam ser um meio de comunicação entre os seres humanos.  Sendo qualitativamente mais rica que a  linguagem  dos irracionais, e porque serve teoricamente seres superiores, deveriam as palavras, aproximar, e não afastar ... deveriam provocar entendimentos, e não rupturas, deveriam gerar consensos ou não, mas sempre dialéctica sã e objectiva.

Com elas, os povos AINDA tentam entender-se, os políticos esgrimem nas plataformas, nas reuniões, nos fóruns, nas cimeiras, nas bancadas ... para decidir destinos.
Com elas, também teoricamente, as pessoas deveriam aproximar-se desarmadamente, pese embora que elas também são, muitas e muitas vezes tiros certeiros, armas de arremesso  outras tantas ... mísseis destrutivos e aniquilantes, vezes demais !...

É estranhíssimo, que sendo o Homem um animal provido de inteligência ( consta ... ), as não saiba usar, e em vez de com elas exprimir pensamentos positivos, formas de aproximação que lhe seriam gratificantes, destrói-se, "mata-se", esquarteja-se ...

Com elas, as pessoas em vez de se acarinharem, degladiam-se, e acabam estranhando-se, parecendo falarem dialectos distintos, nem sequer conseguindo descodificar mais, o que elas querem mesmo dizer ;   dão aos seres humanos, a remota sensação de pertencerem a planetas diferentes, e inentendíveis !

Por vezes são demasiado codificadas, tão codificadas que não se descortina a mensagem que transportam ..
Nem mesmo  se descortina quem está na verdade, por detrás delas.
E quantas vezes nos surpreendemos, e não acreditamos, que quem as proferiu, seja aquele ou aquela, que julgávamos conhecer, pelo direito e pelo avesso!

Outras vezes, parecem ser incompletas, porque em vez de colocarem as pessoas, a proferirem-nas olhando-se nos olhos, colocam as pessoas de costas umas para as outras, definitivamente !...
E fica aquela coisa incómoda  de, de repente, não percebermos bem com quem falamos, quem somos ... aquele incómodo mau-estar,  de haver um corte na ponte, que elas deveriam garantir, entre os dialogantes.
E não se percebe mais nada !!!...
Parecemos largados em Marte, a querer estabelecer ligações, traduzir sentimentos, mostrar intenções, com seres que nos são afinal totalmente estranhos. (se Marte os tivesse !...)
E as pessoas ficam irremediavelmente a falar sozinhas ... e falar sozinho, não é bom, nunca foi bom !...

Falar sozinho, é o oposto do amor, é o inverso de Vida !
Eu não sei falar sozinha !...
Fica assim um deserto de sentimentos, de emoções ... e sem sentimentos e emoções, o ser humano morreu, estiolou  simplesmente ... e nem deu por isso !

Parece que às vezes, tudo passaria por se criar outro alfabeto de letras, para se criarem mais palavras, mais frases e mais pensamentos ...
Parece que isto que temos por aqui, não chega, porque já não permite mais comunicação !

E dizemos : "Mas como ??!!   Como é que aconteceu ??!!   Ainda ontem a gente falava com estas palavras ... elas chegavam ... elas eram mais que suficientes??!!
Porque há palavras que o olhar completa, quando elas não bastam ... e as mãos também, e o calor do corpo também ... ainda mais !...

Os olhos, terminam miraculosamente muitas frases ... Mais, os olhos têm o poder mágico de conseguir dizer frases, sem serem ditas, sequer ... 
E há quem as leia perfeitamente ... sem esforço ...
Mas isso, é para quem partilha segredos e cumplicidades ...

E também se lê nas "entre-linhas" ... linhas de palavras ditas ou escritas, que têm mais recheio não explícito, e que constitui código, para os que se entendem ...

"Meias palavras", não é lá muito bom, porque isso dá "pano p'ra mangas" ...
Sempre cada um acrescenta o outro meio, como lhe dá "na bolha" ... E ou se acerta, ou se erra, e pode estragar-se tudo o que era !!!...

Serão incompletas as palavras, ou simplesmente curtas??...

Acho que são demasiado "curtas", as palavras ... porque ficam quase sempre, a anos-luz do que tinham a responsabilidade de transportar ... e não o fazem !...
Fica muito por dizer, por perceber, por transmitir ...
Ficam sempre aquém da nossa vontade, do nosso desejo, do nosso anseio ... e murcham nos lábios, entopem nas gargantas, secam nos corações ... definham na alma.

É então, quando as lágrimas impotentes rompem os diques, e de enxurrada, levam tudo adiante ...

São por isso,  MUITO  INJUSTAS  as palavras !!!...


Anamar

domingo, 28 de outubro de 2012

" QUEM FOR A MIRANDA ... "



Agora, quem vai a Miranda, não vai só ver os "pauliteiros" ...

Este meu espaço, já o referi sobejamente, para lá de ser profundamente "meu" ( talvez o espelho em que precisaria olhar-me, e não olho ), é também espaço de veiculação de tudo o que acho importante divulgar, seja em que campo for, tudo o que acho relevante e merecedor de atenção, de qualquer cidadão que a ele aceda.

Comecei o meu post, pegando no refrão da velhinha canção popular, que todos por certo  lembrarão, para introduzir a notícia que aqui posto, e que é digna de uma análise justa, pelos mais variados aspectos que a ela concernem.

Realmente, hoje, quem for a Miranda, não irá só ver os "pauliteiros", talvez vá ver com os seus próprios olhos, a Isabel e a Tânia, mais duas jovens que engrossam a estatística do desemprego neste país.
São simplesmente mais duas enfermeiras, que tiveram uma iniciativa filantrópica, meritória e enternecedora .

Na ausência de trabalho, e com o ganha-pão negado, pela crise que atravessamos, decidiram pôr as suas vidas, o seu  "know-how", o seu esforço, o seu tempo, ao serviço da comunidade.
Mas não de uma comunidade qualquer ;
buscaram o desconforto, arriscaram expor-se à natural hostilidade advinda da desconfiança, sobretudo da população idosa ( como seria de esperar ), de uma aldeia do nosso Portugal interior, do nosso Portugal que fica  por  detrás das serras,  para  trás  da civilização , para  além  do  conforto ... o  nosso  Portugal marginalizado  e  desprotegido ...
Aquele que fica também, para lá da memória dos dirigentes, e do conhecimento das entidades responsáveis, neste país !...

Tenho particular respeito e admiração pelo trabalho voluntário, indistintamente.
Sempre  tenho  perante  ele, ternura  e  humildade,  por  considerá-lo  um  dos expoentes  máximos da capacidade  do Homem se dar, se transcender, de usar a generosidade do seu coração em prol dos desfavorecidos ... de usar a partilha do seu "eu" ( quase sempre, mais ou menos egocêntrica e comodista ) em favor do semelhante ... de buscar e pôr ao serviço dos outros, o melhor de si próprio ...
Não se trata, obviamente, de uma "caridadezinha", mas de um verdadeiro altruísmo !

É quando deparo com exemplos destes, que acredito que talvez a Humanidade ainda não esteja completamente perdida, que o ser humano ainda tenha em si ( apesar de tudo e de todos ), uma capacidade de reabilitação, e uma força de renascimento, e de reconversão reais !!!...

E sinto-me gratificada, por perceber que é nas gerações jovens desta terra, e se calhar, do Mundo, que começa a germinar uma sementinha de consciencialização, de sensibilização e entendimento, face às revoluções necessárias acontecerem nas mentalidades, nas posturas, nas convicções, para que o Mundo, qual  "Fénix",  possa  renascer das cinzas a que chegou !...

Sem dúvida, o exemplo de Isabel e Tânia, será algo que nos fará pensar, e mexerá talvez em muitas consciências indiferentes e acomodadas, em muitos espíritos adormecidos !!!...

Anamar



Miranda do Douro

Há duas enfermeiras que trabalham a troco de casa, comida e roupa lavada


Isabel Moreira e Tânia Dias vão a casa dos habitantes. Brevemente, outros profissionais poderão juntar-se ao projecto Isabel Moreira e Tânia Dias vão a casa dos habitantes. Brevemente, outros profissionais poderão juntar-se ao projecto (Foto: Nelson Garrido)
"Oito meses de portas fechadas e sem emprego levaram duas recém-licenciadas a fazerem-se à estrada, subirem país acima e aterrarem, de armas e alguma bagagem, em Atenor, a aldeia do concelho de Miranda do Douro, conhecida pelo seu esforço de preservação dos burros, os de carga.

Isabel Moreira e Tânia Dias decidiram montar, durante três meses, um projecto de voluntariado em que oferecem à comunidade os seus serviços, como a medição de tensão arterial, diabetes, acompanhamento a consultas, apoio na medicação ou na execução de pensos, por exemplo. Findo o prazo, esperam um contrato.

Os sonhos de trabalhar num hospital ou centro de saúde, foram-se desvanecendo à medida que os dias em casa se iam transformando em desespero. Isabel Moreira, de 39 anos, natural da Mêda, na Guarda, trocou uma carreira como gerente hoteleira pelo sonho de tratar dos outros. Um dia, desafiou a colega de curso Tânia Dias, de 22 anos, de Seia, também no distrito da Guarda, e com o mesmo sonho, a embrenharem-se no Planalto Mirandês e darem a conhecer o Laços, um projecto de apoio à comunidade em regime de voluntariado, para já, com a esperança de lançar a semente que no Verão lhes possa trazer o ordenado.

Até lá, contam com o apoio da Junta de Freguesia de Atenor, cujo executivo há muito dava voltas à cabeça para uma solução que, pelo menos, amenizasse o crescente envelhecimento da população e a desertificação do território. Depois de uma conversa casual, no início do ano, com Moisés Pêra Esteves, o presidente, o projecto foi pensado e, desde 17 de Março, trouxe outra alegria aos quase 200 habitantes desta freguesia.

Três meses à experiência

“Propusemo-nos a ficar três meses à experiência, de forma a darmo-nos a conhecer e ao nosso trabalho", conta Isabel Moreira, acrescentando que o apoio da junta de freguesia passa por alojamento, carro para as deslocações e acompanhamento dos idosos às consultas e um pequeno subsídio para alimentação e outras pequenas despesas.

A somar a esse apoio, somam-se as ofertas das pessoas da terra, que, como bons transmontanos, não têm pejo em partilhar o que a terra lhes dá. “Desde alfaces, cenouras, couves, batatas, azeite, as pessoas dão-nos de tudo o que produzem. No início até estranhámos mas ficam ofendidas se não aceitamos”, explica a enfermeira que durante 22 anos trabalhou na hotelaria.

Para evitar surpresas e suspeições, o presidente da junta acompanhou as duas profissionais e, durante três dias, apresentou-as a todos os habitantes da freguesia, um a um. “No início, houve algumas pessoas que disseram que não estavam interessadas nos nossos serviços e então não íamos a casa delas. Mas, depois, mudaram de ideias, quando viram o que fazíamos, e até pediam aos vizinhos para nos dizer para passarmos por lá também”, contam as enfermeiras, com um sorriso.

Passados praticamente dois meses, a iniciativa está a “superar as expectativas”, dizem. Também a junta de freguesia está satisfeita com a dinâmica e melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes. Por isso, Moisés Esteves revela que estão a ser “criadas as condições para o projecto continuar”. Por um lado, as várias associações da terra estão a ser convidadas a contribuir. Por outro, vai ser criada uma outra associação, com o objectivo de agregar os excedentes da produção agrícola da freguesia, sobretudo azeite, para os vender e investir os lucros no pagamento dos salários das duas enfermeiras, que já estão a tratar de parcerias com outros profissionais de saúde, como dentistas, psicólogos, terapeutas da fala ou terapeutas ocupacionais. Tudo valências que existiam nos centros de saúde da região e foram sendo retirados nos últimos tempos, em nome da contenção de custos.

"Sobretudo o mimo"

Mais do que os cuidados de saúde, são os cuidados emocionais que têm feito as delícias dos mais velhos de Atenor. “Sobretudo o mimo”, confessa, com um sorriso, Isabel Moreira. Mais do que saúde, as enfermeiras trazem companhia às pessoas. “Contam-nos tudo. As queixas dos filhos, as coisas que acontecem por aqui... Tudo!”, garante Isabel Moreira, mãe de quatro filhos, que ainda fica com o coração apertado de cada vez que se lembra do dia em que explicou à filha mais nova, de 12 anos, que vinha para Atenor.“Ai mãe, para aquele sítio tão longe?", perguntou-lhe. "Pois, filha, tem de ser.”

As duas enfermeiras revezam-se de modo a assegurar os cuidados à população 24 horas por dia e de maneira a poderem ir a casa. A distância entre Atenor e a Guarda não se estreita sequer com a ajuda da Internet ou do telemóvel, os montes cortam o sinal.

Noventa por cento dos utentes do projecto Laços tem idade acima dos 65 anos, “a média de idades supera os 70 anos”, dizem as enfermeiras. “Eu dizia mal da minha zona, na Mêda, mas aqui é muito pior”, confessa Isabel, entre duas visitas. Para trás, ficou Fernando Marcos, cujos 66 anos vêm dar um vislumbre da estatística. Um olhar mais certeiro do que o seu, que já se perdeu por um glaucoma, apesar das 12 operações. Mediu a tensão, um pouco mais alta do que o costume, os diabetes, tomou a medicação e lá foi contando a sua história. Sentado no escano da cozinha, garante que as duas enfermeiras “não fazem mais porque não podem”. “Até foi uma boa ideia. Andamos mais acompanhados, mais vigiados e ajudam a passar o tempo”, explica, sob o olhar atento de Isabel, a esposa, que lá vai sussurrando que o serviço “dá muito jeito por causa da medicação”.

Além disso, as duas enfermeiras também os acompanham ao médico, de carro, e ajudam na tradução da linguagem técnica usada no consultório e que, muitas vezes, é imperceptível. “Não tínhamos ninguém que se preocupasse connosco. Para levarmos uma injecção tínhamos de ir a Sendim”, a uns dez quilómetros, aponta Marcos.

Quando os instrumentos de medição da tensão regressam à maleta de trabalho, o homem tem alguma dificuldade em despedir-se. “Não quer que fale mais?”, pergunta, ainda com esperança de mais uns dedos de conversa.

Um pouco mais à frente, do outro lado da rua empedrada da aldeia de Teixeira, mora Gregório, que na véspera sofrera uma queda. “Ir ao médico? Nem pensar. Fui uma vez à urgência e quase me matavam”, recorda, sob o olhar reprovador da mulher, Natividade da Purificação, que aproveita para desfiar um rol de queixas. “Sabe, eu também ando em consultas desde 1999. E tenho de pôr o oxigénio. Mas eu é só para ir passando, porque tenho uma crónica [bronquite] muito grande”, explica.

Mudado o penso e dada a medicação, é hora de partir rumo a outra “cliente”. “Espere lá, então hoje não me medem a tensão?”, atira ainda a tempo o Gregório, que tem direito a mais uns minutos de atenção. No final, ainda pergunta “quanto é”. “Nada? E não querem uma pinga?”, insiste. Não que já se faz tarde e à espera está já a senhora Felicidade. “É só para lhe medirmos a tensão e fazemos um bocadinho de companhia”, murmura Isabel Moreira, já no caminho. Entretanto, Tânia foi medir a tensão a outro vizinho, o senhor Altino, que está com pressa para ir para o campo.

Ao todo, são cerca de 50 as pessoas que já esperam, ansiosas, à porta de casa a chegada das duas enfermeiras. Os laços já estão criados."

" PÁRA E PENSA ! " - CARTA ABERTA A CRISTIANO RONALDO



 
 Ronaldo

És um garoto ainda ;  tens idade para ser meu filho, aliás, tenho filhas bem mais velhas que tu.
Perdoa portanto, tratar-te tão informalmente !

Tenho acompanhado de longe, o teu percurso de vida, pessoal e profissional.
Afinal, quem não acompanha??!!
Queiramos ou não, os "media" bombardeiam-nos com o CR7, com o que queremos, e o que não queremos saber sobre ele.

A tua vida profissional encher-te-á de orgulho, a ti e aos teus, é legítimo ... orgulho ao nosso pobre e pequenino país, porque, por ti, se dá a conhecer ao Mundo.
Levas felicidade a muitos rostos que a têm escassa ... apenas porque discutem os teus lances, na mesa da taberna ou do café, vibram com os teus golos, triunfam contigo nas tuas vitórias, e magoam-se contigo nos teus insucessos ( porque, humano, também os tens ).

Ouvem-se e lêem-se entrevistas tuas, declarações tuas .
A tua "tristeza" no Real,  virou  notícia mundial ,  as tuas alegrias,  são  divididas, calhando um pedacinho a cada um dos que torcem por ti... muitas vezes, apenas porque são portugueses ... e alguma alegria nos é devida, afinal !...

Já viajei muito pelo estrangeiro, do oriente, às Américas, e quando me perguntavam a nacionalidade, de imediato um sorriso gaiato pairava nos rostos, um brilho matreiro saltava aos olhos, e em qualquer língua ou dialecto, sempre era dito ... "Cristiano Ronaldo ... the best !!"

A tua vida pessoal é, foi e será sempre devassada, mas talvez excessivamente devassada, e talvez tu o permitas.  Porquê ?   Não sei !   Afinal, não careces de protagonismo,  já o tens de sobra !
Um destes dias, ouvi alguém que privou contigo de perto, e te conhecerá bem ( Felipe Scollari ), dizer-te um miúdo humilde, atento, esforçado, exigente, lutador ...

Tu vieste de baixo, Ronaldo ;  a tua ascendência é de gente que conhece o valor da dificuldade, do sacrifício, do esforço, da luta, da mágoa ... se calhar da ausência de esperança muitas vezes.
Lembro-te, nos relvados, a elevares o pensamento ao teu pai  ( que não ficou para assistir ao que és hoje ), sempre que marcavas um golo, e o estádio "vinha abaixo".
Lembro-te, quando pertencias às escolas do Sporting, que te descobriu.
Afinal, é o meu clube de simpatia ( porque na verdade, não tenho realmente nenhum clube ) ...
É o clube onde os meus três netos, praticam as modalidades desportivas, com que completam as suas vidas ainda de crianças, sonhadoras também já, com medalhas e pódiuns !!!

Cristiano, tu és filho deste país, embora sejas um "puto" do Mundo !

Hoje, deparei-me, numa destas revistas que se nos enfiam pelos olhos dentro, nas bancas, com a manchete : "Bomba exclusiva !  Ronaldo pagou 800 mil euros por um modelo de luxo da MCLAREN  ( No Mundo há apenas 5 ) ! "

Fiquei uma vez mais estupefacta, a pensar :

Saberás tu, que no teu país, há 820 mil pessoas no desemprego ?  Há mais de 3000 sem-abrigo, a viver pelas calçadas do nosso chão ?

Que são devolvidas aos Bancos, 25 casas por dia, sendo que mais de 2000 o foram, em apenas três meses, por incumprimento bancário, das famílias ?

Saberás tu que há 400 mil idosos a viverem sozinhos, e que Portugal é o sexto país da Europa, onde as pessoas com 65 anos, têm menos anos saudáveis de vida, pela frente ?

Ter-te-ão dito que em 2011, a dívida pública desta tua terra, foi dez pontos percentuais acima da que existia em 1892, quando o país foi obrigado a declarar bancarrota ??

Saberás, que por dia estão a fechar 13 empresas, lançando mais pais de família na rua ?
Saberás que em 2011 também, os suicídios motivados pelo desespero, fruto da crise, vitimaram 1100 portugueses, sem qualquer luz ao fundo do túnel??

Interrogo-me se saberás, que mais de 100 mil cidadãos emigraram, a uma média de 180 jovens por dia, na faixa etária dos 25 aos 34 anos, empobrecendo também em valores, e mão de obra qualificada, o teu país??

Ou se estarás informado, que 69% dos estudantes universitários tenciona emigrar logo que termine a vida académica ... para sobreviver ??

Disseram-te que há gente que cancela consultas médicas, e "raciona" a medicação prescrita ( e que deveria consequentemente tomar ), porque simplesmente não tem dinheiro para a adquirir ??!!

E com certeza, não ignoras que à semelhança de Portugal, onde todas as medidas restritivas estão a tirar-nos não só o pão, mas também a esperança, toda a Europa está igualmente a rastejar, com um esforço inaudito, para ainda se manter à tona !!

Diz-me Cristiano, tu, que nasceste com um dom, que foi brincares com uma bola, como um malabarista no circo ... tu, que de uma cartola sacas um "coelho", num segundo ... basta apanhares a bola  de jeito ... e a baliza à tua espera ... tu, que já tens um filho, que te terá forçosamente acrescentado maturidade ( a gente cresce, amadurece e envelhece com eles, verás ! ) ... Diz-me Ronaldo, já reflectiste um pouquinho só, sobre tudo isto ??!!...

Não pretendo armar-me em moralista ... aliás, quem sou eu para dar lições de moral a alguém ?...
Não pretendo sequer usar demagogia barata ... ( e eu sei que os teus bens, ninguém tos deu, resultaram naturalmente do teu esforço, óbvio ) ... mas ... mas ... mas ...

Fala-me de justiça, Cristiano ... fala-me de provocação, fala-me de ostentação sem limite, fala-me de excentricidade,  deslumbramento, de falta de sobriedade ... fala-me de alguma falta de "saber estar", ou até de infantilidade ...

Estas palavras, talvez duras de ouvir, não te dão nenhum toque aí dentro do peito ??
Não te transportam por curtos instantes que sejam, ao miúdo anónimo, que dava uns pontapés na bola, na sua escola, aos três anos de idade, lá na longínqua Madeira ??...
Um puto, que certamente jamais sonharia ter pela frente, o " conto de fadas" com que entretanto a Vida o presenteou ??!!

Pois é Cristiano Ronaldo, estás a perceber certamente onde quero chegar !...

Sou mãe, sou avó, sou professora, convivo com muitas gerações que estudam, com mais ou menos sacrifícios ( exagerados sacrifícios mesmo, acredita ) !...

Desejo-te as maiores felicidades na tua carreira e na tua vida pessoal ... desejo-te afinal tudo de bom, mas pára de quando em vez, nesse deslumbramento em que vives, e que,  podes acreditar,  é, e  será sempre, EFÉMERO somente !...


Muitas cartas têm um "Postscript" ....
Pois bem, em "Postscript" desta tua carta, envio-te cópia de uma notícia, de que certamente, tão longe e alheado das realidades objectivas desta tua terra, na tua redoma dourada, não terás tido conhecimento. Reflecte sobre ela, quando, no meio das tuas imensas e diversas ocupações, tiveres um tempinho :

 Em Portugal, também há notícia de casos igualmente trágicos de desespero. Em setembro passado, Pedro e Cristina, dois irmãos de 53 e 57 anos, lançaram-se para a frente de um comboio da linha de Cascais, na estação de Paço de Arcos. Segundo a notícia então publicada no Correio da Manhã, no bolso de Pedro estava uma carta a explicar a razão do duplo suicídio. Depois de trabalhar numa empresa de publicidade, Pedro estava desempregado e vivia em Lisboa com a irmã, igualmente desempregada, e a mãe, até esta falecer aos 88 anos. O senhorio despejou-os e ficaram a viver na rua por alguns meses, até à noite em que puseram um ponto final na sua história. "Estava escrito que se sentiam abandonados e viviam em pobreza extrema devido à crise económica", disse uma fonte policial citada pelo Correio da Manhã.

 Anamar

sábado, 27 de outubro de 2012

" ESCREVER OU NÃO ... EIS A QUESTÃO ! "



" Cada um faz o que quer, mas o escritor que eu quero ser tem deveres.  Qualquer idiota escreve bem.  Nós precisamos é de textos lúcidos "
                                     Rui Zink ( Ipsilon - Jornal  " O Público" )

Rui Zink largava esta afirmação que supracito, ontem, numa entrevista para o Jornal "O Público".

"Puxa",  pensei ... "Textos  lúcidos"  são  tudo  menos  os  que  eu  escrevo ;  bem escritos ... dizem que sim .... logo, estão reunidas as condições, nitidamente, para que eu esteja incluída no grupo dos idiotas.
Dos idiotas e nem sequer dos "ideotas", que serão aqueles "gajos" que ainda vão tendo algumas "ideias", de quando em quando !
Eu, nem isso !
A verdade é que me foge sempre o pé para o chinelo, na escrita, que é como quem diz, foge-me a caneta para banalidades e evidências, que todos já viram quinhentas mil vezes antes de mim !!...
Que pobreza, de facto !...

Mas uma coisa há, que é absolutamente genuína em mim, afianço-vos :  a tradução em palavras fiéis e sentidas, de tudo o que me vai aqui dentro do "invólucro", desde os pés à cabeça, e mais ainda, nas duas "gavetas" principais : a mente e o coração ...

Juro que nisso, não estou aqui para enganar ninguém, simplesmente porque aquilo que cada um pensa e sente, é das poucas propriedades privadas, do ser humano ... senão a única !

Deveria ser um bem inalienável ...  Não paga IMI, nem água, nem luz, nem esgotos, nem gás, nem prestação bancária, nem sequer condomínio .
É uma propriedade tão nossa, que somos livres de lhe subir muros, ou de os derrubar, sem precisar de autorização camarária !
Somos livres de franquear os portões a quem queremos que entre, ou de os aferrolhar a sete chaves, por via dos intrusos, dos abusadores  e até dos ladrões.
Porque também há ladrões de almas e de corações !!   Ui ... isso é o que por aí há mais, garanto !

É privada ...  Ou então, de "mãos largas", dividimo-la com estranhos, que, porque entram, deixam de o ser, e ficam "nossos", dentro da nossa propriedade, ganhando direitos ao nosso clã .

Uma vez instalados nela, porque é nossa pertença, nunca mais conseguimos mudar para outra, ou dificilmente o fazemos.
E as mudanças dão uma trabalheira, um desgaste e um cansaço, que nos derrubam frequentemente, e até pode acontecer que a nova propriedade, nem sequer substitua com vantagem, a anterior ...
Pode beneficiar de melhores vistas, localização privilegiada ( talvez nos deixe ver o mar, sonhar, acreditar, ver pássaros em bandos esvoaçantes por sobre as nossas cabeças, e borboletas que, batendo as asinhas, nos refrescam o coração ), mas o interior mesmo, o recheio, o conteúdo, o real valor do novo "imóvel", pode ser simplesmente  ilusório ... e  aí,  fizemos  seguramente  um  mau  negócio !!!

E depois os juros a pagar, são sempre elevadíssimos, e a perder de vista.
É um raio de uma dívida, cada vez mais penosa e sofrida ... Porque, diabos, adquirir um imóvel aos vinte anos, não é o mesmo que adquiri-lo aos sessenta !!

Há um outro problema a considerar, que é a desonestidade dos empreiteiros, que sempre tentam vender-nos "gato por lebre", e quando achamos que somos detentores de uma propriedade porreira, ela está a meter água por todo o lado.
Bons acabamentos, de encher o olho, mais uns quantos atractivos cativantes ... mas depois é que são elas ... aquilo lá, é material de sucata !
Roubaram no betão e no cimento, puseram areia demais na argamassa, e as paredes esboroam antes de tempo !...

Não nos isola das intempéries da Vida ...
Antes, deixa passar tudo para o interior, e à conta disso, arranja-nos doenças vitalícias .

Aquece-nos por dentro, protege-nos, e parece que nos aninha entre as paredes, como braços, cólo e ombros ( não precisaríamos de muito mais ) ...  Mas, porra ... é gelada nos Invernos da Vida, tão gelada que quase nos mata ...
E fomos ludibriados, obviamente !

E ainda assim, é sempre uma dor lancinante, abandonar um "cantinho" que foi nosso, ainda que tivesse sido uma lástima !
Apesar de tudo, escolhêramo-lo com todo o amor, acreditando que ali seríamos felizes, porque nele depositámos a esperança ( toda, a que catámos nas "gavetas" do coração e da alma " ), e o sonho, que é algo que está a rarear nos tempos que correm, e que é um prejuízo danado, quando nos foge !

Depois, também mal nos instalámos, havíamos alindado o espaço.
Foi o tempo de plantar as roseiras, as trepadeiras, os narcisos e os agapantos, que dariam flor lá mais para a Primavera, quando as andorinhas começassem a visitar-nos.
Foi o tempo de ler, nas tardes de paz, sob as treliças das glicínias e das madressilvas.
Foi o tempo de nos deslumbrarmos, com cada botão de hibisco que abria por um dia, mas que sempre abria, sorrindo para nós !...

E cada vez é mais e mais difícil,  recomeçar sequer a pensar, que inevitavelmente teremos que encerrar as portas e as janelas, fechar as portadas, apagar as luzes e bater a porta, porque não há mais remédio !

Cada vez dói  mais, sabermos que não regaremos mais o nosso jardim, não leremos mais à sombra dos jacarandás, não nos extasiaremos mais, com a cascata de cor das buganvílias ...

Cada vez é mais penoso, sequer  acreditar, que até poderíamos começar de novo, na busca de um outro "chão", onde voltássemos a dispor as sardinheiras, as roseiras, os narcisos e os agapantos ... porque  agora,  somos  nós  que  já  perdemos  as  forças  para  replantar ...
Seguramente as silveiras, os carrasquinhos, o galracho e o mato bravio, tomariam conta de tudo à nossa volta ...

E depois, também já escasseia o tempo para esperar que as Primaveras tragam as andorinhas e os cucos, e que os hibiscos,  reabram para nós  outra vez, as suas flores de um só dia !!!...


Anamar