domingo, 5 de setembro de 2010

"MAIS ....OU MENOS....UM SÁBADO !"

Ontem fui ao cinema com uma amiga, que não encontrara ainda depois de férias.
Uma amiga daquelas que não são amigas, são irmãs ; faz parte do "baralho" das quatro que eu acho que muito mais que o epíteto de amigas, deveriam tê-lo de irmãs, de facto....irmãs de sangue, mesmo.

A nossa amizade remonta há mais de trinta anos, quando as nossas filhas ainda vestiam casaquinhos de Inverno azuis, quando eu, por necessidade tirei a carta de condução (porque a Escola de Alenquer, onde nos conhecemos, nos esperava diariamente).
Da nossa amizade, passou-se à amizade do "clã", dos maridos, dos filhos que foram crescendo em simultâneo, tendo as primeiras espinhas na cara ao mesmo tempo, os primeiro namorados também...
Muitas férias fizemos juntos, no Algarve, em casas alugadas em partilha, idas a Elvas, à matança do porco, e uns dias em Madrid também, para arejarmos, rirmos, brincarmos.
Acho que era um tempo mais ou menos "leve", mais ou menos despreocupado...hoje parece-me ter sido OUTRA vida.
A criançada ainda não dava muito que fazer, e éramos, realmente, cada vez mais cúmplices, e eram longas as caminhadas nos areais à beira-mar, nos "Três Irmãos", em Porto Covo, na "Luz", no "Alvor", onde eu fazia dela, o "padre" onde nunca fui ; e já então, objectiva, pragmática, de cabeça arrumada, ela me ajudava na clarificação de tanta coisa...

Depois, o destino foi carrasco, absolutamente carrasco.
O Zé "partiu"...sem avisar, num Fevereiro ensolarado, em vésperas de irmos de novo, os quatro, rumo a Espanha, numa fugazinha de fim de semana e férias de Carnaval.
Partiu e deixou-nos todos "órfãos"...não só a família...e tudo passou a ter outra "cara"....
Naquela casa, passou a faltar alguma coisa ; naquela casa, parte da "alma" desapareceu. Era duro, era violento frequentá-la, frequentar um sítio de tantas passagens de ano, de tantos aniversários, de tanta risada, de tanta comunhão...era duro!

Entretanto eu divorciei-me, os filhos cresceram e fizeram-se à vida, em caminhos não propriamente entrelaçados, espantosamente diversificados. Esses filhos já têm outros filhos, que não conhecem sequer os rostos uns dos outros!!!....

Ainda ontem, depois do cinema, entre duas tostas, umas bebidas a servir de jantar, e conversa que nunca se esgota, nós dizíamos : " Como a vida dá voltas sobre voltas, impensáveis, num lapso de tempo, que é infinitésimo afinal, comparado ao tempo universal!!
Se nos dissessem, se nos contassem lá atrás, se nos tivessem deixado espreitar por uma janelinha, que tudo isto, que tanta coisa, faria parte das nossas vidas...se calhar iríamos duvidar...."

E quando nos separámos, desejando sempre o próximo encontro (porque este sempre fica incompleto), no ar pairava uma nostalgia de qualquer coisa que não se explica, uma espécie de saudade de algo indefinido que ficou lá atrás...saudade, se calhar, daquilo que fomos, saudades da Vida...

Entretanto o filme que vimos, levezinho, ternurento, daqueles filmes que não nos acrescentam nada...apenas nos dispõem bem, não nos gastam os "neurónios" ainda saudáveis, são "cor de rosa" (como se a vida o fosse)....têm um "happy end", como conviria....

"Cartas para Julieta"...o amor reencontrado cinquenta anos depois....
Vanessa Redgrave, uma senhora distinta, como sempre...um amor guardado no coração e na alma (utopicamente, quase nos fazendo acreditar poder acontecer nos tempos que correm), e paisagens lindas duma Itália verde, de uma Verona, Siena, Livorno, absolutamente envolventes....e mais um sábado....ou menos um sábado na minha vida!!...

Anamar

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