Novembro é um mês de luz doce, de cheiros mornos, de cores envolventes, de claridades difusas.
Em Novembro não há os verdes provocadores, não há as pinceladas esfuziantes, dos adornos da Natureza vaidosa ... os azuis que embalam e fazem sonhar, a transparência cintilante do céu ...
Tudo já partiu !...
O sol ainda brilha de quando em vez, mas sorri com aquele ar envergonhado, do menino que fez uma maldade e que se esconde atrás de um rostinho penitente ...
O sol também pede desculpa por estar a ir-se embora, não tarda, remetendo-nos para os dias escuros, curtos, sozinhos ... muito sozinhos.
Os dias que virão, são aqueles dias em que sobra tempo e falta ânimo, em que sobra noite e falta dia, porque de noite se morre e de dia se vive ...
E as vinte e quatro horas parecem durar eternidades, e nós sem sentirmos força cá dentro, nem sequer p'ra transpor o umbral da porta que lhes daria acesso !...
Não demora, o ventinho desabrido cobrirá os jardins, das folhas que não tiveram mais resistência para se agarrarem aos caules, e se deixaram simplesmente ir ...
Não demora por isso, que as árvores e os arbustos dos caminhos silenciosos, se dispam e tiritem de frio, como os nossos corações, afinal !...
Breve, os musgos vão trepar pelos troncos, molhados das sombras .... Breve será Natal outra vez, breve, mais um ano do calendário findará ... breve, breve ... Tudo demasiado breve !...
A chuva tomará conta da praia, e trará para o areal, as gaivotas que foram felizes por cima das ondas, e que agora desistiram de dançar, por uns tempos.
O mar será de maré cheia ... Não o vejo, mas adivinho-o.
Tenho a certeza que roncará nos rochedos, que vai tapar e destapar, continuadamente ...
Tenho a certeza, que na força do seu açoite, bordará a praia de rendas brancas ... muitas franjas brancas, espalhadas a esmo por ali, nos recantos que me foram abrigo de sonhos, pensamentos e mágoas, há ainda tão pouco tempo !...
E os seixos encavalitados, em desafio da gravidade, também já terão sossobrado à brisa, que já não é brisa, e que os terá desmoronado, como se desmorona um edifício devoluto, como se desmorona fácil, um coração partido, como se faz em pedaços uma alma adoecida ... como se esquece alguém, que já não faz falta !...
Novembro recolhe-me à concha, cobre-me com as folhas amarelecidas, do esquecimento doído ... empurra-me para toca, sem endereço de porta, remete-me ao silêncio adormentado de tempo hibernante, que deveria ser reparador de renascimentos, reinícios felizes, acordares esperançosos ... mas que o não é ... nunca o é !...
E nem sequer aquele sono abençoado, do urso pardo ( lá nas florestas da Noruega das minhas memórias ), desgraçadamente desce até mim, desgraçadamente me dá cólo, me embala, me canta canções entorpecentes, de ninar, para que eu pudesse dormir ...
... simplesmente para que eu repousasse o meu cansaço acumulado ... de vidas, com Novembros perenemente instalados !!!...
Anamar
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