quarta-feira, 28 de agosto de 2019

" QUANDO OS SINOS DOBRAM ... "





Estive na Amazónia em 2015.  Sonho antigo, acalentado até que foi possível.  Certo é que não poderia morrer sem o realizar.

Neste momento, pelas piores razões do mundo, a Amazónia está na ordem do dia.  E pelas piores razões do mundo, na Amazónia está a viver-se o que não poderia viver-se ...
O Homem, sempre o Homem, o maior inimigo de si próprio, está cego, surdo e mudo !
Sobre a Amazónia e todo o pesadelo que a envolve, já tudo se disse ... ou quase tudo se terá dito.  Qualquer coisa mais, será claramente redundante.

É a mais extensa floresta tropical do mundo.  Com 5500000 quilómetros quadrados, abrange vários países, entre eles o Brasil, o Peru, a Colômbia, Venezuela, Equador, Paraguai e Bolívia, sendo que o Brasil detém 60 % dessa área.
É um dossel impenetrável de árvores, onde 30 % das espécies mundiais ( aves, mamíferos e plantas ) vivem, na bacia do maior rio que a atravessa : o Amazonas, com uma extensão de 6400 Km, o que o torna o segundo mais extenso do planeta.
A floresta com 400 mil milhões de árvores capta 86 mil milhões de toneladas de carbono por fotossíntese, libertando 20% do oxigénio de todo o mundo, razão por que esta floresta é obviamente considerada o pulmão da Humanidade.  Todo o desequilíbrio provocado neste sistema ecológico, afectará consequentemente todos os climas da Terra, alterando-os irremediavelmente.
Neste momento, como sabemos, todas as agressões que estão a ser feitas à mata, com os incêndios provocados por queimadas intencionais e criminosas em favor dos madeireiros, desflorestando áreas de dimensão absurda, bem como do avanço vertiginoso da agro-pecuária e da exploração de minério,  factos que ocorrem sob a protecção das autoridades competentes, com a omissão, demissão e conivência do governo corrupto de Bolsonaro, serão já responsáveis pelo disparo notório do já bem identificado aquecimento global de todo o planeta, com todas as consequências inerentes gravíssimas.
Só no passado ano, foi desflorestada uma área superior à área de mais de 100 mil campos de futebol.

A denúncia é feita internacionalmente, inclusive, apelando-se à sensibilização do Mundo para esta catástrofe e calamidade que afecta todos os habitantes da Terra.
A denúncia é feita ... mas está contabilizado também aí, o maior número de assassinatos de jornalistas e activistas ambientais, do que em qualquer outro lugar.
Os madeireiros são hostis e perigosos. Para eles, não existe lei.  As armas e o seu uso indiscriminado foram bandeira da campanha que elegeu Bolsonaro, e como tal, não é só a Natureza que corre e sofre riscos, mas também quem se atreva a impedir a actuação discricionária do avanço dos madeireiros, face ao lucro obtido pelo desmatamento selvagem.

Junto ao Amazonas e também nas margens  dos seus afluentes, Rio Negro, Tarumã, Solimões, Xingu ... vivem povos indígenas.  São etnias milenares, são índios de muitas tribos diversas, que vivem da terra, da mata e dos rios.
São povos recolectores que subsistem dos frutos e vegetais que a floresta dá, da caça dos animais selvagens, e dos peixes que habitam as águas fluviais.
São povos totalmente desprotegidos, sujeitos à impunidade dos agressores que não dão qualquer valor à vida, num país sem rei nem roque, e em que apenas as leis dos mais fortes e das classes privilegiadas, têm poder.
Assiste-se neste momento ao seu pedido veemente junto das instâncias internacionais, na tentativa de salvarem as suas aldeias, as suas vidas e as suas terras ancestrais.
" A terra é a nossa vida  ... Mataram o rio, mataram as nossas fontes de vida e agora puseram fogo na nossa reserva” - a descrição é de uma mulher indígena ...


Bom ... mas tudo isto, como disse, são redundâncias sobre tudo o que se tem dito, o que toda a gente sabe, e o que se encontra estatística e cientificamente, em qualquer fonte informativa, hoje ao dispor e ao alcance fácil de cada um de nós.
Eu quero sim, dizer-vos ... contar-vos o que foi pra mim a Amazónia, no curto período em que a visitei. Porque ela me representa muito mais e mais além, do que o que aqui debitei.
Ela, que em 2009 foi considerada justamente, a maior das Novas Sete Maravilhas da Natureza, pela Fundação New 7 Wonders ...

A Amazónia é um desparrame de emoções e de sentires. Ela respira, pulsa ... ela cheira, ela soa, mesmo no silêncio da mata ... mesmo quando os únicos ruídos são os trinados de toda a profusão de aves e de insectos que a povoam.  E começam a escutar-se, mal a madrugada anuncia um novo dia.
São verdadeiros concertos celestiais que nos transportam a outra dimensão, na paz que se respira ...

A Amazónia não se vê, não se visita, não se descreve.  A Amazónia "sente-se", simplesmente ...

Queria falar-vos dos nasceres de sol no Rio Tarumã, quando a alvorada não tem cores que a definam.  Do lilás ao laranja, do prateado ao verde da selva projectada nas águas, como se fossem um lago adormecido ...
Queria falar-vos do "encontro das águas", onde os Rios Negro e Solimões se tocam, mas nunca se misturam ...
E das casas dos caboclos, nas margens...  Da simplicidade das suas vidas ...
Queria contar-vos do êxtase sentido, quando os bandos de aves cruzam os céus, ou se dependuram das ramagens, feitas adornos esquecidos em árvore de Natal, e o colorido da sua biodiversidade nos aquece a alma ... quando deixamos voar com eles, o sonho, livre e liberto ...

As águas sobem, as águas descem, ao ritmo das estações ... mas sempre é lindo e idílico, o cenário que nos rodeia ...
As ramagens, em espreguiçamento lascivo, mergulham luxuriantes na correnteza ; os cheiros adocicados do trópico por vizinho, inunda-nos as narinas e os sons da mata ou do manguezal ( gritos estridentes, cacarejos desgarrados, trinados a descompasso ) ecoam no silêncio quente e húmido da floresta.
O silêncio ... um silêncio que não se descreve.  Só se sente.  Entranha-se-nos na pele e afaga-nos o coração...
Esquecem-se as vozes humanas, esquece-se o movimento de gentes.  Há apenas sensações inundantes, emoções incontidas e uma esmagadora mensagem de paz, harmonia, bem estar, equilíbrio, plenitude ... um forte sentimento de miscigenação e entrosamento quase irreal, com aquela natureza primária, pujante, com aquele santuário em comunhão com a nossa alma ...
Então, o olhar percorre adormentado, a imensidão exuberante ... E esse olhar ficar-nos-à  para todo o sempre !

"Quando o uirapuru canta, a floresta silencia, como se toda a natureza parasse.  É a hora de fazer um pedido, porque se realizará, se o virmos e ouvirmos cantar " diz uma lenda indígena sobre esta pequena e esquiva ave da Amazónia, multicor, considerada o pássaro sagrado da selva.

Esta, foi a Amazónia que eu vi, que eu senti ... que eu vivi !...







O mundo precisa da Amazónia ... mas HOJE, a Amazónia precisa do mundo... não esqueçamos !!!



















































































































Anamar

sábado, 24 de agosto de 2019

" FELIZ "





Cheguei da caminhada há pouco.  Uma e meia - três, hora bem suada,  , porque "caminhada suada ... é caminhada redobrada ! "... 😂😂😂
Julgava eu que ia caminhar à bolina, ou seja com a brisa prometedora a dar-me de frente, o que tornaria a dita, um pouco menos penosa ... Nem tanto. A temperatura está suficientemente elevada para quase não deixar sentir a brisa que corre !

Como previsível, hoje, na mata não encontrei vivalma.  Vivalma ?... Minto.  Encontrei um gato, ou melhor, encontrei "o" gato ... Ou gata, não sei bem.
Incrível como sendo a terceira vez que ele me sai ao caminho, e no maior despudor e confiança aceita as festas na barriga que me vira, a pedi-las, eu ainda não consciencializei a "documentação" da criatura ... 😂😂 Sou mesmo distraída !
Tem tudo para ser um gato vadio. Aparece-me sempre na zona mais improvável da mata.  Longe das casas, onde, aí sim, há gatos selvagens alimentados por moradores de quem vive paredes meias.  Não tem coleira, e parece fazer a vida por ali mesmo.
O ar tranquilo, pacífico, bonacheirão com que dorme em paz nas sombras das árvores, nos caminhos sombreados ou no meio da erva rasteira, denota uma personalidade totalmente amistosa.
Como não sei se é gato ou gata, passarei a chamá-lo de "Feliz" ... É um adjectivo uniforme, que não distingue género, e feliz  seria  eu,  se  gato fosse  e  tivesse  aquela  mata  como "quintal ", e a liberdade como presente !...

Claro ... se gato fosse, porque ainda que eu olhe os recantos convidativos, aliciantes, escondidos, isolados, onde a erva parece macia, as plantas crescem a esmo, as árvores se multiplicam  na sombra que generosamente nos disponibilizam ... como humana que sou, não estaria certamente confortável sem uma mantinha por baixo ...  E as formigas, meu Deus, as formigas !... E as abelhas, os besouros e as vespas que volteiam ... já sem falar das moscas, varejeiras ou não ... 😃😃😃
O Homem é mesmo um ser muito complicado !!!

Quanto mais conheço os Homens, mais adoro a Natureza ... sem eles ... 😉😉😉
Tornei-me absolutamente ecologista.  Neste momento, o meu respeito é total por todas as espécies.  Herdei um pouco esta aprendizagem, da minha filha mais nova.  Desde sempre, o raio da rapariga tinha umas coisas que na altura eu atribuía a alguma insanidade.
Era ela que com sete, oito anos, nas férias no campo, já colocava os grilos que os amiguinhos apanhavam, numa caixa de fósforos, com um pirilampo por companhia.  Dizia que era para dar luz ao grilo ... 😊😊
Certo dia apareceu-me com um pequeníssimo embrulho de presente.  Dentro da caixinha encontrava-se uma ninhada de ratos, recém nascidos, pelados e cegos ainda, bem acomodados em cama de algodão fofo.  Achava que dessa forma, poderia garantir-lhes um futuro promissor !...
Inevitavelmente foi recambiada à procedência, ela e a ninhada, óbvio !!
Moscas em casa, não havia ordem de se matarem.  Com um saco de plástico apanhava-as e soltava-as na janela ...
Carreiros de formigas ... um crime, se pisados !!!
Enfim, eu achava aquilo tudo um pouco destrambelhado ...

Esta minha filha, que é, digamos um pouco "arisca" para mim,  isto para não adjectivar mais profusamente a coisa  ( Em público, não ficaria lá muito bem, mas quem me ler, poderá sempre fazê-lo, porque não errará seguramente muito ! ... 😄😄 ), continua acérrima defensora e respeitadora da Natureza, das plantas aos bichos, do mar ao sol, e felizmente educa a filha, agora com dois anos, da mesma forma.  É uma ternura ver a Teresa  fazer festas às flores, sem nunca as arrancar !...

Pois eu, neste momento também apanho as moscas e outros voadores que se atrevam, e solto na janela.  E não faço o mesmo aos mosquitos, porque convenhamos ... magrinhos como são, não teriam por certo nenhum futuro depois do salvamento !!!  😄😄😄
Afinal todos eles dividem connosco, este planeta que se está a acabar !!!

Bom ... este meu post hoje, meio humorístico, meio sério ... é pelo menos, feliz.  Porque feliz é o sentimento que me invade, depois do feliz encontro com a doçura do meu amigo "Feliz" !!!

Os animais, em qualquer circunstância, e sem sombra de dúvida, são sempre melhores que o Homem!!!...

Anamar

domingo, 18 de agosto de 2019

" TENHO PRESSA !... "





Agosto já dobrou o meio.  Setembro espreita, com o reinício da vida habitual.  É a época das ruas se voltarem a encher com a miudagem a caminho das aulas, é altura das estradas se voltarem a encher de trânsito em horas de ponta, porque o grande regresso já foi, e a normalidade das vidinhas de sempre, é retomada.

Entretanto o tempo atmosférico tem sido muito pouco generoso neste Verão descalibrado e meio louco.  Dias pardacentos com calor doentio, névoas e neblinas dissuasoras da orla marítima para quem aprecia as águas que eu considero sempre geladas, vento e mais vento, chuvas súbitas depois de um dia solarengo, várias estações no mesmo dia ... Tudo à molhada, sem se perceber muito bem afinal, em que época do ano estamos ...
Hoje o dia está coberto de nuvens que a meteorologia chama tecnicamente de "quebrados", sem que eu perceba muito bem o que isto quer dizer.  Aqui e ali, há rasgões por onde espreita um azul de céu limpo por detrás, e está modorrento.  Quando digo modorrento refiro um tempo "amachornado" dizia a minha mãe ( adulterando o vocábulo "amadornado" ... esse sim, existe no léxico português ), mas que significa, meio "trovoado" ... outra expressão de um amigo meu ... Abafado, sonolento, parado ... Está assim a Natureza.
As pessoas dizem ... "parece que vem lá trovoada, o que era bom, para limpar" ...

Limpar, precisava eu o resto dos miolos que me sobram ...
Constato que não demora é Natal, e ainda ontem o foi !
Constato que como nunca, o tempo se esfuma e se esgueira por entre os nossos dedos, sem que consigamos agarrar sequer, um minuto da sua corrida.  Impressiono-me, particularmente este ano ( mas parece que de ano para ano piora ), com a celeridade com que estamos a chegar ao nono mês de 2019 ...
E angustio-me.  Parece que quero fazer tudo a correr, parece que quero viver tudo a correr, parece que quero alcançar vivências da forma  mais plena e gratificante possível, do futuro que me está destinado.
Tenho consciência absoluta da precariedade da vida do ser humano, e mais ainda da fatia com qualidade, que a mesma me possa ainda dispensar.
O que nos rodeia impõe-nos pensar nisso mesmo.  O que vemos à nossa volta, no círculo de amigos e conhecidos, na terra em que vivemos, no mundo que pisamos ... leva-nos a ter pressa, aquela pressa que sinto dentro de mim e que me sussurra ao ouvido, que distrair-me não posso, dar-me ao luxo de desperdícios também não ... alienar sonhos, por simples que sejam ... menos ainda !
É urgente viver, aqui e agora, este e todos os momentos ... antes que acabem ...
Lembro aquele menino, frente a um gelado tamanho XL, que saboreia com pressa e sofreguidão ... porque ele está ali, a derreter à sua frente ! ...

Em Novembro irei passar o meu aniversário fora de Portugal.  Lá longe, distante de premências, angústias, aquelas realidades do dia a dia, nem sempre felizes, que nos derrubam por aqui ...
E ... "longe da vista ... "  o resto, já sabem...
E já faço olhinhos, não muito tempo depois, a outro destino que adivinho carismático, sonhador e certamente marcante e indelével : uma viagem à Lapónia, em busca da terra do Pai Natal.
E antes que se acabe ... porque qualquer dia, com as alterações climáticas absurdas e agressivas a que o planeta está sujeito ... não mais teremos as estepes geladas do Ártico, as coníferas em floresta cerrada, os musgos e os líquenes, os passeios de trenó puxados pelos huskies  e pelas renas, as bebidas quentes e confortantes nos paradores, e com sorte, o céu aceso pelas seguramente inesquecíveis auroras boreais !...

Desejo ter saúde e sorte para cumprir estes desideratos.  Como sabem, eu sou um espírito inquieto.  Sonhos não me faltam.  Sempre estou, e não estou por aqui ... Espiritual  e mentalmente, não tenho parança !
Afinal, tanto mundo p'ra conhecer, com tão pouco tempo para o fazer !...
Tenho pressa !...




Anamar

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

" É ASSIM ... "





Tanto tenho p'ra dizer e não o sei ...
Na garganta sufoca-me a palavra,
e como o lavrador que a terra lavra,
em cada semente perco a esperança que cansei ...

Como um beijo prometido, que não dei
Como um amor que no peito se afogou,
Como chama de uma vela que apagou,
Como promessa duma vida que esperei,

assim sou eu, nesta curva do destino ...
não se solta a palavra do meu peito ...
Mas o corpo desenhado no meu leito,
lembra o calor que deixaste ... em desatino !

E à deriva, como folha na corrente,
peregrina numa estrada sem ter fim,
guardo os restos de um amor que foi ausente,
e que foi o que de ti, sobrou p'ra mim !...

Anamar

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

" HOJE ESCOLHI FALAR DE SOLIDÃO "



As pessoas queixam-se de solidão.
Entendo que solidão não é propriamente aquele sentimento que advém de estarmos sozinhos, sem ninguém por perto.  Até porque muitas vezes, nós somos mesmo os melhores companheiros de nós próprios . Nós escolhemo-nos, e não é uma situação de desespero de causa.

Para mim, solidão não é sequer não ter interlocutor, até porque ao longo do dia mantemos conversas de circunstância com milhentas pessoas mais ou menos conhecidas, que connosco se cruzam, sejam conversas acidentais, sejam um pouco mais sérias.  Mas só !
Sei que vivemos em "colmeias", como já aqui lhes chamei, em que de uma célula habitacional para outra, ninguém sabe nada de ninguém.  Ou, sabe o estritamente indispensável.  As pessoas conhecem-se, às vezes há 40 anos ou mais, mas ... não se conhecem, de facto !  É assim !...

Nos meios pequenos há uma proximidade aparente entre os conterrâneos.  Aparente e apenas na base do "diz que diz", da coscuvilhice, das "novidades" com que as gentes têm que ocupar, afinal, os seus tempos.  Isso parece "colmatar" a solidão ... mas só parece !

Também sabemos que podemos estar rodeados de muita gente, e absolutamente sós.  Não obrigatoriamente em solidão !
Sós, porque não empatizamos, sós porque não conhecemos, sós porque não gostamos daquela situação pontual que estamos a viver.  Sós, por opção ou escolha assumida.  Não em solidão !

E sós numa relação ... quantas e quantas vezes ?! Também existe ... e tanto ! Porque as pessoas passaram a desconhecer-se, porque as pessoas viraram já as costas ... sós, porque o projecto que era dos dois, deixou de o ser !  E essa situação é de doer mesmo !  Vidas aparentemente comuns, vidas que se desenrolam lado a lado ... apenas !
Há presenças, num caldo de uma assustadora ausência ... chamo-lhe, de "vida" !...

Depois há os amigos, uns mais próximos que outros.  Alguns que vêm lá de trás, do tempo da inocência e da ingenuidade, em que, sem conhecermos ainda as hipocrisias sociais, tudo se contava, tudo se falava, tudo se cumpliciava, tudo se dividia, sem temores.
Ainda não existiam os medos da censura, dos julgamentos, da não aceitação, das "punições" implacáveis da sociedade que viríamos inevitavelmente a conhecer mais tarde, e que sempre está pronta a estender um dedo acusatório.
Mas muitos, perdemos pelo caminho.  A vida quase sempre se encarregou de disseminar as pessoas por aí, nas suas próprias realidades, e o afastamento acaba por impor-se.

E se os amigos nós escolhemos, que dizer da família, que nos calhou na "rifa" ???
A família vai-se perdendo também. Força das circunstâncias.  Hoje vão uns, amanhã vão outros, e vão ficando apenas as recordações de outros tempos e de outras vivências, que o foram em comum.
Os nossos, aqueles de sangue, bem nossos mesmo, também nas suas vidas, e àparte serem já de outras gerações distanciadas da nossa, não têm tempo, paciência ou mesmo compreensão para as nossas coisas, para a nossa linguagem, para a nossa forma de entendimento.  A realidade virou, num curto espaço temporal, de cento e oitenta graus, e pouco do "de ontem" consegue encaixar-se no "de hoje" !

Em suma, há múltiplas formas de as pessoas se sentirem sós ... Repito ... do meu ponto de vista, não obrigatoriamente  em solidão !

Então afinal, o que entendo eu como solidão ?  Para mim, solidão é bem outra coisa.

Entendo sentir-me efectivamente em solidão, não quando não me restam alternativas que não seja, por exemplo ficar no silêncio do meu quarto.  Isso, pode simplesmente ser uma escolha pessoal.  Pode ser-me absolutamente necessário, por reequilibrante e desejado.
Solidão não significa não ter encontrado quem queira acompanhar-me ao cinema, por exemplo.  Isso é meramente um acidente de percurso, sem nenhuma importância.

Solidão é não encontrar linguagens comuns, sentires que identificamos como próximos, entendimentos desarmados, sem baias, restrições ou cautelas ...
É não encontrar corações abertos e disponíveis, a quem possamos escancarar as nossas maiores "misérias", sem medos ou pudores, sabendo que ali está um porto de abrigo, uma escora, um suporte, um amparo. É não encontrar alguém que saiba ler dentro de nós !
É não encontrar quem nunca, seguramente, nos deixará cair ...  que não julga, não crucifica, não faz juízos de valor negativos e destruidores ...
O que não significa  que precise de manifestar concordância incondicional connosco, e que não tenha capacidade e frontalidade  mesmo, de discordar severamente deste ou daquele ponto.  Isso será salutar, amigo, fraterno ... isso será afecto, carinho e amor !

Penso que terei sido clara.  Tudo isto, para mim ... sim ... é que é SOLIDÃO !...

Anamar

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

" NADA OU TUDO ... "




Admiro as pessoas que têm sempre do que falar, que têm sempre uma história p'ra contar ... uma novidade, um acontecimento, uma memória ... e até mesmo uma invenção !...😁😁
Aliás, há vidas carregadas de emoção, muita adrenalina, muitos altos e baixos, muita coisa a correr bem, muita coisa a correr mal ... enfim ... ricas em criatividade, fazem de um nada um tudo, que apreciamos ler ...

Acho que padeço exactamente da ausência dessa criatividade, mas duma criatividade de valer a pena ... Esmifro-me para arranjar a ponta dum pintelho sobre que falar. Remexo os miolos, meto no shaker, agito e ... a maior parte das vezes ... nada !
Tenho que concluir que vivo uma sensaboria duma vida, de um cinzentismo atroz !
Nada p'ra rir, nada que valha a pena ... mas também, felizmente ( a verdade deve dizer-se ), também nada para chorar, o que seria bem pior !...
O que é um facto, é que estou para aqui  a encher chouriços sem qualquer préstimo ...
Mas pensando melhor, a minha vida é na verdade uma caixa de Pandora que não pode, não deve ser aberta ... O que seria narrável, não pode ser narrado !  E talvez desse p'ra um bom romance ! 😃😃
Mas não arrisco, como a Pandora fez ... já chega de desgraças neste mundo !...

Bom ... mas amanhã a minha gente aniversaria.  Mãe e filho no mesmo dia.   Uma semana depois, é a vez  do benjamim daquela equipa ...
Sempre o referencio.  Nunca me passa em brancas nuvens. 
Este ano, o António faz um aniversário muito particular, e presumo que importante para ele.  Aquele menino que ainda ontem tinha fraldas, dançava quando os discos infantis lhe eram tocados, e que hoje, mais que penugem já tem barba na cara, fará 18 anos !
Além de o parabenizar como habitualmente, escrevi-lhe este ano, pela primeira vez, uma cartinha, por correio e tudo, como manda a tradição, onde lhe ponho o coração de avó, desnudo, deixando-o falar livremente.
Reiterei-lhe  tudo aquilo que entendi como importante, neste dealbar da adultícia.
Nem sempre, porque a vida é corrida demais, temos ocasião de soltar os nossos sentimentos, mesmo com os nossos mais chegados ... Outras vezes temos mesmo um certo acanhamento, por poder ser tomado como alguma pieguice.
Mas convém que não se percam nunca, as oportunidades de aconselhar, lembrar, disponibilizar, reconfirmar e garantir sempre o nosso afecto incondicional, o nosso apoio, a nossa presença ... o nosso colo, ainda ... Porquê não ?!...

A mãe, é a minha filha mais velha, que completa 46 anos.  Também ela era ontem ainda, uma menina de bibe e ganchinhos no cabelo, depois uma estudante responsável, uma excelente aluna, posteriormente uma mãe de uma família de três miúdos, com dotes inimagináveis, quando ainda era adolescente ... e finalmente hoje, uma profissional de mão cheia ( claro que poderei ser suspeita ao afirmá-lo ), reconhecida pelos seus superiores hierárquicos, numa profissão que não se deseja a ninguém.
Neste momento mesmo, toda a família goza férias no sul, e ela sem as ter, trabalha até altas horas todas as noites, sozinha em Lisboa.  E está, inclusivamente, com alguns problemas de saúde ...
O sentido da responsabilidade, da justiça e de serviço, não permitem que uma pessoa idónea possa descurar ou aligeirar a seriedade com que se trata a Vida !!! Não permitem pactuar com facilitismos ou menor exigência !!!  E ela, sabe disso ...

Para eles, vão indirectamente também por aqui, os meus votos mais sinceros de que toda a felicidade deste mundo possa abençoá-los !
Como mãe e avó, só posso reafirmar o meu orgulho por o ser, e desejar que o futuro os premeie de acordo com os seus merecimentos !...

E pronto ... o meu post hoje, deu nisto !...

Anamar

" NUNCA É TARDE ... "



Este meu espaço, além de conter os meus desabafos, as minhas opiniões, a minha forma de ver a vida, que sempre partilho com quem me lê, também tem interesses culturais, de entretenimento, e de divulgação, quando o que posto vale realmente a pena.  Já o afirmei vezes sem conta.

Pedro Barroso dispensa apresentações.  Homem simples, homem comum, eu diria ... de Riachos, meu colega de profissão, sempre se afirmou pela sensibilidade denotada na sua poesia, e bem assim pelas suas preocupações de carácter social, que quase sempre ela aborda.
De alguma forma, ele representa a simplicidade da voz do povo, nos seus versos.

Porque desde sempre o apreciei, porque admiro a sua voz e mais ainda e sempre, repito, pelos seus poemas, acho que este vídeo tem todo o cabimento neste meu espaço.
É um "diseur" por excelência e um comunicador insofismável !  O tema abordado neste poema é incontornável e penso que todos nós, ao escutá-lo, se irão "tocar" no coração e na alma !
É um poema de coragem, um poema de verdade, um poema de esperança ... um poema de ternura !...

Espero por isso que o apreciem devidamente .





Anamar